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Mostrando postagens com o rótulo Sinhá Vitória

Festa, Graciliano Ramos

     A família foi à festa de Natal na cidade. Todos vestidos com suas melhores roupas, num traje pouco comum às suas figuras, o que lhes dava um ar ridículo. A caminhada longa tornava-se ainda mais cansativa por causa daquelas roupas e sapatos apertados. O mal-estar era geral, até que Fabiano cansou-se da situação e tirou os sapatos, metendo as meias no bolso, livrando-se ainda do paletó e da gravata que o sufocava. Os demais fizeram o mesmo. Voltaram ao seu natural. Baleia juntou-se ao grupo. Chegando à cidade, foram todos lavar-se à beira de um riacho antes de se integrarem à festa. Sinhá Vitória carregava um guarda-chuva. Fabiano marchava teso. Os meninos maravilham-se, assustados, com tantas luzes e gente. A igreja, com as imagens nos altares, encantou-os mais ainda. O pai espremia-se no meio da multidão, sentindo-se cercado de inimigos. Sentia-se mangado por aquelas pessoas que o viam em trajes estranhos à sua bruta feição. Ninguém na cidade era bom. Lembrou...

Os Ramos Ocultos de Graciliano, Antonio Falcão

Antes de conhecer Dona Heloísa, viúva de Graciliano Ramos, eu tinha algum entendimento sobre o autor de Vidas Secas. O encontro se deu em novembro de 77, na Chácara Santo Antonio, bairro de Santo Amaro, São Paulo. Ali eu já sabia que ninguém pode escrever a vida de um homem senão ele mesmo, como confessou Rousseau. Graciliano Ramos, o mais perfeito e significativo dos romancistas brasileiros pós-modernistas, não fugiu dessa assertiva. Efetivamente, Mestre (ou Major) Graça – assim o chamavam seus contemporâneos – escreveu pedaços de si, da vida que viveu, da ambiência ao seu redor. Seus personagens, encontradiços nos campos e ruas deste país, ou refletidos nos caminhos em desalinho de sua imaginação, têm faces alencarianas e machadianas. São substantivos e não adjetivos. São, sobretudo, humanizados, mesmo quando situados em condições precárias de uma cidadezinha, como João Valério, em Caetés, ou moralmente indignos, como Paulo Honório, em São Bernardo, ou, até, psicologicamente d...