“Você quer ver”, meu amigo De Jakels me dissera, “está bem, arranje uma fantasia de dominó e uma máscara, um dominó bem elegante de cetim preto, calce uns escarpins e, desta vez, meias de seda preta, e espere-me em casa na terça-feira. Irei pegá-lo por volta das dez e meia.” Na terça-feira seguinte, envolto nas pregas farfalhantes de uma longa cama-lha, com a máscara de veludo e barba de cetim presa atrás das orelhas, esperei meu amigo De Jakels na minha garçonnière da rua Taitbout, enquanto esquentava nas brasas da lareira meus pés arrepiados pelo contato irritante da seda; lá de fora, chegavam- me do bulevar, confusamente, o som das cometas e os gritos desesperados de uma noite de Carnaval. Pensando bem, era um tanto estranha e até inquietante, a longo prazo aquela festa solitária de um homem mascarado afundado numa poltrona, no claro-escuro de um térreo atulhado de bibelôs, ensurdecido por tapeçarias, e com espelhos pendurad...