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Mostrando postagens com o rótulo Sérgio Porto

Pedro, O Homem da Flor - crônica de Sérgio Porto

     Se você se enquadra entre aqueles que se dizem boêmios ou, pelo menos, entre aqueles que costumam ir, de vez em quando, a um desses muitos barzinhos elegantes de Copacabana, é provavel que já tenha visto alguma vez Pedro - o homem da flor. Se, ao contrário, você é de dormir cedo, então, não. Então, você nunca viu Pedro - o homem da flor - porque jamais ele circulou de dia e não ser lá, na sua favela do Esqueleto.      Quando anoitece Pedro pega a sua clássica cestinha, enche de flores, cujas hastes teve o cuidado de enrolar em papel prateado, e sai do barraco rumo a Copacabana, onde fica até alta madrugad, entrando nos bares, porque Pedro conhece todos - vendendo rosas. Quando a cesta fica vazia, Pedro conta a féria e vai comer qualquer coisa no botequim mais próximo. Depois volta para casa como qualquer funcionário público que tivesse cumprido zelosamente sua tarefa, na repartiçào a que serve.      Conversei uma vez com Pedro - o hom...

Samba do Crioulo Doido, Sérgio Porto

Este é o samba do crioulo doido. A história de um compositor que durante muitos anos obedeceu o regulamento, e só fez samba sobre a história do Brasil. E tome de inconfidência, abolição, proclamação, Chica da Silva, e o coitado do crioulo tendo que aprender tudo isso para o enredo da escola. Até que no ano passado escolheram um tema complicado: a atual conjuntura. Aí o crioulo endoidou de vez, e saiu este samba : Foi em Diamantina onde nasceu j.k. Que a princesa Leopoldina lá resolveu se casar Mas Chica da Silva tinha outros pretendentes E obrigou a princesa a se casar com Tiradentes Laiá, laiá, laiá, o bode que deu vou te contar Joaquim José, que também é da Silva Xavier Queria ser dono do mundo E se elegeu Pedro Segundo Das estradas de Minas, seguiu pra São Paulo E falou com Anchieta O vigário dos índios Aliou-se a dom Pedro E acabou com a falseta Da união deles dois ficou resolvida a questão E foi proclamada a escravidão Assim se conta essa história Que é ...

Memórias de Um Carnaval, Sérgio Porto

     Por que não escreves uma história sobre o carnaval?      Olham , até que não é má ideia! Claro que tomarei cuidado, nada de usar a palavra "fulgor", ou combinar o adjetivo"estonteante"  com o substantivo "alegria". É da máxima importância não dizer que "esta vida é um carnaval".      Assim, evitando o lugar-comum, o assunto já me parece mais digno de ser abordado.      Todos nós temos um carnaval para recordar e todas as revistas têm uma enquete para fazer: Qual o seu carnaval inesquecível?      Ora, direis, ides falar na alegria que adivinháveis  do vosso leito de enfermo. Ides contar a ideia que tínheis de um carnaval imaginado através do relato de adultos. Isso é muito manjado. Quando a revista vem com a pergunta, o perguntado já tem a resposta pronta:      - O meu carnaval inesquecível eu não vivi, mas adivinhei-o, impossibilitado de brincar.     ...

O Hóspede, Sérgio Porto

            Não sou um homem de mudanças. Mudei-me duas vezes apenas, em toda minha vida. No entanto, ou talvez por causa disso, sei bem o que significa para a felicidade de cada um a comunhão do homem com seus bens e costumes, suas manias e hábitos. Assim como uma família não é composta somente de primos e primas, tios e tias, avôs e avós, irmãos e irmãs, adidos e afins, assim também uma casa não é somente seus cômodos e dependências, seu terreno e seus jardins.      Foi um estudante pobre, há alguns anos, que me fez sentir isso. Foi um colega pobre que morava numa pensão pensão do Catete e que um dia, num rasgo de condescendência consigo mesmo, entrou no café e - para inveja dos que tomavam a clássica média com pão e manteiga - berrou para o garçom:          - Chico,me traz um prato de empadas!       Sentou-se à minha mesa e explicou que era dia  de empadas lá na sua ...