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Mostrando postagens com o rótulo Nordeste

6 de Março Data Magna de Pernambuco

  A Revolução Pernambucana, ocorrida em 1817, foi o último movimento separatista do período colonial. Está relacionada com a crise socioeconômica que o Nordeste atravessava há quase um século em razão da desvalorização do comércio do açúcar e do algodão brasileiro no mercado externo. Além disso, a presença da família real portuguesa no Brasil aumentou o custo de vida em virtude da cobrança de impostos, o que causou revolta entre os pernambucanos. Os ideais republicanos também colaboraram para que a revolta acontecesse. O governo local foi tomado pelos revoltosos, mas as tropas fiéis ao governo central conseguiram derrotá-los" Causas da Revolução Pernambucana O Nordeste brasileiro, desde o século XVIII, com a expulsão dos holandeses, atravessou uma grave e longa crise econômica por causa da desvalorização do açúcar produzido na região no mercado europeu. Os holandeses aprenderam enquanto estiveram presentes no Brasil acerca do plantio e da colheita da cana-de-açúcar e levaram esse ...

O Que Mais Dói, Patativa do Assaré

  O que mais dói não é sofrer saudade Do amor querido que se encontra ausente Nem a lembrança que o coração sente Dos belos sonhos da primeira idade. Não é também a dura crueldade Do falso amigo, quando engana a gente, Nem os martírios de uma dor latente, Quando a moléstia o nosso corpo invade. O que mais dói e o peito nos oprime, E nos revolta mais que o próprio crime, Não é perder da posição um grau. É ver os votos de um país inteiro, Desde o praciano ao camponês roceiro, Pra eleger um presidente mau. Sobre o dia do Nordestino: Quem criou: Governo de São Paulo Quando? 2009 - ano do centenário de Patativa do Assaré, considerado o maior poeta popular da região. Fonte: Cultura Genial

Mandacaru, Sim Senhor! Dalinha Catunda

Não dou sombra nem encosto, Mas não vejo defeito em mim. Tenho um verde exuberante. Meu fruto é da cor de carmim. Minha flor esbranquiçada Dignifica qualquer jardim. Dono de uma beleza agreste. No sertão enfeito caminhos. Tenho um caule suculento, Todo bordado de espinhos, Entre pedras broto e cresço Nem com a seca eu definho. Sou um fiel representante Do forte povo nordestino. O verde traduz esperança, Vermelho a grande paixão, De uma gente que tanto adora: Sua terra, seu mundo, seu chão. Os espinhos são as agruras, Do sertanejo tão sofredor. A paz vinda com as chuvas, Represento em minha flor. Ninguém melhor do que eu, O nordestino representou. Fonte: Cordel de Saia Imagem: flor do mandacaru. .

Lápide, Ariano Suassuna

Quando eu morrer, não soltem meu Cavalo nas pedras do meu Pasto incendiado: fustiguem-lhe seu Dorso alardeado, com a Espora de ouro, até matá-lo. Um dos meus filhos deve cavalgá-lo numa Sela de couro esverdeado, que arraste pelo Chão pedroso e pardo chapas de Cobre, sinos e badalos. Assim, com o Raio e o cobre percutido, tropel de cascos, sangue do Castanho, talvez se finja o som de Ouro fundido que, em vão – Sangue insensato e vagabundo — tentei forjar, no meu Cantar estranho,  à tez da minha Fera e ao Sol do Mundo! Imagem: Toda matéria

Encanto, Marcelo Valença

     Umas duas noites atrás choveu. Ainda tem sereno no ar quando o sol começa a nascer e o barro da estrada ainda está razoavelmente assentado. Agora bem cedo seu Ulisses está com as vacas na beira da estrada e os três me parecem contentes. Quando passo ele me acena breve com a cabeça, deixando o sorriso suave durar um pouco mais.       Já a professora Irene me encontrou mais à frente no caminho da escola, como sempre. Ela sorria também e parecia que continuava o sorriso de seu Ulisses. Como se sorrissem no gerúndio.        -Tu pensou na pergunta do consultor?      Ela me perguntou assim bem devagar. E ainda ficou parada como um mandacaru para esperar resposta.      Ora, se pensei! Claro que pensei. Estou pensando ainda agora mesmo e já pensei tanto pensamento que você nem imagina. A Irene é bem intencionada, coitada. Gostou da conversa do consultor e quer sair fazendo da esco...

