Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens com o rótulo preconceito

Releitura de Cálice ( Chico Buarque e Milton Nascimento) por Criolo

Como ir pro trabalho sem levar um tiro Voltar pra casa sem levar um tiro Se as três da matina tem alguém que frita E é capaz de tudo pra manter sua brisa Os saraus tiveram que invadir os botecos Pois biblioteca não era lugar de poesia Biblioteca tinha que ter silêncio E uma gente que se acha assim muito sabida Há preconceito com o nordestino Há preconceito com o homem negro Há preconceito com o analfabeto Mas não há preconceito se um dos três for rico, pai A ditadura segue meu amigo Milton A repressão segue meu amigo Chico Me chamam Criolo e o meu berço é o rap Mas não existe fronteira pra minha poesia, pai Afasta de mim a biqueira, pai Afasta de mim as biate, pai Afasta de mim a coqueine, pai Pois na quebrada escorre sangue, pai Pai Afasta de mim a biqueira, pai Afasta de mim as biate, pai Afasta de mim a coqueine, pai Pois na quebrada escorre sangue Ouça/Veja aqui   

O Perigo De Uma História Única (excertos), Chimamanda Ngozi Adichie

     Sou de uma família nigeriana convencional, de classe média. Meu pai era professor universitário e minha mãe era administradora. Tínhamos, como era comum, empregados domésticos que moravam em nossa casa e que, em geral, vinham de vilarejos rurais próximos. No ano em que fiz oito anos, um menino novo foi trabalhar lá em casa. O nome dele era Fide. A única coisa que minha mãe nos contou sobre ele foi que sua família era muito pobre. Minha mãe mandava inhame, arroz e nossas roupas velhas para eles. Quando eu não comia todo o meu jantar, ela dizia "Coma tudo! Você não sabe que pessoas como a família de Fide não têm nada?" E eu sentia uma enorme pena dele.      Certo sábado, fomos ao vilarejo de Fide fazer uma visita. Sua mãe nos mostrou um cesto de palha pintado com uns desenhos lindos que o irmão dele tinha feito. Fiquei espantada. Não havia me ocorrido quw alguém naquela família pudesse fazer   alguma coisa. Eu só tinha ouvido falar sobre como eles e...

Morango Sardento, Julianne Moore - o "perigoso" livro infantil banido por Donald Trump

  A atriz norte-americana Julianne Moore estreia na literatura com um livro autobiográfico: Morango Sardento traz a experiência de infância desta ruivinha admirada mundialmente. A edição brasileira conta com a participação de outras duas atrizes importantes: Fernanda Torres assina a simpática tradução e Debora Bloch – que também foi um “morango sardento” – escreveu o texto de quarta capa.   Envergonhada pelo apelido de “morango sardento”, a protagonista do livro experimenta até tomar banho com suco de limão para tentar eliminar suas sardas. A autora conta como fez de tudo para se livrar não só das pintinhas, como da autorrejeição. A ilustradora vietnamita LeUyen Pham acrescenta humor às cenas. Morango Sardento mostra que, para “viver feliz para sempre”, é preciso se aceitar, com suas sardas e seu cabelo vermelho. Afinal, “quem liga para um milhão de sardas quando se tem um milhão de amigos?”. Debora Bloch concorda: “Quando a gente é criança, sempre pensa que é melhor ser difer...

Verão do Lenço Vermelho, romance de Elena Malíssova e Katerina Silvánova

     Dois jovens, Iura de 16 anos e Volódia de 19 anos vivem um romance em um acampamento em 1986. Vinte anos depois, Iura volta ao lugar para relembrar seu primeiro amor.        Isso é o que está em Verão do Lenço Vermelho. Nada de mais. Parece um livro perigoso? Acintoso?  Não?  Pois é.  Em julho deste ano o livro foi editado no Brasil e até está no Tik Tok.  No país de origem, a Rússia, ele foi banido sob alegação de que faz propaganda ocidental e LGBT. Ah, sim! O romance é entre dois rapazes o que é proibido pela lei russa.       O escritor e ex-membro da Duma Federal da Rússia, Zakhar Prilepim, chefou a sugerir que a editora fosse incendiada. Elena Malíssova, saiu do país em 2013 e desde então vive na Alemanha. Katerina Silvánova vive em seu país: Ucrânia. Fonte: Estadão

