O desembargador Gabriel Ferreira de Araújo, aos domingos, recebia todos os filhos, netos e agregados para almoçar. Mesmo viúvo, mantinha o costume. Gostava da reunião, mas não participava muito da conversa. Era muito rápida, não entendia tudo. Preferia acompanhar à distância. Foi assim também naquele domingo. Estavam todos preocupados com o Natal, percebia. Mais por sua viuvez recente. Ninguém sabia direito como ia ser. Nem os filhos, nem os agregados. Ninguém falava nada, mas havia algo no ar. De repente o tema veio à mesa, trazido pela mais velha. Cuidadosa, tocou no assunto como se nada houvesse. Ceia mais cedo ou ceia mais tarde? Assim tão cedo? E os agregados? E as famílias dos agregados? E os namorados? Quem traz o quê? Naquela conversa toda havia apenas a certeza da presença da Almerinda, que continuava cuidando da casa e, sobretudo, dele mesmo. Excelente pessoa, a Almerinda. Ele ouviu tudo com m...