Mané-Paciência, Olegário Mariano

Mané-Paciência é triste, esquelético e bambo. Barba sem côr, pele rugosa, olhar sem brilho. Se a vida transformou seu corpo num molambo, O infortúnio o adotou como se adota um filho. Pede esmolas, rodando entre as mãos a sacola. O grande chapelão lhe aumenta o ar de inocência. Se alguém dêle sorri quando lhe nega esmola, Mané- Paciência se descobre e diz: paciência... Mas, através daquele corpo, nas encolhas, Vive em sua humildade, uma alma nordestina Que se debruça como uma árvore sem fôlhas Procurando esconder aquela humana ruína. Mané-Paciência é bem  a paisagem nativa, O anônimo infortúnio e a miséria sem nome. Tanto esplendor no céu de uma chama tão via E debaixo do céu tanta gente com fome!

Rapadura, Rachel de Queiroz

     Outro dia foi presa uma senhora porque numa banca de mercado, em pleno sábado de feira, agrediu a rival com uma rapadura, dando-lhe uma tijolada que exigiu doze pontos no couro cabeludo. Rapadura é arma perigosa, um paralelepípedo de doce bruto, pesado e com arestas. Batendo de quina pode até matar.      A banca de rapadura era o local de comércio do próprio marido da agressora. Vinha ela descuidosa, passando ali por acaso, e de repente depara com o quadro ofensivo: o marido em idílio público com a dalila, a messalina, a loba do seu lar! Ela debruçada ao balcão e ele, de dentro, segurava o queixo da sereia e lhe cochichava no ouvido. O monte de rapaduras estava ao lado. Foi só passar a mão na rapadura de cima e virá-la de quina, para castigar mesmo, no pé do ouvido da outra. A agredida se pôs a gritar, com a cara coberta de sangue, e o infiel asperamente ralhou: “Cala a boca, mulher, senão aparece a polícia”.

Chuva de Honestidade, Flávio Leandro.

Hoje a segunda-feira poética traz uma música  que conheci recentemente e que é um retrato do Nordeste. Vejam o vídeo com a letra. Clique na imagem Add a playlist Tamanho A

Nordestinos em São Paulo, Aluízio Falcão.

      Leio uma publicação da ECA/USP com várias reportagens escritas por estudantes de jornalismo. O tema é a saga dos migrantes. Há depoimentos de intelectuais nordestinos residentes em São Paulo, mas principalmente daqueles anônimos viventes de periferia. Comove-me o testemunho de uma senhora que migrou em companhia da filha. Contando a estória, diz essa mãe-coragem que a sua menina, diante da miséria reinante no cafundó natal, assim propôs a retirada: "Mãe, vamos pra São Paulo, vamos lutar na vida". Não me lembro, em prosa brasileira, de registro mais bonito para o verbo lutar.      A onda migratória para os grandes centros tem vários intérpretes: antropólogos, sociólogos, romancistas, e até um vereador chamado Bruno Feder, autor daquele famigerado projeto que simplesmente proibia a entrada de nordestino em São Paulo. Muito já se analisou e escreveu, para o bem e para o mal, sobre os personagens desta humilhante diáspora. Nenhum intérprete do fen...

Calem a Boca Nordestinos, José Barbosa Júnior.

O autor explica que escreveu o texto abaixo, depois que uma jovem fez uma declaração muito infeliz contra os nordestinos no Twitter, onde pedia,raivosa, que os nordestinos (entre outras coisas)  calassem a boca. Vamos à defesa do mineiro José Barbosa Júnior:  Os nordestinos devem ficar quietos! Cale a boca, povo do Nordeste! Que coisas boas vocês têm pra oferecer ao resto do país? Ou vocês pensam que são os bons só porque deram à literatura brasileira nomes como o do alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos José Lins do Rego e Ariano Suassuna, dos pernambucanos João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira, ou então dos cearenses José de Alencar e a maravilhosa Rachel de Queiroz? Só porque o Maranhão nos deu Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur Azevedo, Ferreira Gullar, José Louzeiro e Josué Montello, e o Ceará nos presenteou com José de Alencar e Patativa do Assaré e a Bahia em seus encantos nos deu como herança Jorge Amado, vocês pensam que podem tud...

