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As Ruas, Mia Couto

No tempo  em que havia ruas,  ao fim da tarde  minha mãe nos convocava:  era a hora do regresso.  E a rua entrava  connosco em casa.  Tanto o Tempo  morava em nós  que dispensávamos futuro.  Recolhida em meu quarto,  a cidade adormecia  no mesmo embalo da nossa mãe.  À entrada da cama,  eu sacudia a areia dos sonhos  e despertava vidas além.  Entre casa e mundo  nenhuma porta cabia:  que fechadura encerra  os dois lados do infinito?  - Mia Couto, em “Tradutor de chuvas”.  Lisboa: Editorial Caminho, 2011. Nota: o blog manteve a grafia original