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Mostrando postagens com o rótulo Joaquim Cardozo

Anjos da Paz*, Joaquim Cardozo

Aos mortos de Lídice e de                Coventry Aos mortos de Hiroshima e                 Nagasaki                                                                  Serão os anjos da paz                                                                  Estes seres nebulosos                                                                 Surgidos da noite enorme                  ...

Soneto da Paz, Joaquim Cardozo

Este soneto é natureza morta, Traço na alvura, sobra de uma flor, Sinal de paz que inscrevo em cada porta, Gesto, medida de comum valor. É letra e clave, é modulo que importa Na redução da voz, do som. Calor Do que vivido foi e inda comporta Palpitação de implícito lavor. Moeda que correu por muitas mãos, Brinquedo que ficou perdido a um canto Num lago de esquecidas esperanças. Mas nos seus versos fecho os sonhos vãos E em notas claras, digo, exalto e canto: -Paz! Paz! Brincai, adormecei, crianças! Cardozo, Joaquim. Poesias Completas. Ed.Civilização Brasileira, Rio de Janeiro 1979, pág.64

Cajueiros de Setembro, Joaquim Cardozo

Cajueiros de Setembro, Cobertos de folhas cor-de-vinho, Anunciadores simples dos estios Que as dúvidas e as mágoas aliviam Àqueles que como eu vivem sozinhos. As praias e as nuvens e as velas de barcaças Que vão seguindo além rumos marinhos Fazem com que por tudo se vislumbrem Luminosos domingos em setembro, Cajueiros de folhas cor-de-vinho. Presságio, amor de noites perfumadas Cheias de lua, de promessas e carinhos, Vivas canções serenas e distantes, Cajueiros de sombras inocentes Debruçados à beira dos caminhos.   In:CARDOZO, Joaquim, Poesias Completas, Ed.Civilização Brasileira 1979  

Riscos Para Um Cartão de Rendeira, Joaquim Cardozo

Os bilros cantam, tecendo Tecendo de renda branca, Com meandros e meneios De folha de mamoeiro; Rastejos na areia solta, Volteios de espuma branca. Os bilros danam, tendo Requebros de saia branca; Pêndulos de sombra fina Nas palmas de um dendezeiro: Para o lá e para o aqui Que leva e traz vela branca. Os bilros cruzam, tecendo Um voo de garça branca... Tão leve! Um sonho? deixado Na fronha de um travesseiro; Um sonho. Linhas de sonho Fiadas de uma nuvem branca. Os bilros contam, tecendo, Segredos de moça branca Que em sal se chorou no mar De tanto amar marinheiro; Tanto sal, tanto chorou Que se fez salina branca. Os bilros param. Tecendo Durezas de pedra branca.   Gravando em letras vazadas O mesmo adeus derradeiro; - Vazio amanhã: sem dia - Futuro: saudade branca. Imagem do google

A Várzea Tem Cajazeira, Joaquim Cardozo

  A várzea tem cajazeiras... Cada cajazeira um ninho Que entre o verde e o azul oscila; Mocambo de passarinho. Na baixa funda, mais funda, Tenros que se alojam verdes: Verdes de capim de planta; Vista, mais vista a perder-se. Maracujás enredados... Flor da paixão, do martírio; Entre as balsas dos remansos Baronesas cor-de-lírio. Nessa várzea sou planície, Vaga dimensão dormente; Tendida no chão conforme Sou de mim sombra somente. Rumos de céus desvelados Onde chego e me afugento!? - Já me escuto como em sonho De tão longe que me ausento! Em redes de ramos verdes Me estendo como um caminho, Me espreguiço dessa várzea, E me embalo desse ninho. (Poesias completas, Joaquim Cardozo 1979)

Provo, Sinto Em Silêncio, Joaquim Cardozo

Provo, sinto em silêncio O gosto de tua presença, O gosto da presença feliz o teu corpo inocente e querido. Vejo que as ruas mãos formosas e mansas Movem-se para mim num desejo incerto de carícia, num gesto vago e litúrgico, E ouço a tua voz chegando como uma reza, Imersa em sombra, envolta em fumo, fragrante e leve. Mulher! em meio deste perfume, Incenso que vem de ti e das flores que trazes no seio, Mudo como um Deus quero ser adorado.

Poema de Amor Sem Exagero, Joaquim Cardozo- Segunda-feira poética

Eu não te quero aqui por muitos anos nem por muitos meses ou semanas, Nem mesmo desejo que passes no meu leito As horas extensas da noite. Para que tanto Corpo! Mas ficaria contente se me desses por instantes apenas e bastantes A nudez longínqua e de pérola Do teu corpo de nuvem. Joaquim Cardozo .

Romance Perdido, Joaquim Cardozo

  Quando cheguei, quando venci por fim as incertezas do caminho, Já a noite dormia sob as árvores do parque. Somente na sombra o olhar de um lago frio, Somente no musgo das pedras o contato de mãos macias, Somente no céu a nudez das nuvens inconstantes, Somente, Josefina O vento gelado apagara  o teu desejo, A noite modesta vestira teu corpo.

Três Sonetos Positivos, Joaquim Cardozo

Eu te direi de amor em  frase nova: Estátua na Ponte Maurício de Nassau . Verbo que em si conduz a singulares Emanações fatais de escura prova Que é força de ambições crepusculares Eu te direi da flor que se renova Em frondes de segredos seculares Surgindo da clausura de uma cova Em mutações tranqüilas e lunares Direi também de folhas, de aventuras Levadas velozmente nas alturas Dos ventos e das asas vencedoras: Mas de tanto dizer fique o silêncio Que é cinza de palavras e que vence O surto de inverdades tentadoras. II Por senda escura uma visão me leva... Em vez dos claros rumos da manhã Sigo um caminho, um chão feito de treva, De légua de colina e de rechã. Em vez do alvor das nuvens que me enleva Das nuvens de que a tarde é tecelã Olho o vulto da noite que se eleva Ouço o vento do mar na telha-vã Da noite preta que me estende os ubres De novo sorvo os meus sonhos insalubres E o leite sugo de imprecisas mágoas. Do mar que ao fim de tudo há d...

Congresso dos Ventos, Joaquim Cardozo

Na várzea extensa do Capibaribe, em pleno mês de agosto Reuniram-se em congresso todos os ventos do mundo; Àquela planície clara, feita de luz aberta na luz e de amplidão [cingida, Onde o grande céu se encurva sobre verdes e verdes, sobre lentos [telhados, Chegaram os mais famosos, os mais ilustres ventos da Terra: – Mistral, com seus cabelos de agulha, e os seus frios de dedos [finos, – Simum, com arrepiadas, severas e longas barbas de areia [quente, – Harmatã, em fúrias gloriosas e torvelinhos, trazidos da Costa [da Guiné, Representante das margens do Nilo credenciou-se Cansim, E Garbino, enviado das praias catalãs. Vieram as Monções das margens do Oceano Índico, Os ventos da Tundra siberiana vieram. . . E os Alísios desceram do Equador, clandestinos, Num grande transatlântico. Chegaram ainda os ventos da América: – Barinez, respirando doçuras de rios azuis, afluentes do [Orenoco, – Pampeiro, eremita e solidão de horizontes sub-andinos...