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Mostrando postagens com o rótulo Antonio Falcão

O Último Bloco, Antonio Falcão

     A fome pra quem come, a cama e o amor, a liberdade do homem, o peso diário do corpo a corpo com a palavra escrita. O frio da ci ência, o universo, a correnteza e o rio, o movimento, a cor, o som, a forma, as artes... Eu digitava este texto e Áu rea, min ha mul her, pôs uma fita pra tocar. Foi quando a voz mansa da compositora Lêda Valença entoou: Um novo amigo abriu as cortinas do tempo / que o sopro do vento se encar regou de esgarçar .. .        Em matéria de inédito, o melhor que há por estas bandas de frevo- canção.      Mas me levou a um outro fevereiro...      De catapora, aos 12 anos, de bruços na janela suburbana, minha rua empoeirada de acanhados papangus e la ursas, tão pobres - nós todos e o bairro, uma miséria só. A alma, palco e palhaço de perdida ilusão. E o bloco "Sou eu o teu amo...

Um Passado Imaginário, Antonio Falcão

O cineasta Woody Allen tem em   Meia-noite em Paris   uma das suas melhores realizações. O filme conta que um romancista americano encantado pela capital francesa, após ouvir as 12 badaladas da meia-noite, em 2010 cai na fantasia de madrugar com intelectuais e artistas que fizeram na década de 1920 os parisienses anos loucos. Assim, ele “convive” em viagens fantásticas com Scott Fitzgerald, Hemingway, Gertrude Stein, Cole Porter, Buñuel, Toulouse-Lautrec, Dali e Picasso, pra falar só de alguns. E nesse alucinante realismo mágico decide ficar na cidade para sempre.            Sem ser passadista, eu vi com prazer esse filme 3 vezes. E recomendo   Meia-noite em Paris   a quem tem bom gosto e algum conhecimento da geração perdida daqueles anos 20. Mas um amigo, que é cinéfilo de carteirinha e escreve ficção literária, assistiu essa obra de Allen em 9 sessões, curtindo cada uma no maior alumbramento. A partir da experi...

Meu Blog na Imprensa

Em prol da literatura Antonio Falcão –   afalkao@hotmail.com            É preciso que haja quem escreva e leitor para que a literatura exista. Pernambuco faz isso com o Interpoética – www.interpoetica.com   –, portal que tem a adesão de incontáveis nomes das letras. E que veio ao mundo em 2005 por obra e graça da poeta Cida Pedrosa e do webmaster Sennor Ramos. Hoje, é referência da literatura pernambucana e o número dos que o acessam ultrapassou 8 milhões de internautas à cata de poetas e ficcionistas de valor. Ou, também, ávidos para ler artigos e ensaios oportunos dos autores de merecida notoriedade que nesse portal colaboram.            Ainda na internet, outra iniciativa recifense digna de destaque é o Livro Errante –   www.livroerrante.com   –, criado em 2007 para exibir opiniões, livros e autores triados por Regina Porto, uma leitora voraz, intelectualizada e ...

Os Tímidos Se Anulam, Antonio Falcão.

     A bibliotecária conheceu o jornalista estrangeiro na internet. Mas só bem depois, em conta-gotas, soube que ele era aposentado e viúvo. Com indizível acanhamento, o tal também quis conhecê-la. “Sou divorciada, tenho filhos que me deram netos e me aposentarei o ano que vem para visitar o mundo, inclusive seu país”, disse a fórceps a retraída. Decorrido uns meses, os dois trocaram fotos e o viúvo, mais à vontade, revelou que publicara um romance e um livro de ensaios. As obras foram remetidas ao acervo da biblioteca onde a divorciada trabalha. E ela, sem dificuldade para ler em espanhol, devorou os livros de um fôlego e com enorme prazer.       Mais adiante, o estrangeiro disse que escrevera alguns contos para em breve editá-los. E como exemplo enviou um deles por e-mail, pedindo que ela opinasse sobre a qualidade literária. O texto narra que um homem e uma mulher se conhecem jogando cartas e que, surrealmente insuflados por ...

