As famílias costumam guardar segredos entre os mais velhos. Pode ser a inesperada riqueza de um primo, o sumiço de um tio ou o porquê de um pai silencioso. Às vezes, não se conta todo o segredo. Às vezes, os segredos se perdem. Outras vezes, não. Há os segredos leves. Mas há também os pesados. Graves. Passei minha infância numa divertida rua de terra. As casas tinham muitas crianças e, porque sem saída, a rua era nossa. As meninas brincavam na calçada. Os meninos jogavam bola até o escurecer. Certo dia, um menino mudou para nossa rua. Branquelo do cabelo ruivo. Mal falava português. Assim conhecemos um judeu, ninguém sabia o que era um judeu. O menino foi se aproximando aos poucos. Era sorridente. Meio tímido, claro, mas se deu bem. Entrou para a turma em pouco tempo. Descobrimos, com ele, os horrores de um campo de concentração. Não sabíamos o que era isso. Soubemos que a mãe dele escapara de um....