O canto triste da sariema encompridava a tarde. E porque a tarde ficasse mais comprida a gente sumia dentro dela. E quando o grito da mãe nos alcançava a gente já estava do outro lado do rio. O pai nos chamou pelo berrante. Na volta fomos encostando pelas paredes da casa pé ante pé. Com receio de um carão do pai. Logo a tosse do vô acordou o silêncio da casa. Mas não apanhamos nem. E nem levamos carão nem. A mãe só que falou que eu iria viver leso fazendo só essas coisas. O pai completou; ele precisava de ver outras coisas além de ficar ouvindo o canto dos pássaros. E a mãe disse mais: esse menino vai passar A vida enfiando água em espeto! Foi quase . ( Memórias inventadas : as infâncias de Manoel de Barros, Iluminuras de Martha Barros - São Paulo: Ed.Planeta Brasil,2010)