Antes de conhecer Dona Heloísa, viúva de Graciliano Ramos, eu tinha algum entendimento sobre o autor de Vidas Secas. O encontro se deu em novembro de 77, na Chácara Santo Antonio, bairro de Santo Amaro, São Paulo. Ali eu já sabia que ninguém pode escrever a vida de um homem senão ele mesmo, como confessou Rousseau. Graciliano Ramos, o mais perfeito e significativo dos romancistas brasileiros pós-modernistas, não fugiu dessa assertiva. Efetivamente, Mestre (ou Major) Graça – assim o chamavam seus contemporâneos – escreveu pedaços de si, da vida que viveu, da ambiência ao seu redor. Seus personagens, encontradiços nos campos e ruas deste país, ou refletidos nos caminhos em desalinho de sua imaginação, têm faces alencarianas e machadianas. São substantivos e não adjetivos. São, sobretudo, humanizados, mesmo quando situados em condições precárias de uma cidadezinha, como João Valério, em Caetés, ou moralmente indignos, como Paulo Honório, em São Bernardo, ou, até, psicologicamente d...