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O Mapa, José Condé

Vejo-me debruçado numa janela da Rua da Aurora, enquanto a noite baixava sobre o rio e a ponte. Contra a luz morrente os sobrados pareciam mais esguios, a sombra arroxeada se projetando imprecisa nas águas escuras do Capibaribe. Lembro-me bem: embora o céu prometese chuva, o ar vibrava sob o calor. De vez em quando, a aragem fresca trazia cheiros estranhos: óleo, maresia e peixe frito; mas também de cajueiros e jaqueiras distantes, da alvarenga abarrotada de abacaxis que estaria navegando na direção do Cais de Santa Rita. A aragem, entretanto, não me acalmava. “Vai ser um estirão de enlouquecer.” As palavras de Albérico iam e vinham, confusas, dentro de mim. Ah, se tivesse sido apenas isso! A lembrança do mapa azul largado em cima da mesa me levava a um pequeno ponto preto – impreciso e quase desnecessário – que seria meu destino: o Poti. Ficava à margem de uma linha grossa e sinuosa, em vermelho, cortando a gravura como uma cobra: o São Francisco. ...

Guia Prático e Sentimental da Rio-São Paulo, Antônio Maria

    Ao completar 60 viagens da rodovia Presidente Dutra, gostaria de contar as belezas, os perigos e os mistérios dessa estrada comprida. Há quase dois anos, todas as vezes que são Paulo dá saudade e chama, venho  fazendo esse caminho e o  considero o maior prazer de um  viciado  em automóvel. Se a estrada ja matou gente, não  a evitem por isso. O homem, morredor por excelência, tem morrido, tragicamente, em  todos os caminhos do mar,do  céu e da terra. É necessário, porém, saber andar naquela pista estreita. Se a reta tem  quase cem  quilômetros, o pneu pode não ter mais nem um minuto  de vida. Se a curva surgiu  de repente, vamos desenhá-la a capricho, ocupando menos da metade do  asfalto. Se, depois, o  terreno é ondulado, na baixa pode haver um  buraco ou um carro enguiçado. Tomados esses cuidados, o motorista deve apegar-se a uma ideia - chegar. O  tempo normal de uma viagem tranqüil...