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Mostrando postagens com o rótulo Austro Costa

O Poema Que Eu te Fiz e Disse Às Ondas, Austro Costa

Para além do Farol onde a praia é mais triste, e é mais humano, ao pôr-do-Sol, o velho Mar, de ondas mais belas porque mais selvagens no seu ritmo insano, para além do Farol apraz-me hoje espraiar, na comoção dos namorados, destes Céus, deste Mar, destas paisagens. Oh! a móbil poesia, de ondas, ventos e velas, em contínuas querelas, quando o Ocaso é uma estranha aegoria, um painel de agonia! Então há um poema de extâse em meus olhos de visionário e contemplativo. Meus pensamentos líricos, desfolho-os por sobre as velas e por sobre as vagas como uma oblata e um epicédio à Beleza e à Tristeza. Sobre as areias ermas, ao por-do-Sol decorativo, tombam sombras enfermas. E anda em tudo o "motivo" de umas saudades vagas, de umas melancolias sem remédio... Oh! o misticismo dos Crepúsculos marinhos para os que vão, como eu, pelas praias, sozinho. Passa nas coisas um eflúvio, misto de romantismo e relogiosodade. É o naufrágio do Sol. Sangra? Enlanguesce... Dir-se-ia vai tremer. Desapare...

O Ídolo de Barro, Austro Costa

Houve um tempo em que foste o ídolo de meu culto. Neste tempo , minha alma era um catedral erguida à luz do Amor e à glória de teu vulto, e em festa acesa, dia e noite, ao Madrigal. Mas, enquanto eu - ingênuo, eu - sonhador estulto sacrificava a ti todo o meu Sonho e Ideal, tu guradavas,cruel, cada qual mais mais oculto, como Bórgias outrora, o veneno e o punhal. Punhal...o veneno.. E eu te adorei de joelhos! Meu ídolo eras tu! ... hoje essas coisas narro e, ao narrá-las, vacilo entre a revolta e o dó. Penso em ti, e arde o pranto em meus olhos vermelhos. Mas bem vejo que  foste um ídolo de barro que, um dia, outro e não eu, talvez reduza a pó. Em: Mulheres e Rosas, Vida e Sonho, De Monóculo, Austro-Costa Ed.CEPE 2012, pág, 122 Leia mais Autro Costa no blog: Capibaribe Meu Rio Dona Alegria Em Sonho Rimas de Luar A Estalagem Encantada Enquanto Chove e a Noite é Triste A Morte do Cisne

Enquanto Chove e a Noite é Triste, Austro Costa

- Ter alguém junto a mim, nesta noite tão fria! Exclamo, e fico a espiar, através da vidraça, a rua, agora tão deserta e sem poesia, a rua, ao Luar vazia, onde somente cai a chuva, e ninguém passa... Ah, ter alguém aqui, mas, alguém que reunisse ao Mistério a ternura amorável! Aquela... Aquela que eu não sei se é Dulce, ou Alda, ou Alice, porém cuja meiguice há de o estilo possuir das lindas cartas dela! ... E ela é apenas Mistério. Ama-me, e tem receio de que eu lhe saiba o nome! E nem vem ... Mas, virá? Sonho-a, entanto, imagino-a aqui junto ao meu seio, lendo os poemas que eu leio ou traduzindo, ao piano, uns motivos de Bach. Sinto-lhe a mão macia em meu ombro. Tão leve!... Ouço-lhe a doce voz, feita de suaves trenos. Olho-a e sinto que a mão não a pinta  ou descreve: Ela é a Branca de Neve que eu apero, final, nos meus braços morenos. Sonho-a apenas, entanto. Ela não vem agora... E eu - tão feliz na  minha ingênua Fantasia! -Sim; alguém há de ...

Em Sonho, Austro Costa

Você sonhou comigo... era casada Eros e Psiquê. Antonio Canova 1793 - Museu do Louvre, Paris e me encontrava no interior... (Bem vejo que esse encontro entre nós daria ensejo a qualquer maluquice complicada.) Era num baile... E eu que não danço nada, dançava com você... E irrompe um beijo que nos lambuza de carmim e... pejo, pois seu marido surge, e haja estrelada! Você contava o sonho... Nesse instante, bate-lhe à porta o namorado antigo. Você pede licença... E eu não me oponho... Não me oponho, mas acho extravagante você, que jamais quis flertar comigo,, andar, comigo, a derrapar... em sonho... Austro Costa. (In: Costa, Austro, Mulheres e Rosas,Vida e Sonho, De monóculo. Ed.CEPE 2012)

