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Mostrando postagens com o rótulo Paulo Mendes Campos.

Os Lados, Paulo Mendes Campos

Há um lado bom em mim. O morto não é responsável Nem o rumor de um jasmim. Há um lado mau em mim, Cordial como um costureiro, Tocado de afetações delicadíssimas. Há um lado triste em mim. Em campo de palavra, folha branca. Bois insolúveis, metafóricos, tartamudos, Sois em mim o lado irreal. Há um lado em mim que é mudo. Costumo chegar sobraçando florilégios, Visitando os frades, com saudades do colégio. Um lado vulgar em mim, Dispensando-me incessante de um cortejo. Um lado lírico também: Abelhas desordenadas de meu beijo; Sei usar com delicadez um telefone, Nâo me esqueço de mandar rosas a ninguém. Um animal em mim, Na solidão, cão, No circo, urso estúpido, leão, Em casa, homem, cavalo… Há um lado lógico, certo, irreprimível, vazio Como um discurso, Um lado frágil, verde-úmido. Há um lado comercial em mim, Moeda falsa do que sou perante o mundo. Há um lado em mim que está sempre no bar, Bebendo sem parar. Há um lado em mim que já morreu. Às vezes penso se esse l...

Poema Didático,Paulo Mendes Campos

Não vou sofrer mais sobre as armações metálicas do mundo Como o fiz outrora, quando ainda me perturbava a rosa. Minhas rugas são prantos da véspera, caminhos esquecidos, Minha imaginação apodreceu sobre os lodos do Orco. No alto, à vista de todos, onde sem equilíbrio precipitei-me, Clown de meus próprios fantasmas, sonhei-me, Morto de meu próprio pensamento, destruí-me, Pausa repentina, vocação de mentira, dispersei-me. Quem sofreria agora sobre as armações metálicas do mundo, Como o fiz outrora, espreitando a grande cruz sombria Que se deita sobre a cidade, olhando a ferrovia, a fábrica, E do outro lado da tarde o mundo enigmático dos quintais. Quem, como eu outrora, andaria cheio de uma vontade infeliz, Vazio de naturalidade, entre as ruas poentas do subúrbio E montes cujas vertentes descem infalíveis ao porto de mar? Meu instante agora é uma supressão de saudades. Instante Parado e opaco. Difícil se me vai tornando transpor este rio Que me confundiu outrora. J...