Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Holanda

Lua Crescente Em Amsterdã, conto de Lygia Fagundes Telles

     O jovem casal parou diante do jardim e ali ficou, sem palavra ou gesto, apenas olhando. A noite cálida, sem vento. Uma menina loura surgiu na alameda de areia branco-azulada e veio correndo. Ficou a uma certa distância dos forasteiros, observando-os com curiosidade enquanto comia a fatia de bolo que tirou do bolso do avental.      – Vai me dar um pedaço deste bolo? — pediu a jovem estendendo a mão. — Me dá um pedaço, hem, menininha?      – Ela não entende — ele disse. A jovem levou a mão até a boca.      – Comer, comer! Estou com fome — insistiu na mímica que se acelerou, exasperada. — Quero comer!      – Aqui é a Holanda, querida. Ninguém entende.      A menina foi se afastando de costas. E desatou a correr pelo mesmo caminho por onde viera. Ele adiantou-se para chamar a menina e notou então que a estreita alameda se bifurcava em dois longos braços curvos que deviam se dar as mãos lá no fim, ...

Clarice Lispector - Dia Nacional da Tulipa

  “A  sempre-viva é sempre morta.Sua secura tende à eternidade.O nome em grego quer dizer sol de ouro.  A margarida é florzinha alegre.É simples e à tona da pele,Só tem uma camada de pétalas.O centro é uma brincadeira infantil. A formosa orquídea é exquise e antipática.   Não é espontânea.Requer  redoma.Mas é mulher esplendorosa e isto não se pode negar.Também não se pode negar que é nobre porque é epífita.Epífitas nascem sobre outras plantas sem contudo tirar delas a nutrição. Estava mentindo quando disse que era antipática.Adoro orquídeas.Já nascem artificiais, já nascem arte. Tulipa é tulipa na Holanda.Uma única tulipa simplesmente não é. Precisa de campo abert o para ser.” Clarice.Água viva .Rio de Janeiro: editora. Artenova,1973 Nota:Na Holanda comemora-se o dia nacional das tulipas no terceiro sábado de janeiro. A temporada de Tulipa nos Países Baixos começa com a celebração espetacular do Dia Nacional de Tulipa na Praça Dam em Amesterdão. O impressio...

Ser Levado, Vitorino Nemésio

Tivesse eu sido o que não fui, Hoje era o mesmo projectado António, Pedro, Lopo, Rui, Quatro semblantes num só estado.

Janelas de Hotéis: Cecília Meireles

     Quem sabe o que vamos encontrar quando, num hotel desconhecido, abrimos pela primeira vez a janela do quarto? Por trás das cortinas, das vidraças, das veneziana, há uma inocente imagem desprevenida que se entrega aos olhos - à nossa alma, afinal - coma mais tranquila naturalidade.    Oh! inesperadas imagens que assinalam o nosso primeiro encontro com uma cidade; que são  como estampas de um livro de viagens subitamente aberto; que se tornam inesquecíveis e, muitas vezes, são o anúncio e a síntese de quanto iremos ver depois em nossas andanças pelas ruas, em nossa aproximação de pessoas e objetos.