Mulher da Vida, poema de Cora Coralina

Mulher da Vida, minha Irmã. De todos os tempos. De todos os povos.De todas as latitudes. Ela vem do fundo imemorial das idades e carrega a carga pesada dos mais torpes sinônimos, apelidos e apodos: Mulher da zona, Mulher da rua, Mulher perdida, Mulher à-toa. Mulher da Vida, minha irmã. Pisadas, espezinhadas, ameaçadas. Desprotegidas e exploradas. Ignoradas da Lei, da Justiça e do Direito. Necessárias fisiologicamente. Indestrutíveis. Sobreviventes. Possuídas e infamadas sempre por aqueles que um dia as lançaram na vida. Marcadas. Contaminadas, Escorchadas. Discriminadas. Nenhum direito lhes assiste. Nenhum estatuto ou norma as protege. Sobrevivem como erva cativa dos caminhos, pisadas, maltratadas e renascidas. Flor sombria, sementeira espinhal gerada nos viveiros da miséria, da pobreza e do abandono, enraizada em todos os quadrantes da Terra. Um dia, numa cidade longínqua, essa mulher corria perseguida pelos homens que a tinham maculado. Aflita, ouvindo o tropel dos perseguidores e o ...

Ainda Assim Eu Me Levanto, ( Still I Rise)Maya Angelou

Você pode me marcar na história Com suas mentiras amargas e distorcidas Você pode me esmagar na própria terra Mas ainda assim, como a poeira, eu vou me levantar. . Meu atrevimento te perturba? O que é que te entristece? É que eu ando como se tivesse poços de petróleo Bombeando na minha sala de estar. . Assim como as luas e como os sóis, Com a certeza das marés, Assim como a esperança brotando, Ainda assim, eu vou me levantar. . Você queria me ver destroçada? Com a cabeça curvada e os olhos baixos? Ombros caindo como lágrimas, Enfraquecidos pelos meus gritos de comoção? . Minha altivez te ofende? Não leve tão a sério Só porque rio como se tivesse minas de ouro Cavadas no meu quintal. . Você pode me fuzilar com suas palavras, Você pode me cortar com seus olhos, Você pode me matar com seu ódio, Mas ainda, como o ar, eu vou me levantar. . Minha sensualidade te perturba? Te surpreende Que eu dance como se tivesse diamantes Entre as minhas coxas? . Saindo das cabanas da vergonha da história ...

Marchinhas de Carnaval: verdadeiras crônicas (3)

Bem carioca, as marchinhas de carnaval refletiam a vida naquela cidade. Da falta de moradia (Daqui não saio) a gozações de toda espécie*  ( Cabeleira do Zezé) tudo era liberado e fazia sucesso no carnaval  Daqui Não Saio Paquito e Romeu Gentil (1949) Daqui não saio, Daqui ninguém me tira! Onde é que eu vou morar? O senhor tem paciência de esperar: Ainda mais com quatro filhos Onde é que vou parar? Sei que o senhor tem razão  Pra querer a casa pra morar, Mas onde eu vou ficar? No mundo ninguém perde por esperar, Mas já dizem por aí Que a vida vai melhorar. Cabeleira do Zezé João Roberto Kelly e Roberto Faissal(1963) Ei, ei Olha a cabeleira do Zezé Será que ele é? Será que ele é? Olha a cabeleira do Zezé Será que ele é? Será que ele é? Será que ele é bossa nova? Será que ele é Maomé? Parece que é transviado Mas isso eu não sei se ele é Corta o cabelo dele Corta o cabelo dele Corta o cabelo dele Corta o cabelo dele ( — " Cabeleira do Zezé " não foi feita com a inte...

O Famoso Quem? Acton Bell

Capa da primeira edição em 1848      A Inquilina de Wildfell Hall, considerado um dos primeiros livros feministas foi escrito por um homem?       Acton Bell na verdade era  Anne, a  nais nova das irmãs Bronte que, como elas, começaram a escrever sob pseudônimo masculino. Foi Anne e não um homem que escreveu o que é considerado um dos primeiros livros feministas.       Consideradas as três das maiores escritoras inglesas, as irmãs Charlotte (1816 – 1855), Emily (1818 – 1848) e Anne Brontë (1820 – 1849) começaram a carreira literária usando nomes falsos – Currer, Ellis e Acton Bell, respectivamente – e assim publicaram, em 1847, seus romances  Jane Eyre ,  Morro dos Ventos Uivantes  e  Agnes Gray .       A própria Charlotte afirmou, em uma carta, que as irmãs não gostavam de revelar que eram mulheres “porque, como nossa forma de escrever e pensar não era o que se chama de ‘feminino’, ...

