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Mostrando postagens com o rótulo Germinal

Juca Mulato (5) Lamentações

Lamentaç ões 1 "Amor? Receios, desejos, promessas de paraísos, depois sonhos, depois risos, depois beijos! Depois... E depois, amada? Depois dores sem remédio, depois pranto, depois tédio, depois... nada!" 2 "Também como esse bosque eu tive outrora na alma um bosque cerrado de emoções. As palmeiras das minhas ilusões iam levando o fuste espaço afora. Floriam sonhos; era uma pletora de crenças, de desejos, de ambições... Não havia por todos os sertões mais luxuriante e mais violenta flora. Ai! Bosque real, é o tempo das queimadas!... É agosto, é agosto! O fogo arde o que existe em turbilhões sinistros e medonhos. Ai de nós!... Somos almas desgraçadas, pois na luz de um olhar lânguido e triste também ardeu o bosque dos meus sonhos..." 3 "Água cantante, soluçante, esse gemente marulho triste, quantas tristes cismas trás... E fica incerta, ao ouvir-te a voz, a dor da gente, se va...

Juca Mulato (4) : Fascinação

Fascinação   Tudo ama! As estrelas no azul, os insetos na lama, a luz, a treva, o céu, a terra, tudo, num tumultuoso amor, num amor quieto e mudo, tudo ama! tudo ama! Há amor na alucinada fascinação do abismo, amor paradoxal, humano e forte, que se traduz nas febres do sadismo, nessa atração perpétua para o Nada, nessa corrida doida para a Morte. Por isso, quando as lianas em lascívias florais cercam de abraços o tronco hirsuto e grosso, têm, no amplexo mortal, crueldades humanas. Há no erótico ardor de enlaçá-lo, abraçá-lo, a assassina violência de dois braços crispados num pescoço atenazando-o para estrangulá-lo! É que o amor quer a morte. Num momento resume a vida, os loucos entusiasmos dos supremos espasmos... Nesse furor que o invade, tem a volúpia da ferocidade, tem o delírio do aniquilamento! É por isso que vês, por tudo uma luta de morte, um desespero mudo: a insídia da raiz que mina a terra e a esgota, o caule que...

Juca Mulato (3) Alma Alheia

Alma Alheia 1 Que tens, Juca Mulato ? Uma tristeza mansa embaça-lhe o fulgor dos olhos de criança. Ele é outro... Um langor anda a abrasar-lhe a pele. Não sabe definir o que há de novo nele. Fuma e segue pelo ar uma espiral que esvoaça, pensa que seu destino é igual a essa fumaça... "A vida é mesmo assim..." ele cisma tristonho. "Sai do fogo da dor a fumaça do sonho"... Da cocheira, um nitrir, de intervalo a intervalo, vibra no ar... É o pigarço. Esse pobre cavalo anda esquecido e há muito que, sozinho, sente a falta que faz o calor de um carinho. Juca Mulato todo o dia vinha vê-lo... Afagava-lhe o dorso, acamava-lhe o pelo, e ele, baixando, quieto, as pálpebras vermelhas, nitrindo e resfolgando, espetava as orelhas... Juca Mulato, então, numa voz doce e calma, dizia-lhe baixinho o que ele tinha n’alma. Coisa de pouca monta: umas fanfarronadas, uns receios pueris, façanhas de caçadas, desafios na viola em noites de luar; coisas qu...

Juca Mulato (1) Germinal

Germinal 1 Nuvens voam pelo ar como bandos de garças, Artista boêmio, o sol, mescla na cordilheira pinceladas esparsas de ouro fosco. Num mastro, apruma-se a bandeira de São João, desfraldando o seu alvo losango. Juca Mulato cisma. A sonolência vence-o Vem, na tarde que expira e na voz de um curiango, o narcótico do ar parado, esse veneno que há no ventre da treva e na alma do silêncio. Um sorriso ilumina o seu rosto moreno. No piquete relincha um poldro; um galo álacre tatala a asa triunfal, ergue a crista de lacre, clarina a recolher entre varas de cerdos e mexem-se ruivos bois processionais e lerdos e, num magote escuro, a manada se abisma na treva. Anoiteceu. Juca Mulato cisma. 2 Como se sente bem recostado no chão! Ele é como uma pedra, é como a correnteza, uma coisa qualquer dentro da natureza, amalgamada ao mesmo anseio, ao mesmo amplexo, a esse desejo de viver grande e complexo que tudo abarca numa força de co...