Feliz Natal, Oxente!!

FELIZ NATAL OXENTE

Hoje é São João

Nesta quarta-feira, abro espaço para a música.  Hoje  é dia de São João, e deixo vocês com Gilberto Gil cantando: Olha Pro Céu Meu Amor Luis Gonzaga e José Fernandes Olha pro céu, meu amor Vê como ele está lindo Olha praquele balão multicor Como no céu vai sumindo Olha pro céu, meu amor Vê como ele está lindo Olha praquele balão multicor Como no céu vai sumindo Foi numa noite igual a esta Que tu me deste o coração O céu estava assim em festa Pois era noite de São João Havia balões no ar Xote, baião no salão E no terreiro o teu olhar Que incendiou meu coração

O Bordado, A Pantera Negra - Raimundo Carrero e Ariano Suassuna.

O Bordado, A Pantera Negra,   Raimundo Carrero           O punhal alumiando. Os olhos faiscando no fundo da moita. A noite - pantera negra - esconde o mato. Simão bugre, cartucheiras cobrindo o dorso, arrasta-se, abrindo caminho, Sente os espinhos enfincando-se no peito. Rasga a pele com a unha fina: o sangue corre.       Enfurecido pela dor, esmagam cacto, Parece uma fera acuada. recebe a pancada do vento no rosto como se fosse um coice.  Agora, a moita está às costas. Não vê as matas se perdendo nos confins, mas tem na mente todos os caminhos e estradas. Perdido entre o silêncio e as trevas está o mundo Santos dos Umãs.      O punhal alumiado parece espelho. A fera pisa com rigidez, sacode a brutalidade dos seus músculos. O tempo caminha em passos apressados para a madrugada. Antes, o trovão geme atrás das nuvens, depois a chuva despenca, saciando a sede da terra.  Simão Bugre apalpa a arm...

Para: Ariano Suassuna, De: Mateus Nachtergaele

"Carta para Ariano, Quem te escreve agora é o Cavalo do teu Grilo. Um dos cavalos do teu Grilo. Aquele que te sente todos os dias, nas ruas, nos bares, nas casas. Toda vez que alguém, homem, mulher, criança ou velho, me acena sorrindo e nos olhos contentes me salva da morte ao me ver Grilo. Esse que te escreve já foi cavalgado por loucos caubóis: Por Jó, cavaleiro sábio que insistia na pergunta primordial. Por Trepliev, infantil édipo de talento transbordante e melancólicas desculpas. Fui domado por cavaleiros de Sheakespeare, de Nelson, de Tchekov. Fui duas vezes cavalgado por Dias Gomes. Adentrei perigosas veredas guiado por Carrière, por Büchner e Yeats. Mas de todos eles, meu favorito foi teu Grilo. O Grilo colocou em mim rédeas de sisal, sem forçar com ferros minha boca cansada. Sentou-se sem cela e estribo, à pelo e sem chicote, no lombo dolorido de mim e nele descansou. Não corria em cavalgada. Buscava sem fim uma paragem de bom pasto, uma várzea verde entre a secura d...

Castelo Armorial

Em São José do Belmonte, a 479 km do Recife, está sendo construido um castelo com elementos baseads no movimento armorial, criação de Ariano Suassuna. A decoração:onças aladas, pássaros exóticos etc são   personagens dos romances A Pedra do Reino e O Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta. O castelo tem o objetivo de enaltecer a cultura nordestina, conforme explica seu dono o comerciante Clécio de Novaes Barros.  Clécio, gastou 10 anos em planejamento e mais 4 para chegar à estrutura com um gasto estimado em R$ 2 milhões. O sonho, levantado com recursos próprios, tem altura de um prédio de 6 andares e área de 1.500 metros quadrados. No castelo do Sr.Clécio pode-se encontrar cópias de quadros feitos por Ariano e Zélia Suassuna, sua mulher. tem também uma cidade cenográfica com réplicas em homenagem a J.Borges mestre em xilogravuras. O castelo possui cópias de quadros confeccionados por Ariano e sua mulher, Zélia Suassuna; cidade cenográfica, com elementos da década ...

