Após três meses, afastado do trabalho, por conseqüência de um acidente de carro, fui caminhar um pouco pelo centro da cidade. A clavícula estava calcificada e o corte na face cicatrizava milagrosamente sem deixar marcas. Pensei em retornar à vida boemia, mas não sentia a mesma alegria de antes do acidente. Eram dias de inverno com chuvas frias e persistentes. No primeiro dia de trabalho, usei o intervalo do almoço para dar um passeio na Praça da Sé. Jamais gostei do inverno, sempre fui como um escorpião do deserto. Reconheço que há invernos e invernos: O inverno amigo dos privilegiados que se deliciam do calor à beira de uma lareira, deixando o frio da porta para fora; Há também o inverno dos menos privilegiados, que não têm uma porta para entrar. O frio não era um argumento forte para que a Praça da Sé ficasse deserta. A torre da Catedral alertava para a possível presença do “Corcunda de Notre Dame." À esque...