Vejo-me debruçado numa janela da Rua da Aurora, enquanto a noite baixava sobre o rio e a ponte. Contra a luz morrente os sobrados pareciam mais esguios, a sombra arroxeada se projetando imprecisa nas águas escuras do Capibaribe. Lembro-me bem: embora o céu prometese chuva, o ar vibrava sob o calor. De vez em quando, a aragem fresca trazia cheiros estranhos: óleo, maresia e peixe frito; mas também de cajueiros e jaqueiras distantes, da alvarenga abarrotada de abacaxis que estaria navegando na direção do Cais de Santa Rita. A aragem, entretanto, não me acalmava. “Vai ser um estirão de enlouquecer.” As palavras de Albérico iam e vinham, confusas, dentro de mim. Ah, se tivesse sido apenas isso! A lembrança do mapa azul largado em cima da mesa me levava a um pequeno ponto preto – impreciso e quase desnecessário – que seria meu destino: o Poti. Ficava à margem de uma linha grossa e sinuosa, em vermelho, cortando a gravura como uma cobra: o São Francisco. ...