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Mostrando postagens de setembro, 2019

Melhores Livros de Ziraldo

10 Melhores Livros de Ziraldo  O Menino Maluquinho - Essa é a história de um menininho traquinas, que tinha macaquinhos no sótão, deitava e rolava, fazendo confusão. Alegria da casa, liderava a garotada. Namorador, fazia versinhos, compunha canções, inventava brincadeiras. E fazia muita bagunça. Foi parar no cinema e na televisão e encantou gerações de brasileirosFoto: Melhoramentos Flicts - Tudo tem cor. O mundo é feito de cores, mas nenhuma é Flicts. Uma cor rara, frágil, triste, que procurou em vão um amigo entre outras cores, que não encontrou um lugar para ficar. Abandonada, Flicts olhou para longe, para o alto, e subiu, para finalmente encontrar-se.Foto: Melhoramentos O Bichinho da Maçã - Debaixo da madeira, os animais se reuniam para ouvir as mais incríveis histórias contadas com muita graça pelo bichinho que morava dentro da maçã. Infelizmente, o perigo um dia apareceu, e o Bichinho da Maçã nos conta como conseguiu safar-se, graças à sua inteligência. Foto:

A Borboleta Amarela, Rubem Braga

     Era uma borboleta. Passou roçando em meus cabelos, e no primeiro instante pensei que fosse uma bruxa ou qualquer outro desses insetos que fazem vida urbana; mas, como olhasse, vi que era uma borboleta amarela.    Era na esquina da Graça Aranha com Araújo Porto Alegre; ela borboleteava junto ao mármore negro do Grande Ponto; depois desceu, passando em face das vitrinas de conservas e uísques; eu vinha na mesma direção; logo estávamos defronte da ABI. Entrou um instante no hall, entre duas colunas; seria uma jornalista? – pensei com certo tédio.      Mas logo saiu. E subiu mais alto, acima das colunas, até o travertino encardido. Na Rua México eu tive de esperar que o sinal abrisse; ela tocou, fagueira, para o outro lado, indiferente aos carros que passavam roncando sob suas leves asas. Fiquei a olhá-la. Tão amarela e tão contente da vida, de onde vinha, aonde iria? Fora trazida pelo vento das ilhas – ou descera saçaricante e leve da floresta da Tijuca ou de algum morro – talv

A Primavera Chegou, Rubem Braga

      Há um conto escandinavo, escrito por não sei quem há muitas primaveras, em que o mordomo se curva respeitosamente e anuncia à senhora Condessa:      - Com a vossa permissão, a primavera chegou.      - Diga-lhe que seja bem vinda e pode permanecer três meses em minhas terras.      Então vem o primeiro domingo da primavera. E havia um velho mendigo que tinha uma perna de pau. Suspeitava-se que em sua mocidade houvesse sido um terrível pirata; de qualquer maneira era agora apenas um velho mendigo que pedia esmola todo domingo na porta da igreja. E havia uma rica velhinha que todo domingo dava ao mendigo uma grande moeda de cobre. Naquele domingo, entretanto, por ser o primeiro da primavera, deu-lhe uma grande moeda de ouro. O mendigo sorriu e pediu licença para lhe oferecer um bela rosa.      Que rosa tão bela, mendigo. Onde a colheu?      Nasceu em minha perna de pau, senhora.      Guardei apenas isso do conto escandinavo que li há muitos anos.      Lembro-me ainda

Flor, Telefone,Moça. Carlos Drummond de Andrade.

     Não, não é conto. Sou apenas um sujeito que escuta algumas vezes, que outras não escuta, e vai passando. Naquele dia escutei, certamente porque era a amiga quem falava, e é doce ouvir os amigos, ainda quando não falem, porque amigo tem o dom de se fazer compreender até sem sinais. Até sem olhos. Falava-se de cemitérios? De telefones? Não me lembro. De qualquer modo, a amiga — bom, agora me recordo que a conversa era sobre flores — ficou subitamente grave, sua voz murchou um pouquinho.      — Sei de um caso de flor que é tão triste!      E sorrindo:      — Mas você não vai acreditar, juro.      Quem sabe? Tudo depende da pessoa que conta, como do jeito de contar. Há dias em que não depende nem disso: estamos possuídos de universal credulidade. E daí, argumento máximo, a amiga asseverou que a história era verdadeira.      — Era uma moça que morava na rua General Polidoro, começou ela. Perto do cemitério São João Batista. Você sabe, quem mora por ali, queira ou não

