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Mostrando postagens de outubro, 2021

Confidência de Um Itabirano, Carlos Drummond de Andrade

Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas. E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação. A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes. E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana. De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço: esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil, este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas; este orgulho, esta cabeça baixa... Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Hoje sou funcionário público. Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói! Imagem: sobrado onde C.D.A viveu até os 13 anos de idade.

As Mídias Sociais Não Estão Nos Deixando Mais Solitários, Suzana Valença

  Dentre as várias preocupações que nós temos sobre o tempo que dedicamos à internet, a solidão é uma das mais tristes. No meio da noite, sem conseguir dormir, você pega o celular e começa a passar imagens no Instagram sem prestar muita atenção. Logo, você lembra de algum post sensacionalista que leu em algum lugar e começa a se perguntar se não é verdade:   “as redes sociais estão nos tornando mais solitários?” . Li bastante sobre isso ultimamente e tenho uma boa e uma má notícia. A boa notícia é que não, o Facebook e o Twitter não estão criando um sentimento de solidão. A má notícia é que o problema pode ser ainda mais grave. Em um capítulo sobre conexões virtuais no livro  The Friendship Cure , a jornalista  Kate Leaver  resume a questão: “Colocar toda a culpa na porta de Mark Zuckerberg porque ele inventou o Facebook em 2004 é simplista e inútil. Eu acredito que  nossa solidão é mais profunda do que a mídia social  e é causada por uma miríade de fatores”. Estamos solitários porque

O Conto de Blimundo ( Cabo Verde, África)

     Havia um boi chamado Blimundo. Era grande, forte e amante da vida e da liberdade. Além disso, era muito amado e respeitado por todos, pois sabia pensar por si próprio, além de ser muito gentil com todos. Ao saber da existência de criatura tão autêntica, Senhor Rei perguntou-se que boi seria esse, que ousava ser tão livre em seus posicionamentos e fazendo com que os outros bois lhe seguissem o exemplo. Se ele continuasse assim, quem faria, depois, o trabalho pesado do reino?       Ordenou, então, que Blimundo fosse pego morto ou vivo, a trazido até a sua presença. Os homens do Senhor Rei saíram em busca do boi, mas este os encontrou primeiro e deu um fim neles. Ao saber da notícia, Senhor Rei reuniu os homens mais valentes do reino e os mandou capturar Blimundo, e os homens partiram. O boi, novamente, deu cabo dos homens. Quando recebeu tão triste notícia, Senhor Rei desesperou-se, mas logo ouviu falar de um rapaz que fora criado no borralho da cinza e que se prontifica a ir busca

Querido Homem Aranha, Mariana Salomão Carrara

      Querido Homem-aranha,  meu nome é Maria Carmem (Carmem com m) e eu não tenho superpoderes. Eu tenho um pouco de pena de você porque seu tio morreu por culpa sua e odeio quando uma coisa ruim é culpa minha, tipo quando meus pais não puderam ir na festa de ano novo porque eu tomei chuva e tive pneumonia. Acho que se um bicho fosse me morder pra eu virar super-heroína eu nunca ia escolher aranha. A aranha tem muitas pernas e é sozinha demais lá em cima na teia tanto tempo esperando alguém aparecer. E quando um inseto finalmente gruda ali, ela passa uns minutos olhando, imaginando como seria viver com ele. Daí ela mata o visitante. Uma vez numa viagem eu vi uma aranha comendo um vaga-lume que não parava de piscar. Ele já devia estar sem as asas e sem as perninhas e mesmo assim ficava acendendo no canto do teto. Achei a aranha tão cruel, espero que você mate os seus vilões muito mais depressa.       Será que o vaga-lume pisca de dor? Se eu pudesse brilhar de dor eu seria um escândalo

Newsletter Simpática e Instigante

  Como ganhei seguidores sem postar nada O título deste email não tem nada a ver com a vibe da news, mas foi isso mesmo que aconteceu.   Não posto nada no meu instagram profissional desde 7 de setembro, mas continuei ganhando seguidores no ritmo de sempre.   O “segredo” foi que, apesar de não postar, eu continuei interegindo. Quis trazer para cá essa historinha só para dividir com você uma angústia que eu tenho com o mundo do marketing digital e talvez também com a vida: estamos pensando em mil estratégias para chamarmos atenção e nos esquecendo de dar atenção para os outros? Eu não sei a resposta, mas estou sentindo falta de conversas que sejam verdadeiras trocas, especialmente online. Vocês também têm essa agonia? Como resolvem? Socorro! Ainda nesse tema, lembrei que há alguns anos escrevi sobre como  a gente levou para a vida pessoal essa coisa de ter que ganhar mais seguidores  que, na verdade, só faz sentido para empresas (e olhe lá). Noooosa, acabei de lembrar também da história

A Escritora E Uma Receita, Natascha Duarte

Oi, Mar. Meu nome é Eu, diz a mulher. Não nos encontrávamos há tempos. Você deve ter se esquecido de mim. Essa nossa re-união só foi possível graças aos cientistas, sabia? O mar pergunta: Cientistas astronautas? Não, ela responde, médicos, farmacêuticos, pesquisadores, enfermeiros… Que alegria ver essa praia voltando à vida, prossegue o mar cheio de bossa, bem vindos ao nosso re-encontro cármico! Olhe, Mar, aquela é a Clarice, ali no alto, vês? Vou lá falar com ela. Deseje-me boa sorte! Pouco depois: Clarice, a mulher agora está ao lado da famosa estátua de bronze, chego com uma proposta e uma história. Você quer ser minha amiga? Tenho algo a te oferecer e não é pouco. Ouça, é ouro o que te ofereço, poeta (é isso o que ela é!). Dar-te-ei a receita de biscoitos de queijo da minha tia Celuta. Tia Celuta fazia biscoitos e aos domingos lasanha que eu, meus pais e irmãos comíamos após a missa das 10, na Igreja Imaculado Coração de Maria. Minha tia morreu carola, Clarice, e dizem que vi

