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A Noite, Varlam Shalámov

                          O jantar terminou. Gliébov lambeu a tigela demoradamente; juntou com cuidado as migalhas de pão da mesa na palma da mão esquerda, ergueu a mão até a boca e lambeu-a com zelo. Sem engolir, sentiu na boca como a saliva densa e ávida envolvia a bolinha de migalhas de pão. Gliébov não poderia dizer se isso era saboroso. Sabor era outra coisa, pobre demais em comparação com aquela sensação apaixonada e desprendida dada pela comida. Gliébov não tinha pressa de engolir: o próprio pão derretia na boca, e derretia rapidamente. Os olhos brilhantes e encovados de Bagrietsov olhavam fixamente para dentro da boca de Gliébov; não havia em ninguém força de vontade poderosa o bastante para fazer desviar os olhos da comida que desaparecia na boca de outro ser humano. Gliébov engoliu a saliva, e, no mesmo instante, Bagri...