A noite sangra no mato, ferida por uma aguda lança de cólera. A madrugada sangra de outro modo: é o sino da alvorada que desperta o terreiro. E o feito que começa a destinar as tarefas para mais um dia de trabalho. A manhã sangra ainda: salsas a bananeira com um machim de prata; capinas o mato com um machim de raiva; abres o coco com um machim de esperança; cortas o cacho de andim corn um machim de certeza. E à tarde regressas a senzala; a noite esculpe os seus lábios frios na tua pele E sonhas na distância uma vida mais livre, que o teu gesto há-de realizar. Maria Manuela Conceição Carvalho Margarido (roça Olímpia, Ilha do Príncipe, 1925 – Lisboa, Março de 2007) foi uma poetisa de São Tomé Foi combatente do autoritarismo e desumanidade que a partir da década de 1950 foi imposto à África, e lutou pela independência do arquipélago. Em 1953, levanta a voz contra o massacre de Batepá, per...