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Mostrando postagens com o rótulo Alcântara Machado

Minhas Últimas Leituras e Compras

Acabei de ler meu terceiro Federico Andahazi, um escritor que eu gostaria de conhecer.Dos autores latinos, no momento, é que acho mais interessante. Os outros livros dele que li anteriormente foram: A Cidade dos Hereges e  O Anatomista. Recomendo os três. São livro fortes, prendem o leitor logo nas primeiras páginas. O Livro dos Prazeres Proibidos é um romance intenso ambientado na era medieval e tem como protagonista, Gutenberg. Sim, o inventor da imprensa que aprendemos nas aulas de história. É um excelente retrato da sociedade e cidades europeias daquela época.  Sexo, religião, morte, roubo... brilhantemente colocados num romance imperdível.  Comprei num sebo - adoro sebos - 4 livros fininhos porque há tempos não lia nada com menos de 200 páginas.  As Avós, foi indicação de Ladyce do blog Peregrina Cultural . Vargas Llosa eu escolhi porque fazia tempo não lia nada dele.  Braz Bexiga e Barra funda, eu comprei pra conhecer o livro mais fala...

O Timido José,Alcântara Machado

(José Borba)               do blog: viamasnaoexergava. Estava ali esperando o bonde. O último bonde que ia para a Lapa. A garoa descia brincando no ar. Levantou a gola do paletó, desceu a aba do chapéu, enfiou as mãos nos bolsos das calças. O sujeito ao lado falou: O nevoeiro já tomou conta do Anhangabaú. Começou a bater com os pés no asfalto molhado. Olhou o relógio: dez para as duas. A sensação sem propósito de estar sozinho, sozinho, sem ninguém, é o que o desanimava. Não podia ficar quieto. Precisava fazer qualquer cousa. Pensou numa. Olhou o relógio: sete para as duas. Tarde. A Lapa é longe. De vez em quando ia até o meio dos trilhos para ver se via as luzinhas do bonde. O sujeito ao lado falou: É bem capaz de já ter passado. Medindo os passos foi até o refúgio. Alguém atravessou a praça. Vinha ao encontro dele. Uma mulher. Uma mulher com uma pele no pescoço. Tin...

O filósofo Platão, Alcântara Machado

(Senhor Platão Soares) Fechou a porta da rua. Deu dois passos. E se lembrou de que havia fechado com uma volta só. Voltou. Deu outra volta. Então se lembrou de que havia esquecido a carta de apresentação para o diretor do Serviço Sanitário de São Paulo. Deu uma volta na chave. Nada. É verdade: deu mais uma. - Nhana! Nhana! Nhana! Nhana apareceu sem meias no alto da escada. - Estou vendo tudo. - Ora vá amolar o boi! Que é que você quer? - Na gaveta do criado-mudo tem uma carta. Dentro de um envelope da Câmara dos Deputados. Você me traga por favor. Não. Eu mesmo vou buscar. Prefiro. - Como queira. E foi buscar. Saiu do quarto e parou na sala de jantar. - Ainda tem geléia ai, Nhana? - No armário debaixo de uma folha de papel. - Obrigado. Escolheu cuidadosamente o cálice. Limpou a colherinha no lenço. Nhana ia passando com o ferro de passar. Mas não se conteve. - Platão, Platão, você não vai falar com o homem, Platão? - Calma. Muita calma....

O Lírico Lamartine, conto de Alcântara Machado

      Desembargador. Um metro e setenta e dois centímetros culminando na careca aberta a todos os pensamentos nobres, desinteressados, equinânimes. E o fraque. O fraque austero como convém a um substituto profano de toda. E os óculos.Sim: os óculos. E o anelão de rubi. É verdade: o rutilante anel de rubi. E o todo de balança. Principalmente o todo de balança. O tronco teso, a horizontalidade dos ombros, os braços a prumo. Que é que carrega na mão direita? A pasta. A divina Têmis não se vê. Mas está atrás. Naturalmente. Sustentando sua balança. Sua balança: o Desembargador Lamartine de Campos.      Aí vem ele.      Paletó de pijama sim. Mas  colarinho alto.      - Joaquina, sirva o café.      Por enquanto o sofá da saleta ainda chega para Dona Hortênsia. Mas amanhã? No entanto o desembargador desliza um olhar untuoso sobre os untos da metade. O peso da esposa sem dúvi...

Gaetaninha, Alcântara Machado

 -Xi, Gaetaninho, como é bom!     Gaetaninho ficou banzando bem no meio da rua. O Ford quase o derrubou e ele não viu o Ford. Capa de Gaetaninho - em HQ O carroceiro disse um palavrão e ele não ouviu o palavrão.     - Eh! Gaetaninho! Vem prá dentro.     Grito materno sim: até filho surdo escuta. Virou o rosto tão feio de sardento, viu a mãe e viu o chinelo.     - Subito!     Foi-se chegando devagarinho, devagarinho. Fazendo beicinho. Estudando o terreno. Diante da mãe e do chinelo parou. Balançou o corpo. Recurso de campeão de futebol. Fingiu tomar a direita. Mas deu meia volta instantânea e varou pela esquerda porta adentro.     Êta salame de mestre!     Ali na Rua Oriente a ralé quando muito andava de bonde. De automóvel ou carro só mesmo em dia de enterro. De enterro ou de casamento. Por isso mesmo o sonho de Gaetaninho era de realização muito difícil. Um sonho....