Clube Errante: A Dama das Camélias, Alexandre Dumas Filho. Leitura de Outubro

 Um  dos mais célebres romances do século XIX,  A Dama das Camélias , de Alexandre Dumas, o filho, publicado em 1848 com enorme sucesso, foi adaptado, no ano seguinte, para teatro pelo próprio autor, mas só representado em 1852. Conta-nos a história de amor da belíssima plebeia Margarida Gautier com um jovem da alta burguesia francesa, Armand Duval. Deixando o  glamour  de  Paris , os dois amantes retiram-se para o campo, mas o pai de Armand procura impedir esta relação, implorando a Margarida que deixe o filho devido ao bom nome da família. Margarida, infeliz, aceita abandonar o seu amado, dizendo-lhe que está comprometida, mas enquanto tenta esquecê-lo, mergulhando de novo na vida cortesã, adoece gravemente com tuberculose. Quando Armand Duval descobre que a renúncia ao amor por parte de Margarida Gautier resulta da pressão do seu pai, é já muito tarde... A inspiradora deste romance foi a jovem cortesã Marie Duplessi (1824-1847) que Alexandre Dumas filho conheceu em Saint-Germain-en

Espinoza, Machado de Assis

Gosto de ver-te, grave e solitário, Sob o fumo de esquálida candeia, Nas mãos a ferramenta de operário, E na cabeça a coruscante ideia. E enquanto o pensamento delineia Uma filosofia, o pão diário A tua mão a labutar granjeia E achas na independência o teu salário. Soem cá fora agitações e lutas, Sibile o bafo aspérrimo do inverno, Tu trabalhas, tu pensas, e executas Sóbrio, tranquilo, desvelado e terno, A lei comum, e morres, e transmutas O suado labor no prêmio eterno. ( Fonte: blog Antonio Cícero ) Caricatura: Ferré.

O Que Estou Lendo: Noite Em Caracas, Karina Sainz Borgo

Segunda capa do livro Noite em Caracas. É uma morte alegórica e política. As sociedades regidas por ditadura têm um poder que devora os indivíduos, não há melhor definição disso”, explica Karina. “Às vezes digo que nunca saí porque minha cabeça permanece ali. Mas saí porque fui desenraizada, já não pertenço a lugar nenhum. " "Temos um país que expulsa seus netos, persegue as pessoas. O desenraizamento dessa geração, o medo e a ansiedade te fazem sentir culpado.” A escritora se sentiu por muitos anos sem direito de falar sobre seu país. E, por isso, pede um olhar cuidadoso aos leitores, sem julgamentos. “Não é um livro político, é literatura. O que eu fiz foi falar de coisas terríveis. Eu quero que gere empatia, mas um autor não consegue controlar o que seu livro provoca.” Seu romance mistura personagens de diferentes países da América Latina porque, para ela, é um problema que extravasa as fronteiras da Venezuela. “É vital falar sobre os ciclos autoritários da América Latina.

Quem Ganhou Nobel de Literatura Quando Você Nasceu?

Sully Prudhomme, França.  Ganhador do primeiro Prêmio Nobel de Literatura em 1901   Abdlurazak Gurnak, Tanzânia. Ganhador do último Prêmio  Nobel de Literatura em 2021                                                                                                                                                                                      Veja a lista de todos os ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura.  Quem foi o vencedor no ano em que você nasceu? 1902. Theodor Mommsen (Alemanha). 1903. Bjørnstjerne Bjørnson (Noruega). 1904. Frédéric Mistral (França) e José Echegaray (Espanha). 1905. Henryk Sienkiewicz (Polônia). 1906. Giosuè Carducci (Itália). 1907. Rudyard Kipling (Reino Unido). 1908. Rudolf Christoph Eucken (Alemanha). 1909. Selma Lagerlöf (Suécia). 1910. Paul von Heyse (Alemanha). 1911. Maurice Maeterlinck (Bélgica). 1912. Gerhart Hauptmann (Alemanha). 1913. Rabindranath Tagore (Índia). 1914. Não houve premiação. 1915. Romain Rolland (França) 1916. Verner von Heidenstam

Dante Entre As Estrelas. Isso parece coisa da NASA?

  A Estação Espacial Internacional (ISS) tem como próxima missão um ato inusitado. Eles levarão uma cópia da “Divina Comédia”, obra-prima do poeta italiano Dante Alighieri, para o espaço. A missão faz parte do projeto “ Dante entre as estrelas ”. Feito em titânio e ouro, únicos materiais capazes de resistir no espaço aberto, o poema será feito pela editora de Bolonha Scripta Maneant em colaboração com a empresa Human Space Services (HSS), de Verona. O livro flutuará no universo como um testemunho da vida e da cultura na Terra. O projeto também terá uma segunda versão da obra, que voltará para a Terra com as assinaturas dos astronautas a bordo da ISS. A partir dela, será reproduzida uma edição limitada com 700 exemplares numerados e certificados. A próxima missão partirá no dia 13 de outubro de 2021, ano que marca o sétimo centenário da morte de Dante Alighieri. Fontes:  Revista Isto É .  Terra. Imagem