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Partes, Marcelo Valença


A roupa cheira no varal
Solta no ar um jasmim amarelo
Resquício do aroma singelo
Da tua nota essencial

Deito-me de frente e de lado
No lado bom da cama
Aquele que, quando se ama
Se deixa aquecido e reservado

Salpico dois amores na parede
De rubra intensa tinta
Mas pode ser que eu minta
Se de um amor tenho sede

Não existe remédio genérico
Nem receita milagrosa
À tua presença afetuosa
Nas frestas do meu ser hermético

Crimes cometidos sem maldade
Reviram-se culpa e desculpa
Ao réu o castigo não se poupa:
Paga seus delitos em saudade

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