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Mostrando postagens com o rótulo Albert Camus

A Peste, Albert Camus - primeiras páginas.

     Na manhã de um dia 16 de abril dos anos de 1940, o doutor Bernard Rieux sai do seu consultório e tropeça num rato morto no meio do patamar. Nesse momento, afastou o bicho sem lhe prestar atenção e desceu a escada. Chegando à rua, porém, veio-lhe a ideia de que esse rato não estava no seu lugar e voltou atrás para prevenir o porteiro.  Perante a reação do velho Michel, sentiu melhor o que a sua descoberta tinha de insólito. A presença desse rato parecera-lhe apenas estranha, enquanto para o porteiro ela constituía um escândalo. A posição deste último era, aliás, categórica: não havia ratos em casa.  Por mais que o médico lhe afirmasse que havia um no patamar do primeiro andar e, provavelmente, morto, a convicção de Michel permanecia íntegra. Não havia ratos na casa, e era, pois, necessário que tivessem trazido aquele de fora. Em resumo, tratava-se de uma partida.      Nessa mesma noite, Bernard Rieux, de pé no corredor de edifício, procurava a...

Na Área, Armando Nogueira

Clarice Lispector: Há uma semana, não encontro no Rio uma pessoa amiga que não me pergunte: “Então, quando é que você vai aceitar o desafio da Clarice Lispector”? (Permita, leitor, explicar que eu tinha pedido, daqui, uma crônica de Clarice Lispector sobre futebol. Ela escreveu, escreveu uma crônica admirável; mas, num impulso de terna vingança, Clarice me multou: desafiou-me a perder o pudor e escrever sobre a vida). Agora, os cobradores de Clarice estão à minha porta, carinhosamente, exigindo a resposta, mas com uma impaciência que me angustia como a véspera de um grande jogo. Que dizer de um jogo que ainda não terminou? E mesmo quando termine, Clarice, o  match  de minha vida não justificará sequer resenha: é match-treino, sem placar, sem juiz, nem multidão. Por tudo! Que está bom assim, embora melhor se fosse uma pelada – mil meninos jogando a minha vida, alheios ao vento que às vezes persegue tanto o time da gente. Jamais seria ...