Joana, Só... Regina Ruth Rincon Caires

Final da primavera de 1951.   Madrugada de lua cheia... Pela janela aberta, a claridade prateada inunda o quarto. Sentada ao pé da cama, encostada na parede, abraçada às pernas e com o queixo recostado sobre os joelhos, Joana observa o rosto sereno do filho que dorme feito um anjo. Por que tinha que ser assim? Por que a vida tomou esse rumo? Olha do lado, na outra cama, e vislumbra por entre as cobertas, os rostinhos das duas filhas. A mais velha, de fartos cachos de cabelo dourado que com a luz da lua cintilam como uma nuvem de vaga-lumes, e a mais nova, de pele alva como leite e cabelos negros azulados. Ambas dormem profundamente, alheias aos percalços que a vida silenciosamente arquiteta. O início de tudo foi numa triste tarde, quase noite. Antônio ainda não havia chegado da roça. Joana acabara de banhar as crianças, sentia-se enjoada com o princípio da nova gravidez, e fazia um esforço tremendo para esquentar as panelas no fogão de lenha, no preparo da comida, quando de r

Quisera Ser Um Gato, Ferreira Gullar

     Fora os fantasmas que me acompanham e me fazem refletir sobre o sentido da vida, vivo eu, neste apartamento, com uma gatinha siamesa. Que é linda, não preciso dizer, mas, além disso, é especial: quase nunca mia e, quando soa a campainha da porta, se arranca. Nem eu sei onde ela se esconde.      Ela é, portanto, muito diferente do gatinho que, antes dela, me fazia companhia e que se foi. Morreu de velho, já que nunca havia adoecido durante seus 16 anos de vida. Quando adoeceu, foi para morrer. Não preciso dizer que fiquei traumatizado e não quis mais saber de outro gato. Amigas e amigos me ofereceram um substituto para o meu gatinho, e eu respondia que amigo não se substitui.      Os anos se passaram, a dor foi se apagando, até que um belo dia, minha amiga Adriana Calcanhotto chegou aqui em casa com um presente para mim: era uma gatinha siamesa. Faltou-me coragem para dizer não, mesmo porque a bichinha me encantou à primeira vista. Manteve-se arredia por algum tempo, mas

Furtei Uma Flor, Carlos Drummond de Andrade

      Furtei uma flor daquele jardim. O porteiro do edifício cochilava, e eu furtei a flor.      Trouxe-a para casa e coloquei-a no copo com água. Logo senti que ela não estava feliz.   O copo destina-se a beber, e flor não é para ser bebida.      Passei-a para o vaso, e notei que ela me agradecia, revelando melhor sua delicada composição.    Quantas novidades há numa flor, se a contemplarmos bem.      Sendo autor do furto, eu assumira a obrigação de conservá-la. Renovei a água do vaso, mas a flor empalidecia. Temi por sua vida. Não adiantava restituí-la no jardim. Nem apelar para o médico de flores.  Eu a furtara, eu a via morrer.      Já murcha, e com a cor particular da morte, peguei-a docemente e fui depositá-la no jardim onde desabrochara. O porteiro estava atento e repreendeu-me.      – Que ideia a sua, vir jogar lixo de sua casa neste jardim! Carlos Drummond de Andrade. Contos plausíveis. Rio de Janeiro, José Olympio, 1985. p. 80. Leia também: Dossiê

Estive Cara a Cara Com Deus, Ignácio de Loyola Brandão

Tiradentes – A semana para mim começou em Tiradentes, Minas Gerais. Na Pousada Alforria, subi para o café da manhã e encontrei Antonio Magalhães, o dono, que me saudou com a pergunta: “Tem visto Ana Helena?” A única que eu conheço, inesquecível,  é a Ana Helena da Capitu. Livraria que teve curta duração, mas marcou a vida cultural em São Paulo nos anos 1970 para 1980. Época em que pequenas livrarias sobreviviam, marcavam presença, cada uma com sua personalidade. Magalhães acrescentou: “Lembra-se daquele lançamento debaixo da chuva?”      Como esquecer? Era 1979, estava saindo a terceira edição do  Zero  a primeira liberada, após três anos de proibição. Mais do que um lançamento foi uma manifestação pela liberdade e contra a censura. Havia tanta gente que a fila se estendeu por quadras e quadras na Rua Pinheiros, porque a Capitu era pequena. Começou a chover, ninguém arredou pé, a festa continuou com as pessoas molhadas e felizes. De repente, no interior do sul mineiro, em uma cid