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Mostrando postagens com o rótulo Raimundo

Fantasmas... conto de Osman Lins

     Era um trabalhador. Caíssem em chuva todas as nuvens do céu, ou queimasse o sol as flores dos  vergeis, nada o afastava da rotina impassível do seu viver. À noite, voltava suado, mas alegre: cansado, mas satisfeito. A esposa esperava-o sempre com o café coado de fresco, morno, cheiroso, entrando pelas narinas, gostosamente... E quantas vezes, nas noites de lua, saía Serafim para trabalhar? Aquele pedaço de terra cultivada era a sua maior obsessão. Quando a chuva caía, na sua ablução solícita e universal, limpando as folhas, aguando as flores, molhando tudo, então era uma festa. Mas, ai dele se a chuva era demais... As gotas esparsas iam chegando formando poças, gerando regos que se enfureciam na transposição de sua grandeza efêmera. Iam por ali afora, pelo campo, pelo  seu mundo, cavando o chão, arrancando dolorosamente numa insensibilidade amarga as mandiocas promissoras e os canaviais verde-amarelos. Mas não desanimava nunca. E no fim do ano tinha sempre ...

Os Três Mal Amados, João Cabral de Melo Neto

JOÃO: Olho Teresa. Vejo-a sentada aqui a meu lado, a poucos centímetros de mim. A poucos centímetros,  muitos quilômetros. Por que essa impressão de que precisaria de quilômetros para medir a distância, o afastamento em que a vejo neste momento? RAIMUNDO: Maria era a praia que eu frequentava certas manhãs. Meus gestos indispensáveis que se cumpriam a um ar tão absolutamente livre que ele mesmo determina seus limites, meus gestos simplificados diante de extensões de que uma luz geral aboliu todos os segredos. JOAQUIM: O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome. JOÃO: Olho Teresa como se olhasse o retrato de uma antepassada que tivesse vivido em outro século. Ou como se olhasse um vulto em outro continente, através de um telescópio. Vejo-a como se a cobrisse a poeira tenuíssima ou o ar quase azul que envo...

Quadrilha, Carlos Drummond de Andrade e Zack Magiezi

Quadrilha Carlos Drummond de Andrade João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história. Quadrilha Zack Magiezi João que amava Teresa que curtia as fotos de Raimundo que seguia todos os posts da Maria  que adorava conversar no Whatsapp com Joaquim  que acha perfeita a vida fotográfica de Lili,  que na verdade era uma solitária.  João foi para os Estados Unidos, Teresa deletou sua conta,  Raimundo criou um perfil fake para continuar seguidor, Maria foi bloqueada, Joaquim sentiu-se invisível e Lili cansou de falsificar felicidade que às vezes está   no simples encontro real.