Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Paulo César Pinheiro

Paradeiro, Paulo César Pinheiro

Na noite acesa De um luar certeiro Meu paradeiro Foi a velha mesa De onde fui presa Quando aventureiro Do amor primeiro Que me deu tristeza. De uma beleza De não ter parceiro O candeeiro Branco da Princesa Causou surpresa A esse violeiro Que deu-se inteiro À sua boniteza. De Sua Alteza Sendo cavaleiro Pus no tinteiro A pena com firmeza E com presteza Fui seu mensageiro. Findo o roteiro E com delicadeza Deixo na mesa Um verso brasileiro Ao Cancioneiro E à Língua Portuguesa. - Paulo César Pinheiro, do livro "Sonetos sentimentais pra violão e orquestra". Editora 7Letras, 2014. Imagem: Rede Brasil

Ilha, Paulo César Pinheiro

  De noite a ilha é quietude, O som do mar só na beira, O continente à distância, E a luz de alguma traineira. Pra iluminar só candeira, Estrela, lua ou fogueira, E em noite de tempestade O branco da cachoeira. Ali gerei minha filha E fiz cantiga praieira. Ali vivi como nunca A cor da minha bandeira. Ali senti que, bem antes De alguém cruzar a fronteira, Devia ser mais que o Éden A imensidão brasileira - Paulo César Pinheiro, no livro "Clave de sal – poemas de mar". Gryphus, 2003

Iemanjá Rainha do Mar

Quanto nome tem a Rainha do Mar? Quanto nome tem a Rainha do Mar? Dandalunda, Janaína, Marabô, Princesa de Aiocá, Inaê, Sereia, Mucunã, Maria, Dona Iemanjá. Onde ela vive? Onde ela mora? Nas águas, Na loca de pedra, Num palácio encantado, No fundo do mar. O que ela gosta? O que ela adora? Perfume, Flor, espelho e pente Toda sorte de presente Pra ela se enfeitar. Como se saúda a Rainha do Mar ? Como se saúda a Rainha do Mar? Alodê, Odofiaba, Minha-mãe, Mãe-d’água, Odoyá! Qual é seu dia, Nossa Senhora? É dia dois de fevereiro Quando na beira da praia Eu vou me abençoar. O que ela canta? Por que ela chora? Só canta cantiga bonita Chora quando fica aflita Se você chorar. Quem é que já viu a Rainha do Mar? Quem é que já viu a Rainha do Mar? Pescador e marinheiro, Quem escuta a Sereia cantar. É com o povo que é praieiro Que Dona Iemanjá quer se casar. ______________________________________________________ Álbum:  Mar de Sophia . artista & intérprete:  Maria Bethânia . canção:...

Começa Assim...

     Tomei umas tirimba com niamba branca - Coré gritou. E gargalhou unisex. Zambiano, acostumado, lambeu o beiçoléu. Olhou pro riso do giango, esguichou cuspo no massapé, e tornou a chorar por dentro.  Era a disgrameira  do amô por quenga que zunia na caixa do peito: Zulina formosura. Coré foi um que se acabou no tampo negro do campo santo dela. Zam sabia que estava quase no inferno dele. Chupou tabaco pisado pros rumos do ronco da traqueia, tossiu e resmungou: - Caí sem dó. Coré morreu  muito. Eu... morri pela primeira vez.      Zulina passava ao largo, no tumbeiro do cais, mexendo popa africana pra marujo novo. O olho brilhava de mar puro e liso, com pedra pontuda por trás da maré. Rodamunho ca curva do olho, e navio  muito navio no fundo. coré foi só um da esquadra. Já restava com limo e coral. Zâmbi ainda era começo de ferrugem e craca. Criada no marejo, a fêmea cresceu com pés na areia e as vergonhas no sal. Dentes de coco branco e...

MPB - Poesia: O Canto das Três Raças, Paulo César Pinheiro

Ninguém ouviu um soluçar de dor No canto do Brasil. Um lamento triste sempre ecoou Desde que o índio guerreiro Foi pro cativeiro e de lá cantou. Negro entoou um canto de revolta pelos ares No Quilombo dos Palmares, onde se refugiou. Fora a luta dos inconfidentes Pela quebra das correntes. Nada adiantou. E de guerra em paz, de paz em guerra, Todo o povo dessa terra Quando pode cantar, Canta de dor. E ecoa noite e dia: é ensurdecedor. Ai, mas que agonia O canto do trabalhador... Esse canto que devia ser um canto de alegria Soa apenas como um soluçar de dor Imagem: Geografia & Cia Ouça a música com: Clara Nunes

Crônicas da M.P.B: Canto do Trabalhador - grupo Casuarina

Canto do Trabalhador João Nogueira / Paulo César Pinheiro Vamos trabalhar sem fazer alarde  Pra pisar com força o chão da cidade  A vida não tem segredo Quem sentado espera a morte é covarde  Mas quem faz a sorte é que é de verdade  É só acordar mais cedo   É só regar, pra alimentar o arvoredo  Por essa luta eu não retrocedo  Pra ver toda a mocidade  Com os frutos da liberdade  Escorrendo de entre os dedos  Que é pra enterrar de uma vez seus medos  Vamos trabalhar sem fazer alarde  Pra pisar com força o chão da cidade  A vida não tem segredo  Quem sentado espera a morte é covarde  Mas quem faz a sorte é que é de verdade  É só acordar mais cedo   Se não mudar, o barco bate no rochedo  E vai pro fundo como um brinquedo  É bom cantar a verdade  Pro povo de uma cidade  E deixar de arremedo  E aí vai virar ...

Praia do Porto, Paulo César Pinheiro

Na praia do porto amanheço. Praia do Porto, imagem: Museu do Una Na pedra do cais tomo assento. Na água salgada eu me benzo. No brilho do sol me oriento. Na orla deserta eu caminho. Na trilha de concha me enfeito. No espelho de prata mergulho. No pé da palmeira me deito. No vento do mar me penteio. No cheiro do sal me perfumo. Na rede de palha balanço. No azul do horizonte me aprumo. Na estrela da tarde te chamo. Na ponte de tábuas te vejo. Num vão de maré te contemplo. Na luz do luar te desejo. No branco da espuma te encontro. Na areia do chão te desenho. No ronco das ondas te encanto. No sangue da aurora te tenho. No corpo moreno eu me esvaio. Na arrebentação me energizo. Na vela do barco adormeço. No canto do mar me eternizo.

Crônica cantada: Áfrico. Sérgio Santos e Paulo César Pinheiro

Quem foi que fez brasileiro bater Tambor de jongo? De onde é que sai quem batuca com o pé Terno-de-Congo? Quem é, me ensina quem foi Que fez o povo dançar Tambor-de-Mina, Bumba-meu-boi, Boi-bumbá, O bambaquerê, O samba, o ijexá, Quando o Brasil resolveu cantar? Quem foi que pôs o lamento na voz Da lavadeira? Quem fez aqui baticum, candomblé E a capoeira? Quem trouxe o maracatu? Quem fez o maculelê, Mineiro-pau, côco, caxambu, Bangulê, A xiba, o lundu, O cateretê, Quando o Brasil resolveu cantar? Me diz quem foi que fez A dor se transformar Em som de carnaval, Em batucada, Em melodia? Que força fez mudar Toda tristeza Em alegria, Quando o Brasil resolveu cantar?