Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Meireles

O Doido, Artur Azevedo

Não havia dúvida: o pobre Canuto estava completamente doido. A princípio, foram uns acessos profundos de melancolia, um desejo de andar metido pelos cantos, com a cara para o lado da parede. Como se o mundo não lhe importasse para mais nada, contemplando as unhas, sorrindo. Vieram depois o monólogos, os longos monólogos incoerentes, em que ele não dizia coisa com coisa, até que um dia ficou furioso, quebrou pratos e garrafas, escangalhou um velho relógio d          e armário e, descendo ao terreiro da fazenda, espancou um moleque, matou algumas galinhas, e espojou-se no chão, às gargalhadas! A família fechou-se toda num quarto, aos gritos. Foram os pretos que subjugaram o doido e conseguiram metê-lo num pardieiro arruinado, que havia sido senzala noutro tempo, e amarrá-lo solidamente a uma viga. Imagine-se a aflição do obre Miranda, o velho fazendeiro, com o filho doido – um filho querido, rapaz inteligentíssimo, que concluíra o te...

Primavera, Cecília Meireles

   A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega. Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores. Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende. Oh! Primaveras distantes, depois do branco ...