Véspera de Fim de Mundo, não perca! a blogueira.

Charge de Jarbas, para o DP 20.12.12      Aproveito o último dia antes da eternidade, para falar abobrinhas.  Talvez não tenha mais oportunidade de dizer o que ninguém me perguntou e isso é triste, muito triste porque eu sou falante. Este blog, foi criado por brincadeira. Eu queria saber como mexer com esse recurso da comunicação virtual. Quando comecei, em 2008, o blog estava atrelado a uma comunidade do,naquela época, maravilhoso mundo do Orkut.       Oh, quanto tempo faz! Sim, o Orkut era uma sensação e eu fazia parte de uma comunidade desta sensação do momento que trocava livros para leituras.  O blog Livro Errante, está, pois quase fazendo 5 anos. A comunidade do Orkut, mudou de nome, passou por outras mudanças benéficas, mas continua com o mesmo objetivo: reunir virtualmente pessoas responsáveis que trocam livros para leitura.      Quando comecei por brincadeira, o blogger não disponibilizava recu...

Sábado cheio de Graça! Salve Graciliano.

                        Hoje Graciliano Ramos faria 120 anos,  quem me conhece sabe do quanto gosto do alagoano fumante inveterado, apreciador de cachaça e chatão. Falar a respeito de Graciliano Ramos?  vou nada! vários jornais e revista fazem isso hoje. Todos com mais capacidade. Não quero me aventurar de expert em literatura e acabar cometendo faltas, enganos absurdos. Aqui no Recife ao velho Graça vão ser dedicadas as próximas segunda e terça-feiras de um seminário na Academia Pernambucana de Letras, público pequeno pela pouca divulgação e pouco movimentar-se da APL em direção ao público.  Fico feliz em saber que no Rio de Janeiro a Flip   deu o ar de  sua graça e dedicou  sua feira ao autor. A Flip de 2013 homenageará Graciliano Ramos. Palmas para Paraty. Três lançamentos marcam os 120 anos de nascimento de Gracilianos Ramos: O Velho Graça (Ed.boitempo) Biografia amplia...

Crônica - cantada:Chegança, Antônio Carlos Nóbrega

Sou Pataxó, sou Xavante e Cariri, Ianonami, sou Tupi Guarani, sou Carajá. Sou Pancararu, Carijó, Tupinajé, Potiguar, sou Caeté, Ful-ni-o, Tupinambá. Depois que os mares dividiram os continentes quis ver terras diferentes. Eu pensei: "vou procurar um mundo novo, lá depois do horizonte, levo a rede balançante pra no sol me espreguiçar". eu atraquei num porto muito seguro, céu azul, paz e ar puro... botei as pernas pro ar. Logo sonhei que estava no paraíso, onde nem era preciso dormir para se sonhar. Mas de repente me acordei com a surpresa: uma esquadra portuguesa veio na praia atracar. De grande-nau, um branco de barba escura, vestindo uma armadura me apontou pra me pegar. E assustado dei um pulo da rede, pressenti a fome, a sede, eu pensei: "vão me acabar". me levantei de borduna já na mão. Ai, senti no coração, o Brasil vai começar.

História de Uma Guariba, Graciliano Ramos

I -               Um domingo destes, contou Alexandre aos amigos, vesti o guarda-peito e o gibão, cobri-me com o chapéu de couro e acendi o cachimbo, pus o ai ó a tiracolo, peguei a espingarda, resolvido a desenferrujá-la, se aparecesse caça graúda. Saí pelo terreiro, dei umas voltas nos arredores, andei, virei, mexi, afinal encontrei numa vereda, subi a ladeira dos preás e, sem encontrar bicho que merecesse uma carga de chumb o e um dedal de pólvora, cheguei à imburana, perto da cerca de ramos. Aí, como o calor apertasse, tirei o aió, o chapéu, o gibão e o guarda peito, estirei-me no chão e passei uma hora de papo pra cima, fumando e pensando nos aperreios deste mundo velho. Sentia-me bem triste,meus amigos, bem desanimado. Eu, homem de família, nascido na grandeza, criado na fartura, tendo o que precisava, do bom e do melhor,estava por baixo, muito por baixo:deitado em garranchos de folhas secas, a cabeça...