Então,quando fazia a barba, um verso me saltou à cabeça, cortante como a própria lâmina de barbear: "Acordo para a morte" Era o poema do Drummond: "Barbeio-me, visto-me, calço-me. É meu último dia"... O voo estava marcado para as duas da tarde, e ainda eram onze da manhã. A verdade é que até então viajara sempre de avião com o mais leviano destemor. Só que aquele era o meu dia Fui para a cidade com o Otto. Acabei lhe confiando meu pressentimento: - Você acha que esse avião vai cair? Ele sabia de cor o poema. Como se não bastasse, a primeira pessoa com quem esbarramos, ali na Esplanada, foi o próprio poeta. Otto lhe expôs sem rodeios o meu problema: Ele vai hoje para Belo Horizonte de avião e está com pressentimento de que o avião vai cair . Você, que entende dessas coisas,que é que acha...