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Mostrando postagens com o rótulo eleição

A Terceira Metade, Gustavo H.B. Franco

O mundo não vai acabar amanhã, conforme pensam as duas metades do Brasil mobilizadas pela disputa em caso de derrota. Como uma delas necessariamente vai perder, o mau humor de muita gente será compreensível. A taxa de grosseria, que já estava alta, vai crescer mais ainda. Respire fundo e, por favor, seja moderado(a) ao festejar e, sobretudo, ao engolir o choro. O perdedor deve perder em paz, pois o esporte não ganha nada com a catimba, e sobretudo porque a vida segue na segunda-feira: o botequim vai ter de abrir, assim como o Parlamento. Todo mundo vai sair para trabalhar já pensando no futuro, e a fila vai andar. Aliás, esse é o ponto essencial: o processo termina hoje, o vencedor levanta a taça, não é preciso aplaudir, nem apoiar. Tem sempre uma reclamação, um pedido de recontagem, e a torcida perdedora habitualmente desanca o juiz. É feio, mas não é golpe. Só é obrigatório tolerar. Na verdade, a derrota vai ser um grande exercício de tolerância para a metade do Brasil com a cabeça ...

Poerídica: Eleição Amorosa, Rafael Clodomiro

Sou candidato para investidura e provimento no seu coração por meio de um belo sentimento. Ou você me elege com sensatez, ou me deixa de fora de vez. Seu voto é obrigatório Seu afeto é facultativo. Quero saber a sua intenção sem te forçar a ficar comigo. A virtude compõe minha instância superior, pra receber seu voto não preciso ser ilegal. As pesquisas podem não estar ao meu favor entretanto, não ofendo a Justiça eleitoral. Na sua democracia representativa, você é responsável por suas escolhas. Eu sou apenas uma opção intuitiva que pode representar coisas boas. Mas, não sou objeto de propaganda, não tenho slogan, nem faço promessa. Por minha transparência se demanda a essência que de mim se arremessa… Seu futuro é proporcional às suas ações e a vida te oferece dois diferentes cenários, o primeiro e o segundo turno são opções pra confirmar se eu sou, para você, majoritário. Seu título eleitoral te atribui competência,e caso não tomar uma decisão outros tomarão por sua omissão e não há ...

O Que Mais Dói, Patativa do Assaré

  O que mais dói não é sofrer saudade Do amor querido que se encontra ausente Nem a lembrança que o coração sente Dos belos sonhos da primeira idade. Não é também a dura crueldade Do falso amigo, quando engana a gente, Nem os martírios de uma dor latente, Quando a moléstia o nosso corpo invade. O que mais dói e o peito nos oprime, E nos revolta mais que o próprio crime, Não é perder da posição um grau. É ver os votos de um país inteiro, Desde o praciano ao camponês roceiro, Pra eleger um presidente mau. Sobre o dia do Nordestino: Quem criou: Governo de São Paulo Quando? 2009 - ano do centenário de Patativa do Assaré, considerado o maior poeta popular da região. Fonte: Cultura Genial

Uma Crônica de 126 anos

Quando eu cheguei à seção onde tinha de votar, achei três mesários e cinco eleitores. Os eleitores falavam do tempo. Contavam os maiores verões que temos tido; um deles opinava que o verão, em si mesmo não era mau, mas que as febres é que o tornavam detestável. A quanto não ia a amarela? Chegaram mais três eleitores, depois um, depois sete, que, pelo ar, pareciam da mesma casa. Os minutos iam com aquele vagar do costume quando a gente está com pressa. Mais três eleitores. Nove horas e meia. Os conhecidos faziam roda. Uns falavam mal dos gelados, outros tratavam do câmbio. Um velho, ainda maduro, aventou uma boceta de rapé. Foi uma alegria universal. Com que, ainda tomava rapé? No meu tempo, disse o velho sorrindo, era o melhor laço de sociabilidade; agora todos fumam, e o charuto é egoísta.      Nove e três quartos. Trinta e cinco eleitores. Alguns almoçados. Os almoçados interpretavam o regulamento eleitoral diferentemente dos que o não eram. Daí algumas conversações p...

Dia de Eleição, Machado de Assis

                             Quando eu cheguei à seção onde tinha de votar, achei três mesários e cinco eleitores. Os eleitores falavam do tempo. Contavam os maiores verões que temos tido; um deles opinava que o verão, em si mesmo não era mau, mas que as febres é que o tornavam detestável. A quanto não ia a amarela? Chegaram mais três eleitores, depois um, depois sete, que, pelo ar, pareciam da mesma casa. Os minutos iam com aquele vagar do costume quando a gente está com pressa. Mais três eleitores. Nove horas e meia. Os conhecidos faziam roda. Uns falavam mal dos gelados, outros tratavam do câmbio. Um velho, ainda maduro, aventou uma boceta de rapé. Foi uma alegria universal. Com que, ainda tomava rapé? No meu tempo, disse o velho sorrindo, era o melhor laço de sociabilidade; agora todos fumam, e o charuto é egoísta.         Nove e três quartos. Trinta e cinco eleitores. Alguns a...

Vote! artigo de Raquel de Queiroz

     “Não sei se vocês têm meditado como devem no funcionamento do complexo maquinismo político que se chama governo democrático, ou governo do povo. Em política a gente se desabitua de tomar as palavras no seu sentido imediato. No entanto, talvez não exista, mais do que esta expressão nenhuma nas línguas vivas que deva ser tomada no seu sentido mais literal: governo do povo. Porque, numa democracia, o ato de votar representa o ato de fazer o governo.      Pelo voto não se serve a um amigo, não se combate um inimigo, não se presta ato de obediência a um chefe, não se satisfaz uma simpatia. Pelo voto a gente escolhe, de maneira definitiva e irrecorrível, o indivíduo ou grupo de indivíduos que nos vão governar por determinado prazo de tempo.      Escolhem-se pelo voto aqueles que vão modificar as leis velhas e fazer leis novas - e quão profundamente nos interessa essa manufatura de leis! A lei nos pode dar e nos pode...

Quando Acaba a Apuração, Mundim do Vale

Assim que fecha a contagem Tem candidato que diz: - O filho de Zé Luiz Não tá na minha listagem. Como é que teve a coragem De apertar minha mão, Pedir chuteira e calção E o voto não aparece. Só comigo isso acontece QUANDO ACABA A APURAÇÃO. Aquele que se elegeu Bota o som em toda altura Abalando a estrutura Daquele que não venceu. E o infeliz que perdeu Fica na decepção Sofrendo do coração Com cara de estressado. E ainda fica quebrado QUANDO ACABA A APURAÇÃO. O candidato arrasado Um gozador lhe aborda Vai logo falando em corda Em casa de enforcado. O infeliz derrotado Com a listagem na mão Soma seção por seção Pra confirmar o tormento. É esse o pior momento QUANDO ACABA A APURAÇÃO. É o maior carnaval Na casa do vencedor, Na casa do perdedor Uma tristeza total. Chega um cabo eleitoral Com uma conta na mão, De bebida e refeição Consumida pelo povo. E não sobra nem um ovo QUANDO ACABA A APURAÇÃO. Até mesmo o doce lar Que recebia eleitor...