Rimas de Luar, Austro Costa

Pela noite calma anda um misticismo que é de lua cheia. Tua imagem calma, nesse misticismo lívida vagueia... Tão alva e magrinha, és um crisântemo que se despetala; frágil almazinha que é de crisântemo que o Luar embala! Vens sorrindo, leve, num sorrir divino que é fascinação. Vens sorrindo, leve vens cantando o hino da minha ilusão. Passas... És saudade! Lembras a distância que entre nós está. Páras. E a Saudade mais aumenta a ânsia que arde aqui e lá. Abro-te minh’alma. Entras,e, em lirismo, teu sorriso Salma*... Luz a Lua-Cheia... E. num misticismo, pela noite calma, tua imagem calma dentro de minh’alma, toda luar passeia... Austro Costa Mulheres e Rosas 2ª edição revista. Ed. Cepe 2012 Nota: o blog manteve a grafia original *Salma: o poeta criou um neologismo com o substantivo salmo.

A Estalagem Encantada, Austro Costa

Meu peito (quem diria?) é a misteriosa estalagem onde,me meio à certa viagem, repousou tua alegria. Pernoitaste. E, ao vir do Dia, à luz do Sol na Paisagem, nem sombra de tua imagem na alcova, triste e vazia. Em teu lugar - uma harpia!- Mas... um rodar de carruagem vem da estrada à hospedaria. Saio a ver quem é. E um pagem tua chegada anuncia. Era encantada a estalagem (Em: Mulheres e rosas,Vida e sonho,De monóculo, Austro Costa. 2ª edição revista- Recife: Cepe, 2012) Nota: o autor da coletânea, Fábio Cavalcante de Andrade, manteve a ortografia original.

Dona Alegria, Austro Costa

Dona Alegria pediu-me uns versos. Oh, certamente que eu lh'os faria ...      Que versos lindos, suaves e tersos       não merecera Dona Alegria! Dona Alegria dos grandes olhos, grandes e belos, da cor do Céu... Que tem catleias florindo, aos molhos, à nívea copa de seu chapéu... Dona Alegria perdeu a luva. Nem sabe como! Foi outro dia: tomando um bonde, fugindo à chuva... Contudo, riu-se Dona Alegria. Dona Alegria na rua Nova, Vai ao cinema? Vai com a mamã.      Dona Alegria dá-me uma trova!      Não tenho um verso para amanhã. Dona Alegria cheia de graça, de quem sou poeta e de quem  sou servo, passa sorrindo com a mamã... Passa... E eu lembro uns versos de Amado Nervo. Dona Alegria mando-lhe agora as rimas pobres desta poesia. Perdoe-me , e ainda pela demora... Mas... vão com a luva, Dona Alegria      ...

A Morte do Cisne, Austro Costa

Mil amores cantei. Fáceis amores... Vagas quimeras... leves utopias... Vãos devaneios de que enchi meus dias Nos vinte anos azuis dos sonhadores... Mil amores cantei... mas, entre flores, Beijos, risos, promessas, fantasias, Vi-os bater as asas fugidias... Não me deixaram lágrimas, nem dores. Este, porém, que se aprimora em pranto E renúncia em minh'alma - estranho e santo Amor, a que não trazes teu socorro Este, sim! vale o canto que te ofereço. Ouve-o, e guarda-o! Ele é teu. Será, decerto, O meu canto de Cisne. Canto-o e morro.

Capibaribe, Meu Rio - Austro Costa

                             Há algum tempo este blog dedicou-se a publicar Olegário Mariano, poeta pernambucano esquecido na próprio estado.  Antes de ontem, um internauta me cobrou material de Austro Costa. Foi quando descobri que dele só conhecia um poema que é praticamente o único (pouco) divulgado. Perplexa com mais esse esquecimento, me comprometi em publicar o autor.  Capibaribe, meu rio,  espelho do meu sonhar quero fazer-te o elogio, mas penso: Se te elogio, é a mim que estou a elogiar... Capibaribe, meu rio, espelho do meu sonhar... Meu velho Capibaribe meu irmão de sonho e amor... .............................................. Capibaribe, meu rio, Que vida levamos nós! tu corres: eu rodopio... E há quarenta anos a fio: sempre juntos - e tão sós! Capibaribe, meu rio, que vida levamos nós! Ma...