Estava acostumada aos homens que tinham medo. Que pediam que ela se despisse, antes de tudo, e esfregasse a pele com sabão em um banheiro de corredor. Que deixasse lá fora os sapatos, escovasse os dentes, as gengivas e não os beijasse na boca. Ela nunca os beijava na boca — e não era por ser puta. É porque talvez nem soubesse direito como era, a dança de línguas e lábios, acendendo com saliva as fornalhas do corpo. Eles diziam: “eu quero me proteger”. Ela gostaria de dizer que isso tudo era uma grande ironia. O que há para proteger em um mundo em que não é possível beijar? ⠀⠀⠀⠀⠀Ainda era possível tocá-la com as mãos em luvas de borracha, entretanto. Ainda era possível bater e apanhar, ganhar uma chupada envolta em plástico, eram tão desacostumados com a pele que duravam um tempo mínimo, quase nada. Quando terminavam, as calças arriadas, corriam logo para o banheiro, desinfetavam o corpo trêmulo em água escaldante, mandavam-na embora com o dinheiro esterilizado em um saco de pa...