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Vida em Branco, poema de Zélia Duncan

Você não precisa de artistas? Então me devolve os momentos bons Os versos roubados de nós Arranca o rádio do seu carro Destrói a caixa de som Joga fora os instrumentos E todos aqueles quadros Deixa as paredes em branco Assim como é sua cabeça Seu céu de cimento Silêncio cheio de ódio Nenhuma canção pra ninar E suas crianças em guarda Esperando a hora incerta Pra mandar ou receber rajadas Você não precisa de artistas? Então fecha os olhos, mora no breu Esquece o que a arte te deu Nenhum som, nenhuma cor Nenhuma flor na sua blusa Nem Van Gogh, nem Tom Jobim Nenhum Gonzaga, ou Diadorim Você vai rimar com números Vai dormir com raiva e acordar sem sonhos, sem nada E esse vazio no seu peito Não tem refrão pra dar jeito Não tem balé pra bailar Você não precisa de artistas? Então nos perca de vista Nós deixe de fora Desse seu mundo perverso Sem graça, sem alma. 

O Artista Inconfessável,João Cabral de Melo Neto

Fazer o que seja inútil. Não fazer nada de útil. Mas entre fazer e não fazer mais vale o inútil do fazer. Mas não fazer para esquecer que é inútil: nunca o esquecer. Mas fazer o inútil sabendo que ele é inútil, e bem sabendo que é inútil e que seu sentido não será sequer pressentido, fazer: porque ele é mais difícil do que não fazer, e dificil- mente se poderá dizer com mais desdém, ou então dizer mais direto ao leitor Ninguém que o feito o foi para ninguém.