Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens com o rótulo João Cabral de Melo Neto

Morte e Vida Severina. De que trata o poema de João Cabral de Melo Neto?

A história começa com a apresentação do protagonista, cujo nome é Severino. É um retirante. Ele é mais um entre tantos Severinos nordestinos. No seu ato migratório, encontra dois homens que levam um defunto em uma rede. O defunto é Severino Lavrador. Depois, o protagonista segue viagem. O retirante Severino pretendia seguir o rio Capibaribe, que o guiaria em sua jornada. Porém, o rio desapareceu devido à seca. Ainda assim, Severino segue seu caminho por várias vilas da região. Chega a uma casa onde está ocorrendo o velório de mais um Severino. Em seguida, cansado de tanto andar, decide parar e buscar um emprego. Avista uma mulher em uma janela e lhe pergunta sobre um possível emprego. Ela responde que trabalho tem, mas não de lavrador, devido à seca. Ele então vai em direção à Zona da Mata, onde assiste ao enterro de um “trabalhador de eito”. Em seguida, ele caminha rumo a Recife. Em Recife, quando para com o objetivo de descansar, perto do muro de um cemitério, acaba ouvindo a convers...

Os Três Mal Amados, João Cabral de Melo Neto

JOÃO: Olho Teresa. Vejo-a sentada aqui a meu lado, a poucos centímetros de mim. A poucos centímetros,  muitos quilômetros. Por que essa impressão de que precisaria de quilômetros para medir a distância, o afastamento em que a vejo neste momento? RAIMUNDO: Maria era a praia que eu frequentava certas manhãs. Meus gestos indispensáveis que se cumpriam a um ar tão absolutamente livre que ele mesmo determina seus limites, meus gestos simplificados diante de extensões de que uma luz geral aboliu todos os segredos. JOAQUIM: O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome. JOÃO: Olho Teresa como se olhasse o retrato de uma antepassada que tivesse vivido em outro século. Ou como se olhasse um vulto em outro continente, através de um telescópio. Vejo-a como se a cobrisse a poeira tenuíssima ou o ar quase azul que envo...

Prêmio Camões dos Brasileiros

  O Prêmio Camões foi instituído em Portugal em 1988 e concedido a escritores brasileiros por 11 vezes: 1990 - João Cabral de Melo Neto 1993- Raquel de Queiroz 1994 - Jorge Amado 1998 - Antônio Cândido 2000 - Autran Dourado 2003 - Rubem Fonseca. 2005 - Lygia Fagundes Telles 2008 - João Ubaldo 2010 - Ferreira Gullar 2012 - Dalton Trevisan 2014 - Alberto da Costa e Silva 2016 - Raduan Nassar 2019 - Chico Buarque 2022 - Silviano Santiago Agradeço a Natascha Duarte e Marisa Belo, pelas correções informadas.

Cão Sem Plumas, João Cabral de Melo Neto (poema na íntegra)

A cidade é passada pelo rio como uma rua é passada por um cachorro; uma fruta por uma espada. O rio ora lembrava a língua mansa de um cão, ora o ventre triste de um cão, ora o outro rio de aquoso pano sujo dos olhos de um cão. Aquele rio era como um cão sem plumas. Nada sabia da chuva azul, da fonte cor-de-rosa, da água do copo de água, da água de cântaro, dos peixes de água, da brisa na água. Sabia dos caranguejos de lodo e ferrugem. Sabia da lama como de uma mucosa. Devia saber dos polvos. Sabia seguramente da mulher febril que habita as ostras. Aquele rio jamais se abre aos peixes, ao brilho, à inquietação de faca que há nos peixes. Jamais se abre em peixes. Abre-se em flores pobres e negras como negros. Abre-se numa flora suja e mais mendiga como são os mendigos negros. Abre-se em mangues de folhas duras e crespos como um negro. Liso como o ventre de uma cadela fecunda, o rio cresce sem nunca explodir. Tem, o rio, um parto fluente e invertebrado como o de uma cadela. E jamais o vi ...

Afinal, O Que É Poesia?

  'Afinal, O Que É Poesia?': exposição marca o centenário de João Cabral de Melo Neto no Recife Por causa da pandemia, o centenário do poeta não pôde ser comemorado em 2020.  A exposição acontece agora no Museu Cais do Sertão de 23 de setembro até 20 de novembro. Data: de 23 de setembro a 20 de novembro Horários: de terça a sexta:  10h às 16h  sábados e domingos: 11h às 17h Ingressos: R$10,00 ( inteira) R$5,00 (meia) Nas terças-feiras a entrada é gratuita.

