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Mostrando postagens com o rótulo conto

História Passional, Hollywood, Califórnia - poema de Vinícius de Moraes

Preliminarmente telegrafar-te-ei uma dúzia de rosas Depois te levarei a comer um shop-suey Se a tarde também for loura abriremos a capota Teus cabelos ao vento marcarão oitenta milhas. Dar-me-ás um beijo com batom marca indelével E eu pegarei tua coxa rija como a madeira Sorrirás para mim e eu porei óculos escuros Ante o brilho de teus dois mil dentes de esmalte. Mascaremos cada um uma caixa de goma E iremos ao  Chinese  cheirando a hortelã-pimenta A cabeça no meu ombro sonharás duas horas Enquanto eu me divirto no teu seio de arame. De novo no automóvel perguntarei se queres Me dirás que tem tempo e me darás um abraço Tua fome reclama uma salada mista Verei teu rosto através do suco de tomate. Te ajudarei cavalheiro com o abrigo de chinchila Na saída constatarei tuas  nylons 57 Ao andares, algo em ti range em dó sustenido Pelo andar em que vais sei que queres dançar rumba. Beberás vinte uísques e ficarás mais terna Dançando sentirei tuas pernas entre as minhas Cheirarás ...

Noite de Almirante, conto de Machado de Assis

  Deolindo Venta-Grande (era uma alcunha de bordo) saiu do arsenal de marinha e enfiou pela rua de Bragança. Batiam três horas da tarde. Era a fina flor dos marujos e, de mais, levava um grande ar de felicidade nos olhos. A corveta dele voltou de uma longa viagem de instrução, e Deolindo veio à terra tão depressa alcançou licença. Os companheiros disseram-lhe, rindo: - Ah! Venta-Grande!  Que noite de almirante vai você passar! ceia, viola e os braços de Genoveva. Colozinho de Genoveva... Deolindo sorriu. Era assim mesmo, uma noite de almirante, como eles dizem, uma dessas grandes noites de almirante que o esperava em terra. Começara a paixão três meses antes de sair a corveta. Chamava-se Genoveva, caboclinha de vinte anos, esperta, olho negro e atrevido. Encontraram-se em casa de terceiro e ficaram morrendo um pelo outro, a tal ponto que estiveram prestes a dar uma cabeçada, ele deixaria o serviço e ela o acompanharia para a vila mais recôndita do interior. A velha Inácia, que...

Os Dois Amigos, conto de Lêdo Ivo

     Quando os dois amigos se encontravam, um deles sempre tinha pressa. No instante mal cabia um aperto de mão. O gesto afetuoso perdia-se no ar, inacabado.      - Precisamos nos encontrar! - exclamava o amigo vitorioso e apressado, e talvez uma fagulha de satisfação cintilasse no olhar do outro que sempre respondia, catando as migalhas da antiga estima:      - Telefone. Tenho o nome no catálogo.      O amigo sempre ocupado, não dispunha de tempo para deter-se na calçada ou no meio da rua, tirar o caderninho de notas e escrever-lje o nome e número do telefone. Mas não havia necessidade desse ritual miudo: seu nome estava no catálogo telef6onico!      Contava, à noite, à sua mulher, que encontrara o amigo de infância. "Estive hoje com o Felisberto Barrosso."dizia o nome todo, embora ambos tivessem sentado juntos nos bancos do grupo escolar. chegara mesmo a salvá-lo uma vez de morrer afogado. Felisberto ( ou Feli...

O Príncipe Feliz, conto de Oscar Wilde

     Na parte mais elevada da cidade, sobre uma coluna bem alta, ficava a estátua do Príncipe Feliz. Ela era toda dourada coberta por finas folhas de ouro, seus olhos eram duas safiras brilhantes, e um grande rubi vermelho brilhava no punho da espada.       O príncipe era realmente admirado.       - Ele é tão lindo quanto um cata-vento - observou um dos veradores que desejava ganhar fama por ter gostos artísticos. - Pena que não seja tão útil - ele acrescentou realista, o que ele realmente não era.       - Por que você não pode ser como o Príncipe Feliz? - perguntou uma mãe sensata a seu filhinho que estava chorando porque queria a lua. - O Príncipe Feliz nunca pensa em chorar para conseguir alguma coisa.      - Fico muito contente em saber que há alguém no mundo que seja muito feliz - murmurou um homem desiludido enquanto contemplava a estátua maravilhosa.      - Parece um anjo - disseram as ...

O Homem da Cabeça de Papelão, conto de João do Rio

     No país que chamavam de Sol, apesar de chover, às vezes, semanas inteiras, vivia um homem de nome Antenor. Não era príncipe. Nem deputado. Nem rico. Nem jornalista. Absolutamente sem importância social. O País do Sol, como em geral todos os países lendários, era o mais comum, o menos surpreendente em idéias e práticas. Os habitantes afluíam todos para a capital, composta de praças, ruas, jardins e avenidas, e tomavam todos os lugares e todas as possibilidades da vida dos que, por desventura, eram da capital. De modo que estes eram mendigos e parasitas, únicos meios de vida sem concorrência, isso mesmo com muitas restrições quanto ao parasitismo. Os prédios da capital, no centro elevavam aos ares alguns andares e a fortuna dos proprietários, nos subúrbios não passavam de um andar sem que por isso não enriquecessem os proprietários também. Havia milhares de automóveis à disparada pelas artérias matando gente para matar o tempo, cabarés fatigados, jornais, trâmueis...