Mário de Andrade passou o Carnaval de 1923 no Rio de Janeiro, encantou-se com a folia carioca e não foi visitar Manuel Bandeira em Petrópolis. No final de fevereiro, enviou uma carta ao amigo, argumentando a sua ausência. "Meu Manuel… Carnaval!… Perdi o trem, perdi a vergonha, perdi a energia … Perdi tudo. Menos minha faculdade de gozar, de delirar … Fui ordinaríssimo. Além do mais: uma aventura curiosíssima. Desculpa contar-te toda esta pornografia. Mas… que delícia, Manuel, o Carnaval do Rio! Que delícia, principalmente, meu Carnaval! […] Meu cérebro acanhado, brumoso de paulista, por mais que se iluminasse em desvarios, em prodigalidades de sons, luzes, cores, perfumes, pândegas, alegria, que sei lá!, nunca seria capaz de imaginar um Carnaval carioca, antes de vê-lo. Foi o que se deu. Imaginei-o paulistamente . […] Admirei repentinamente o legítimo carnavalesco, o carnavalesco carioca, o que é só carnavalesco, pula e canta e dança quatro dias sem parar. ...