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Mostrando postagens com o rótulo Menotti Del Picchia

A Outra Perna do Saci, Menotti Del Picchia

      Tião pensou no Saci.      -Foi o mardiço que trouxe lagarta rosada no algodoal...      Baixou uma tarde de ópera lírica. Os grilos desceram a policiar a várzea. Trii...Trii.. Os acendedores de gás iluminavam a ferraria dos sapos que davam as últimas marteladas no disco da lua, uma espécie de balão metálico que iam soltar em cima do açude.      - Mais eu laço êle, - matutou o Tião.      Procurou o rancho. As árvores recuavam para dar passagem ao caminho.      Ficavam na ponta dos pés das raízes. Viu uma quaresmeira vir vindo rampa acima rumo da estrada curva sob seu fardo de flôres. Era um floricultor carregando nas costas tôda a primavera.      - Laço êle e fica meu escravo. É só jogá o têrço no rodamoinho e carrego êle prá casa. Êle vai ajudá no eito...      Alcançou uns eucaliptos crianças que aprendiam a ser árvores no colégio de um hôrto florestal.   ...

Máscaras,Menotti del Picchia

     Arlequim saiu de casa na manhã colorida do sábado, a sua roupa refulgindo com todas as cores do carnaval. Saiu sozinho, porque assim se divertia mais; dirigiu-se apressado às ladeiras repletas de frevo. Tinha pressa, pois sabia que os quatro dias de folia passam rápido, e não queria perder nada. Gostava das máscaras, que enchiam os olhos de beleza e de alegria.       No caminho esbarrou em um palhaço apagado, mais adequado a um velório que ao carnaval. Não deu importância e seguiu o seu caminho, sorrindo diante das fantasias coloridas, olhando com indisfarçado desejo para as garotas que enchiam de graça as ruas de paralelepípedos, disparando gracejos a cada passo que dava. Uma delas, mais que as outras, chamou-lhe a atenção: era jovem, era loira, e olhava para tudo com o olhar deslumbrado de quem se depara pela primeira vez com um mundo de beleza até então desconhecida.      Arlequim olhou-lhe e sorriu-lhe, e ela pe...

Juca Mulato (9): Ressureição

Ressurreição 1 Coqueiro! Eu te compreendo o sonho inatingível: queres subir ao céu, mas prende-te a raiz... O destino que tens de querer o impossível é igual a este meu de querer ser feliz. Por mais que bebas a seiva e que as forças recolhas, que os verdes braços teus ergas aos céus risonhos, no último esforço vão, caem-te murchas as folhas e a mim, murchos, os sonhos! Ai! coqueiro do mato! Ai! coqueiro do mato! Em vão tentas os céus escalar na investida... Tua sorte é tal qual a de Juca Mulato... Ai! tu sempre serás um coqueiro do mato... Ai! Eu sempre serei infeliz nesta vida!" 2 "Ser feliz! Ser feliz estava em mim, Senhora... este sonho que ergui, o poderia por onde quisesse, longe até da minha dor, em um lugar qualquer onde a ventura mora; onde, quando o buscasse, o encontrasse a toda hora, tivesse-o em minhas mãos... Mas, louco sonhador, eu coloquei muito alto o meu sonho de amor... Guardei-o em vosso olhar e me arrependo agora...

Juca Mulato (8) : A Voz das Coisas

A Voz das Coisas   E Juca ouviu a voz das coisas. Era um brado: "Queres tu nos deixar, filho desnaturado?"   E um cedro o escarneceu: "Tu não sabes, perverso, que foi de um galho meu que fizeram teu berço?   E a torrente que ia rolar no abismo: "Juca, fui eu quem deu a água para o teu batismo".   Uma estrela a fulgir, disse da etérea altura: "Fui eu que iluminei a tua choça escura no dia em que nasceste. Eras franzino e doente. E teu pai te abraçou chorando de contente... - Será doutor! - a mãe disse, e teu pai, sensato: - Nosso filho será um caboclo do mato, forte como a peroba e livre como o vento! - Desde então foste nosso e, desde esse momento, nós te amamos seguindo o teu incerto trilho com carinhos de mãe que defende seu filho!"   Juca olhou a floresta: os ramos, nos espaços, pareciam querer apertá-lo entre os braços!   "Filho da mata, vem! Não fomos nós, ó Juca, o arco do teu bodoque, as...