Haverá um dia em que as flores do nosso jardim murcharão Por falta de água ou amor ou os dois E este jardim apenas existirá na minha memória pois Dele veio o nosso mais belo fruto Um rebento forte, inteligente e arguto Que prova ao mundo que o jardim não terá sido em vão. Haverá um dia em que o teu cheiro Será apenas como o cheiro de alguém na rua E que a silhueta do teu corpo inteiro Jazendo nu em meio à cama nua Será apenas um passado distante De alguém que um dia se fez teu amante Haverá um dia em que o lirismo, a dor e a poesia Não rimarão mais o amor, você e eu Não haverá sofrer e tampouco fantasia Como alguém que era cego e agora via Como um músico que tocasse com maestria E percebesse então um dia que seu público morreu Haverá um dia em que Montenegro, Russo ou Belchior Ou mesmo Chico “trocando em miúdos” Não farão mais sentido como fazem agora E ao cantar não me deixarão mudo Por que para cada arrebol tem uma aurora ...