Quintino em festa: 60 anos de Zico

                                                                                         Zic o Estátua comemorative dos 60 anos de Zico      O radialista Celso Garcia foi a Quintino,no Rio, e ficou pasmo com um garoto que sabia tudo de bola. “Dê seu nome e idade”- pediu. Aí o guri disse: Artur Antunes Coimbra, ou Zico, estudo e vivo no bairro, onde nasci em 3 de março de 1953, tenho, portanto, 13 anos e sou o caçula da família. A seguir, Celso teve dos pais dele – José, padeiro lusitano e flamenguista, e Matilde a matria...

Heleno de Freitas, Antonio Falcão

    Na fantasia, o folclórico Neném Prancha, misto de filósofo e técnico, punha-se atrás de um tabuleiro  de laranjas como se fora vendedor no areal de Copacabana. E para cada garoto jogava uma fruta. Pela reação, separava o craque do cabeça-de-bagre. Heleno de Freitas, mineiro de 12 anos, amorteceu uma laranja na coxa, deixou-a cair no pé, fez embaixada, levou-a à cabeça, trouxe de volta ao pé, que deu ao controle do calcanhar. E Neném viu que descobrira o mais fino, inventivo e temperamental craque do País. Por isso, até a morte, Neném levou na carteira de cédulas a foto desse que brilharia como ninguém no Botafogo de Futebol e Regatas - muito mais que o fulgor da gloriosa estrela solitária do alvinegro carioca.     É exato, Heleno - nascido em São João Nepomuceno, em 12 de dezembro de 1920 - vivia no Rio em 33. Para a então capital do Brasil, a família se mudara quando morreu Oscar Freitas, negociante de café, casado com Maria Rita e pai de ...

Sócrates, Antonio Falcão

Imagem do Google Ele foi a antítese do bom atleta: era contra treinos individuais ou coletivos e abstinência - sobretudo de sexo, álcool, fumo, noitada e viola (que tocava). Até o seu nome fugia do convencional: Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira. Fez medicina enquanto jogava, expôs-se em política e via o binômio cartola-jogador da ótica das relações de trabalho. Deu-se à cidadania com afinco, sendo intransigentemente solidário com os colegas. Para empregar o termo típico da inútil e néscia ditadura militar brasileira, Sócrates era subversivo. Todavia, do ponto de vista estritamente democrático, um cordial e saudável subversivo - utilíssimo à humanidade.      Por acaso, ele nasceu em Belém do Pará a 19 de fevereiro de 1954 e se criou na paulista  Ribeirão Preto, onde aos 16 anos atuava no Botafogo Futebol Clube. Aos 18, na escola de medicina, Sócrates soube conciliar o curso escolhido com a vida de craque. Desde aí, atraídos pe...

Os Ramos Ocultos de Graciliano, Antonio Falcão

Antes de conhecer Dona Heloísa, viúva de Graciliano Ramos, eu tinha algum entendimento sobre o autor de Vidas Secas. O encontro se deu em novembro de 77, na Chácara Santo Antonio, bairro de Santo Amaro, São Paulo. Ali eu já sabia que ninguém pode escrever a vida de um homem senão ele mesmo, como confessou Rousseau. Graciliano Ramos, o mais perfeito e significativo dos romancistas brasileiros pós-modernistas, não fugiu dessa assertiva. Efetivamente, Mestre (ou Major) Graça – assim o chamavam seus contemporâneos – escreveu pedaços de si, da vida que viveu, da ambiência ao seu redor. Seus personagens, encontradiços nos campos e ruas deste país, ou refletidos nos caminhos em desalinho de sua imaginação, têm faces alencarianas e machadianas. São substantivos e não adjetivos. São, sobretudo, humanizados, mesmo quando situados em condições precárias de uma cidadezinha, como João Valério, em Caetés, ou moralmente indignos, como Paulo Honório, em São Bernardo, ou, até, psicologicamente d...