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Mostrando postagens com o rótulo céu

Fluente, poema de Marcelo Valença

Somos feitos de ação E, mais que isso Somos feitos de ascensão Maturamos em água E, quando prontos Somos entregues à luz E ao ar Somos feitos de senso E, mais que isso Somos feitos de descenso Crescemos buscando o céu E, quando o alcançamos Forçamo-nos a descer ao chão E aterrar Somos feitos de mudança E, mais que isso Somos feitos de perseverança Tememos despregarmo-nos do tempo E, quando o fazemos Tememos retornar ao ontem E parar Somos feitos de decisão E, mais do que isso Somos feitos de contradição Explicamos os fatos e a razão Mas, ao compreendermos Deixamos espaço para a ilusão E o medo Somos feitos e pronto Mas, mais do que isso Somos refeitos ponto a ponto Cabemos em nossos sonhos E, ao sonharmos Cabemos livres em toda a terra E em todo céu. Veja mais em in.voluntaria

Astronomia, Nuno Júdice

Vou buscar uma das estrelas que caiu do céu, esta noite. Ficou presa a um ramo de árvore, mas só ela brilha, único fruto luminoso do verão passado. Ponho-a num frasco, para não se oxidar; e vejo-a apagar-se, contra o vidro, à medida que o dia se aproxima, e o mundo desperta da noite. Não se pode guardar uma estrela. O seu lugar é no meio de constelações e nuvens, onde o sonho a protege. Por isso, tirei a estrela do frasco e meti-a no poema, onde voltou a brilhar, no meio de palavras, de versos, de imagens . Nuno Júdice (1949-2024), in "O Breve Sentimento do Eterno" Ilustração de Maoi

Poesia matuta: Jessier Quirino

Lua de Tapioca Jessier Quirino Quando a lua se faz de tapioca Com a goma e o coco a me banhar Sinto meu coração corcovear Por estar no abandono abandonado E sozinho que nem boi de arado Me avermelho que é ver flor de quipá E se algum alegreiro me jogar Tanto assim de alegria, eu arrenego Porque fico que nem olho de cego Que só serve somente pra chorar. É a lua acendendo a lamparina E meu facho de luz a se apagar Com as bochecha chorada a se chorar Taliquá mamão verde catucado Mas porém, sinto meu peito caiado Quando vejo de longe o riso teu Igualmente a um morrido que viveu Peço que teu socorro não demore E que só minha fala te sonore E que dentro de ti só more eu.