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Mostrando postagens com o rótulo Martha Barros

Peraltagens, Manoel de Barros

O canto triste da sariema encompridava  a tarde. E porque a tarde ficasse mais comprida a gente sumia dentro dela. E quando o grito da mãe  nos alcançava a gente já estava do outro lado do rio. O pai nos chamou pelo berrante. Na volta fomos encostando pelas paredes da casa pé ante pé. Com receio de um carão do pai. Logo a tosse do vô acordou o silêncio da casa. Mas não apanhamos nem. E nem levamos carão nem. A mãe só que falou que eu iria viver leso fazendo só essas coisas. O pai completou; ele precisava de ver outras coisas além de ficar ouvindo o canto dos pássaros. E a mãe disse mais: esse menino vai passar A vida enfiando água em espeto! Foi quase . ( Memórias inventadas : as infâncias de Manoel de Barros, Iluminuras de Martha Barros - São Paulo: Ed.Planeta Brasil,2010)

Soberania, Manoel de Barros

N aquele dia, no meio do jantar, eu contei que  tentara pegar na bunda do vento — mas o rabo do vento escorregava muito e eu não consegui  pegar. Eu teria sete anos. A mãe fez um sorriso  carinhoso para mim e não disse nada. Meus irmãos  deram gaitadas me gozando. O pai ficou preocupado  e disse que eu tivera um vareio da imaginação.  Mas que esses vareios acabariam com os estudos.  E me mandou estudar em livros. Eu vim. E logo li  alguns tomos havidos na biblioteca do Colégio.  E dei de estudar pra frente. Aprendi a teoria das idéias e da razão pura. Especulei filósofos e até cheguei aos eruditos. Aos homens de grande  saber. Achei que os eruditos nas suas altas  abstrações se esqueciam das coisas simples da  terra. Foi aí que encontrei Einstein (ele mesmo — o Alberto Einstein). Que me ensinou esta frase:  A imaginação é mais importante do que o saber.  Fiquei alcandorad...