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Mostrando postagens com o rótulo Aracaju

Memória de Livros, João Ubaldo Ribeiro

Aracaju, a cidade onde nós morávamos no fim da década de 40, começo da de 50, era a orgulhosa capital de Sergipe, o menor estado brasileiro (mais ou menos do tamanho da Suíça). Essa distinção, contudo, não lhe tirava o caráter de cidade pequena, provinciana e calma, à boca de um rio e a pouca distância de praias muito bonitas. Sabíamos do mundo pelo rádio, pelos cinejornais que acompanhavam todos os filmes e pelas revistas nacionais. A televisão era tida por muitos como mentira de viajantes, só alguns loucos andavam de avião, comprávamos galinhas vivas e verduras trazidas à nossa porta nas costas de mulas, tínhamos grandes quintais e jardins, meninos não discutiam com adultos, mulheres não usavam calças compridas nem dirigiam automóveis e vivíamos tão longe de tudo que se dizia que, quando o mundo acabasse, só íamos saber uns cinco dias depois. Mas vivíamos bem. Morávamos sempre em casarões enormes, de grandes portas, varandas e tetos altíssimos, e meu pai, que sempre gostou das últim...

Tia Darci Ouve Vozes, Antonio Carlos Viana

           Quando tia Darci voltou a ouvir vozes, eu não era mais tão criança. Ninguém lhe deu atenção. Diziam que era meio pancada só porque era solteirona. Minha mãe dizia que era falta de homem, que, se ela tivesse um ao lado, ia ver coisas bem mais interessantes, não ia ficar prestando atenção em vozes do outro mundo. Mas eu sentia verdade na voz de tia Darci. Quando ela disse que uma nova prova ia começar para a família, todo mundo ficou nervoso, mas preferiu disfarçar, dizendo que espíritos não voltam, se é que há espíritos. Como tia Darci viu que só eu deixava transparecer confiança em suas palavras, se pegou comigo e me chamava sempre que recebia um recado do além. Eu perguntava como era a voz. Ela dizia que não chegava a ser uma voz assim como quando a gente fala. Era uma coisa que se espalhava dentro dela, que ficava azucrinando e só lhe dava descanso quando ela parava tudo o que estivesse fazendo para escutar. Ela vivia fazendo jejuns e...

Recomendo:Sargento Getúlio.

     Somente agora estou lendo o primeiro sucesso de João Ubaldo Ribeiro: Sargento Getúlio , foi lançado em 1971 e lhe rendeu o prêmio Jabuti do ano seguinte como autor revelação.  Pode-se dizer que todo o livro é um monólogo do Sargento, que antes de aposentar-se recebe a incumbência de levar um preso, desafeto político de um mandão de Paulo Afonso (BA) até Aracaju (SE).         O personagem vai falando do que pensa a respeito do preso, da situação da estrada por onde passa,  do calor, da chuva ou estiagem, dos lugares e pessoas que encontra no trajeto. Vai resmungando e se alimentando de ira, vai contando as brigas e as violências que cometeu,  mistura um assunto com outro, delira, questiona lei e costumes...       Sargento Getúlio é daqueles homens que faz questão de cumprir uma ordem ou uma promessa a qualquer custo.  Foi obrigado a levar  o prisioneiro até Aracaju  ...