Após criar o primeiro anjo, Deus ofereceu-lhe um poderoso par de asas. Explicou-lhe que aquilo era mais um aparato de fé do que de voo. – Os pássaros – assegurou-lhe – voam por convicção. O anjo viu como voavam os pássaros, batendo as asas e recolhendo as pernas, e imitou-os. Ao fim de cinco meses tinha ganho uma certa prática e até já conseguia fazer algumas piruetas, incluindo voo picado seguido de um duplo mortal invertido. Não era ainda uma águia, mas também não poderia ser confundido com uma galinha. Enfim, voava. – Agora tira-as. – Disse-lhe então Deus, que o observara, em silêncio, a uma distância discreta, durante todos aqueles dias. – Tira as asas e voa. O anjo olhou para Ele incrédulo. Protestou: – E eu lá sou doido, ó Deus?! Tiro porra nenhuma! Deus, o qual, como se sabe, é brasileiro, não estranhou nem que o anjo falasse português, nem sequer o forte sotaque carioca. A língua e o sotaque, aprendera-as com Ele. Compreendeu, todavia, que lhe faltava ...