Adalgisa Nery: esquecida pelo machismo estrutural?

Há 35 anos longe das prateleiras, é relançado 'A imaginária', de Adalgisa Nery Livro é misto de ficção e autobiografia sobre a condição feminina e o machismo imperativo. Ângela Faria A intimidade de Adalgisa/Berenice com a morte chega a ser poética. Os capítulos em que a jovem descreve o calvário do marido são pungentes – “aquele corpo de homem atlético e bem conformado, de linhas vigorosas, murchava aos meus olhos como planta cansada”. A quase viúva descreve, serena: “É terrível assistir aos movimentos lentos que a morte faz sobre um corpo (...) O vácuo só tem realidade concreta no segundo que precede à morte”. Despede-se dele sem xiliques: abre o armário e se abraça às roupas do amor de juventude – “os seus ternos, as suas gravatas, as suas camisas deram-me o consentimento para um carinho com intimidade”. Viúva, “tomada do destemor e da coragem de quem nada possui senão a solidão e a amargura”, liberta-se das chantagens da mãe enlouquecida do marido. Sai de casa com os filhos...

O Comedor de Criancinhas, Francisco Bosco

     Michael Jackson é o primeiro transracial da história. É claro que houve, antes dele, negros modificando a aparência a fim de tornarem-se brancos. Houve, há e haverá, enquanto existir um sistema cultural que acredite em raças e postule a superioridade de uma raça em relação às outras. Antes do avanço das técnicas cirúrgicas e cosméticas, as modificações eram contudo menos drásticas, pelo menos do ponto de vista dos resultados: passava-se a ferro o cabelo, para alisá-lo, cobria-se o rosto de pó-de-arroz, clareavam-se os pêlos. Para ficarmos no mundo do showbiz norte-americano, Little Richard, na década de 1950, passava pó-de-arroz, desenhava as sobrancelhas e usava batom. Pouco antes de Michael, sua madrinha de carreira  artística - e depois desafeto - , Diana Ross, valendo-se já dos avanços na medicina estética, fez plástica para afinar o nariz. Hoje assistimos, sem qualquer assombro, negras louras como Mariah Carey ou Beyoncé Knowles: louras de cabelo liso ...

Belarmino do Depósito, Regina Ruth Rincon Caires

− Pode dar meia-volta, Belarmino, hoje você não trabalha. Vai descansar a carcaça por um bom tempo. Pode até ficar mais bonito, sabia? Só de ouvir a voz enfadonha do gerente, Belarmino sente um arrepio. É uma aversão que se avoluma a cada encontro. De repente, vem aquela vontade danada de perder a paciência, mas, talvez por intercessão de todos os santos, desvia o corpo e entra na loja. Se o infeliz imaginasse a angústia que o subalterno enfrenta a cada minuto da vida, se ele vestisse a pele do outro por um dia apenas, não seria tão impiedoso. O sorriso mangador, afetado, há muito tempo está entalado na garganta de Belarmino. Uma hora, isso não vai dar certo. Empurra a porta do escritório: − Licença, patrão... − Entra, Belarmino, senta. − O senhor vai me dispensar? − Que é isso, homem? Ficou louco? É o seguinte: recebi orientação de que, a partir de hoje, o empregado que tem mais de sessenta anos deve ficar em casa. É exigência trabalhista, essa pandemia traz muito risco....

Dia Dos Professores - 2020 - historinha 1/6

             Hoje é o dia dos professores. Se eu acertasse fazer selfie, buscava uma maçã ( que há muito tempo distanciou-se de Eva e aproximou-se da professora), fazia uma e dedicava à essa classe. Inábil, abraço os profissionais, a quem todos nós somos devedores eternos, relacionando minhas irmãs Nalize, Leda e Iracema, minha sobrinha Sandra, meu primo Júlio Valença, Dona Elita que me ensinou a ler, Oswaldo Ferreira, Ladjane Duarte e Enéas ... carinho imenso por vocês.       Ao longo dos dias de hoje e amanhã, vou colocando aqui boas e inspiradoras histórias. Coloco não para que os professores vejam, mas para que todos os demais entendam que sem eles, não adianta prometer mundos e fundos. Sem, educação... nada acontece.      São Paulo – Em sua sala, o diretor da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Infante Dom Henrique, Claudio Marques da Silva, mostra a lista dos livros mais vendidos em sebos pelo Brasil....