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Mostrando postagens com o rótulo O que estou lendo

Minha Leitura Atual: O Velho Que Lia Romances de Amor, Luís Sepúlveda

     O céu era uma inflada pança de burro que pendia  ameaçadora a poucos palmos das cabeças. O vento morno e pegajoso varria algumas folhas soltas e sacudia com violência as bananairas raquíticas que enfeitavam a fachada da delegacia.      Os poucos habitantes de El Idilio mais um bando de aventureiros vindos das redondezas se reuniam no cais, esperando a vez de sentar na poltrona portátil do doutor Rubicundo Loachamín, o dentista, que aliviava as dores de seus pacientes mediante um curioso tipo de anestesia oral.      - Dói? - perguntava      Os pacientes, agarrando-se no encosto da poltrona, respondiam abrindo desmesuradamente os olhos e suando em bicas.      Alguns queriam retirar de suas bocas as mãos insolentes do dentista e responder-lhe com o merecido palavrão, mas suas intenções se chocavam com os braços fortes e com a voz autoritária do odontólogo.      - Quieto, porra! Tire as mão...

O Que Estou Lendo? Rosa Montero

      Um livro sobre o luto e suas consequências, que navega com maestria entre a ficção e a memória.      Quando Rosa Montero leu o impressionante diário (incluído como apêndice neste livro) que Marie Curie escreveu após a morte de seu  marido, ela sentiu que a história dessa mulher fascinante guardava uma triste sintonia com a sua própria: Pablo Lizcano, seu companheiro durante 21 anos, morrera havia pouco depois de enfrentar um câncer.      As consequências dessa perda geraram este livro vertiginoso e tocante a respeito da morte, mas sobretudo dos laços que nos unem ao extremo da vida ( Amazon). A Arte de Fingir Dor Como não tive filhos, a coisa mais importante que me aconteceu na vida foram os meus mortos, e com isso me refiro à morte dos meus entes queridos. Talvez você ache isso lúgubre, mórbido. Eu não vejo assim. Muito pelo contrário: para mim é uma coisa tão lógica, tão natural, tão certa. Apenas em nascimentos e mortes é que sa...

O Que Estou Lendo? Viagem Ao Centro da Terra, Júlio Verne

  O professor  Lidenbrock  descobre um manuscrito do século XII e fica obcecado por decodificá-lo, mas é seu sobrinho e assistente  Axel  quem acaba conseguindo descobrir a mensagem do pergaminho. Basicamente diz que ao se seguir determinados passos, é possível chegar o centro da terra. Lidenbrock prepara imediatamente essa expedição, enquanto Axel o segue praticamente arrastado. Os dois empreendem uma jornada até a Islândia, onde contratam o terceiro personagem de nossa história, seu guia e salvador de tudo,   Hans,   para então começarem a descer até as entranhas do planeta. O livro é narrado por Axel, em forma de diário de viagem e, como eu disse, achei bem divertido de acompanhar essa história basicamente pelo humor involuntário causado pelo seu desespero ao não querer de forma alguma ir nessa jornada maluca e, também, pela forma com a qual Hans, sempre calado e em segundo plano, é o responsável por manter esses cientistas vivos. O homem é quase u...

O Que Estou Lendo?

      Os Meninos da Rua Paulo.  comprei num sebo, uma edição de 1969. O exemplar veio, conforme informado, bastante danificado.       Fiz algumas recuperações e comecei.  Como disse em postagem mais antiga, gosto de comprar livro em sebo porque o exemplar vem com alguma história.  Nunca vou saber começo meio ou fim dessa história paralela.        Quem leu,  por que se desfez,  se gostou,  se ganhou de presente,  quantos anos tinha a criança que rabiscou com caneta vermelha...nada é esclarecido, mas acho delicioso estar lendo um livro enquanto carrego nas mãos um mistério que vai continuar assim, mesmo quando eu chegar à última página. FALTAVAM quinze minutos para uma hora. Na sala de ciências naturais, por cima da comprida mesa do professor, apareceu finalmente, após longas e infrutíferas tentativas, como para recompensar a expectativa intensa, uma cintilante risca verde esmeralda no meio da chama ...