Volta a Pernambuco, João Cabral de Melo Neto

     Em 1952 durante a ação de caça às bruxas no governo Vargas, João Cabral e mais quatro colegas foram acusados de subversão, graças a um "amigo" que, remexendo nas gavetas de seu escritório, encontrou o rascunho de uma carta dirigida a um deles.  Nessa carta, meu pai pedia um artigo sobre a disputa pelo mercado brasileiro entre os ingleses, alemães  e japoneses. Esse documento foi entregue pelo "amigo" que o subtraiu ao Itamaraty e acabou nas mãos de Carlos Lacerda, que o publicou em matéria de capa na  Tribuna de Imprensa, no dia 27  de junho do mesmo ano. entre outras barbaridades, o jornal afirmava:   a tipografia passou a servir para imprimir boletins de seus novos "amigos". Valéry já lhe parece uma expressão da burguesia decadente. E quando Moscou pela boca de Aragon, mandou adorar Victor Hugo, ele passou a considerar Victor Hugo seu mestre, o seu modelo. Seus versos estão agora repletos de alusões, são panfletários, ardentes e, por s...

Num Monumento à Aspirina, João Cabral de Melo Neto.

Claramente: o mais prático dos sóis, o sol de um comprimido de aspirina: de emprego fácil, portátil e barato, compacto de sol na lápide sucinta. Principalmente porque, sol artificial, que nada limita a funcionar de dia, que a noite não expulsa, cada noite, sol imune às leis da meteorologia, a toda hora em que se necessita dele levanta e vem (sempre num claro dia): acende, para secar a aniagem da alma, quará-la, em linhos de um meio-dia. Convergem: a aparência e os efeitos da lente do comprimido de aspirina: o acabamento esmerado desse cristal, polido a esmeril e repolido a lima, prefigura o clima onde ele faz viver e o cartesiano de tudo nesse clima. De outro lado, porque lente interna, de uso interno, por detrás da retina, não serve exclusivamente para o olho a lente, ou o comprimido de aspirina: ela reenfoca, para o corpo inteiro, o borroso de ao redor, e o reafina. (Educação Pela Pedra- 1966)

Nascido em 9 de janeiro: João Cabral de Melo Neto

O Poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto, faria hoje 100 anos. Para quem está  acostumado a ligar o autor  a Morte e Vida Severina,  recomendo assistir a essa obra em animação.  Nunca viu?  Vai lá.  Mas se você quiser vê-lo como um avô ou até como apreciador de futebol, tenho essas sugestões: Esta criancinha é Dandara que teve um avô apaixonado, como a maioria dos netos, mas com o privilégio deste avô ser um poeta. Me devo isso esse livro. A filha do poeta, Inês Cabral, estava fazendo o filme O Auto do Frade, baseado no poema do mesmo nome, em 2013 quando fiz essa postagem. O poema de João Cabral de Melo Neto conta a história de Frei Caneca. Não sei se o filme ficou pronto. Alguém me informa? Aprendi com Juca Kfouri  e com Inês Cabral sobre o atleta e torcedor João Cabral.  Como sabemos João Cabral de Melo Neto foi jogador do Santa Cruz F.C do Recife porque a mãe dele queria, mas ele torcia por outro time o América....

Morte e Vida Severina | Animação - Completo

Um Baobá no Recife, João Cabral, de Melo Neto

Recife. Campo das Princesas.  Lá tropecei com um baobá. Crescido em frente das janelas  do governador que sempre há. Aqui, mais feliz, pode ter úmidos que ignora o Sahel;  dá-se em copudas folhas verdes que dão nossas sombras de mel Faz de jaqueiras, cajazeiras, se preciso, de catedral; faz de mangueiras, faz de sombra que adoça nosso litoral.  2  Na parte nobre do Recife,  onde seu rebento pegou, vive,  ignorado do Recife,  de quem vai ao governador. Destes nenhum pensou (se o viu)  que na África ele é cemitério:  se no tronco desse baobá enterrasse os poetas de perto,  criaria, ao alcance do ouvido,  senado sem voto e discreto:  onde o sim valesse o silêncio. Imagem: OxeRecife

Brasil 4 x 0 Argentina, João Cabral de Melo Neto

Quebraram a chave da gaiola João Cabral quando jogador.   e os quadros-negros da escola. Rebentaram enfim as grades que os prendiam todas as tardes Nos fugitivos, é a surpresa, vendo que tomaram-se as rédeas (dos técnicos mudos, mas surpresos brancos, no banco, com medo). Estão presos os da outra gaiola que não souberam abrir a porta:   ou não o puderam, contra o jogo dos que estavam de fora, soltos. De certo também são capazes de idênticas libertinagens uma vez soltos, porém como se liberar daquele tronco em que os aprisionaram os táticos argentinos, também gramáticos. E enquanto os fugitivos seguem com a soltura, a sem lei que os regem, nos bancos é uma a indignação: dos que vão vencendo e dos que não: “Voltamos ao futebol de ontem? Voltou a ser um jogo dos onze Voltou a ser jogar de pião? Chegou até cá a subversão? Como é possível haver xadrez Sem gramática, bispos, reis?” Fonte: Carta Maior Imagem: Futebol e Poesi...