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Mostrando postagens com o rótulo arroz

Dos Amores Divididos e Multiplicados, Regina Ruth Rincon Caires

  Arroz, feijão, mexido de ovo e farofa de torresmo. Tudo misturado, amassado. Isso era feito dia após dia, sempre nos mesmos velhos e descascados pratos de ágate. Cada neto era servido com esse manjar dos deuses, carinhosamente temperado de generosidade, doação, amor. A avó compactava a comida no círculo central de cada prato, borrifava algumas gotas de limão-cravo, e com a lateral do garfo fazia uma cruz no centro, dividindo a porção em quatro partes. Dizia que cada parte era dedicada a um dos quatro grandes amores da vida: mãe, pai, avó e avô. E, comprometidos com esses amores, cada um de nós escolhia a parte mais amada para iniciar a refeição. Quase sempre a sequência lógica prevalecia: mãe, pai, avó e avô. Raras vezes essa harmonia era quebrada, e quando isso acontecia nem precisava investigar: havia uma surra atrelada a isso. Uma surra dada ou uma surra prometida. Se bem que isso era muito particular. Se havia alguma inversão, ninguém comentava. Acontecia dentro ...

Planta Colhe,Um poema procurando uma canção, Arnaldo Antunes

o arroz que se planta se colhe o amor que se planta se colhe o que vai volta um dia mais forte o que fica escondido explode o feijão que se planta se colhe solidão que se planta se colhe se fugir a estrada te escolhe e o destino também não dá mole ao redor pra onde quer que se olhe a saída é uma porta que encolhe aflição que se planta se colhe algodão que se planta se colhe se cair nessa chuva se molhe sempre há sede pra dar mais um gole toda culpa se planta e se colhe na garupa do tempo que corre cada grão que se planta se colhe furacão que se planta se colhe cada um inaugura sua prole pedra dura procura água mole tudo vem quando o tempo é propício todos têm sua porção precipício o que sabe não busca sentido o que sobe retorna caído ilusão que se planta se colhe confusão que se planta se colhe num segundo o desejo te engole só não corre esse risco quem morre