O Que Estou Lendo?

 A Organização.  A Odebrecht e o Esquema de Corrupção Que Chocou o Mundo , Malu Gaspar Estou exatamente na página 303(imagem)      Quando aquele jovem empresário apareceu nos noticiários como um grande vilão eu tomei um susto.             Mentalmente tinha muitas perguntas que gostaria de fazer. Não pude obviamente, mas guardei uma imensa curiosidade sobre a Odebrecht, que eu julguei, por muito tempo, ser somente uma grande construtora. Foi com grande expectativa, então, que aguardei o lançamento do livro que se propunha contar a história da empresa. Não conhecia a autora.  Comprei o livro que venho lendo aos poucos  diariamente.       Não é divertido, pelo contrário. Entristece saber da pouca qualidade ética de nossos políticos. É decepcionante ver como e porque foi construída uma arena de futebol por exemplo e como um jovem, provavelmente inteligente e capaz, em menos de 3 anos torna-se um empres...

O Que Estou Lendo: Nós Matamos o Cão Tinhoso, Luis Bernardo Honwana

  “Não sei se realmente sou escritor. Acho que apenas escrevo sobre coisas que, acontecendo à minha volta, se relacionem intimamente comigo ou traduzam factos que me parecem decentes. Este livro de histórias é o testemunho em que tento retratar uma série de situações e procedimentos que talvez interesse conhecer.” (HONWANA, 1964, p.9). Nós Matamos o Cão Tinhoso, O livro  publicado em 1964 quando o autor tinha apenas 22 anos, traz  7 contos distintos  embora todos carregados de Moçambique ou de qualquer outro país colonizado, por essa razão: violento, pobre, explorado, muitas vezes invisível.  O conto que nomeia e abre o livro é narrado por uma criança e são crianças todos os  mais importantes personagens além do cão.  Em análises, resenhas, críticas ou citações não encontrei nenhuma linha sobre a menina Isaura que está presente do começo ao fim do conto. Pessoalmente vejo nela uma metáfora da situação de menosprezo, exploração e invisibilidade das mulh...

O Que Estou Lendo? O Pecado de Porto Negro, Norberto Morais.

  À hora da morte, quando os grandes homens se lembram da frase que os eterniza, D. Luciano de Mello y Goya murmurou:       — Bem‑aventurado aquele que prefere morrer com o coração varado de chumbo do que de saudade.       O criado, que o acompanhava, atribuiu‑a à febre, cuja inclemência havia semana e meia o consumia, mas o velho governador nunca estivera tão lúcido, desde a hora em que subira a bordo do paquete real, como naquela manhã de Novembro 7, a meio do Atlântico, a caminho da Europa. Nos ouvidos ecoavam‑lhe ainda as palavras do capitão Rodolfo Cóias, líder da milícia destacada para tomar a capital da ilha de São Cristóvão, depois de o informar do fim do Império em terras de São Miguel do Pacífico:       — Porto Negro é uma mulata da beira do cais, D. Luciano! Não nasceu para usar espartilhos, mas para andar nua por baixo da cambraia.       Por entre a névoa da última hora, a imagem era clara ...

O que estou lendo? Marçal Aquino

Ed.Cosac Naify - RS34,90 Duas narrativas paralelas se entrecruzam na geometria peculiar do autor paulista. O primeiro núcleo de Cabeça a prêmio trata de Brito e Albano, dois matadores de aluguel a serviço dos irmãos Menezes, poderosos traficantes de drogas. Nessa história aparecem também o piloto de avião Dênis e Elaine, filha de um dos chefes do tráfico. Eles protagonizam a segunda história - sua paixão, marcada por uma forte carga sexual, leva-os a um temerário plano de fuga. Marçal Aquino construiu os personagens com incrível habilidade, fez um livro com momentos de violência, mas sem o apelo do grotesco, às vezes chega a dar algum lirismo aos personagens. É meu segundo livro do autor e novamente estou gostando muito. Recomendo.