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Mostrando postagens de novembro, 2023

O Vestido, Adélia Prado

No armário do meu quarto escondo do tempo e traça meu vestido estampado em fundo preto. É de seda macia desenhada em campânulas vermelhas à ponta de longas hastes delicadas. Eu o quis com paixão e o vesti como um rito meu vestido de amante. Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido. É só tocá-lo, e volatiza-se a memória guardada: eu estou no cinema e deixo que segurem a minha mão. De tempo e traça meu vestido me guarda. Fonte: Escritas

Mudança na Fuvest. Só Mulheres Pela Primeira Vez.

     A Fuvest, responsável pelo maior vestibular do país, informou que nos anos de 2026, 2027 e 2028, vai exigir a leitura de livros unicamente de mulheres. Até este ano os autores pedidos eram clássicos e algum autor contemporâneo. Vamos ver ano a ano, para entender melhor e, para quem começa o ensino médio no próximo ano, começar a ler autoras cujos nomes sempre foram esquecidos. Vamos lá: Vestibular de 2023 Poemas Escolhidos - Gregório de Matos. Quincas Borba - Machado de Assis. Alguma poesia - Carlos Drummond de Andrade. Angústia - Graciliano Ramos. Mensagem - Fernando Pessoa. Terra Sonâmbula - Mia Couto. Campo Geral - Guimarães Rosa. Romanceiro da Inconfidência- Cecília Meireles. Vestibular de 2024 Poemas Escolhidos – Gregório de Matos. Quincas Borba – Machado de Assis. Alguma poesia – Carlos Drummond de Andrade. Angústia – Graciliano Ramos. Mensagem – Fernando Pessoa. Terra Sonâmbula – Mia Couto. Campo Geral – Guimarães Rosa. Romanceiro da Inconfidência- Cecília Meireles

Para Alice, Natascha Duarte

     A pessoa que acorda e pula da cama, se olha no espelho e dá bom dia ao dia e uns pulinhos para agitar o metabolismo meio lento, não é Alice. E ainda assim eu não mudaria nada nela. Fazer de você uma nova figura, não indelével mas solta de você não faz parte dos meus planos. Casada com outros vocês você ficaria indefinível. E é tão fácil definir você - a mulher que eu amo.        Não seja outra por ninguém. Você é senão tudo. Em tudo que vejo em você há algo divino. Você se olha pela manhã com medo de se encontrar, é isso? O programa é sair vivendo, querida, sem muito pensar. O programa é concretizar você. Talvez numa canção ou poema. Como no quadro em que a Virgem segura o bebê no colo. Há perigo em viver. Como na morte em que também existe vida. Como naquele arvoredo na encosta do morro, vê? em que galhos secos dão lugar a novos e roliços.       Em tudo o que existe há poesia e o ciclo da vida é esse, até terminar. Poetizar até acabar. No medo há lirismo. Olha, eu mesmo, quero m

Recomendo: Obrigada Por Vir, Nadezhda Bezerra.

      "Tu quer casar com que idade? Adolescente parece ter mania de adivinhação. Achar sinal em placa de carro. 00 vou ver quem eu quero. 88 início de namoro. Pêra, uva ou maçã. Nunca brinquei com morango ou chiclete, juro. Verdade ou consequência. Cartas de baralho sobre a cama num pretenso tarot improvisado. Livrinho de simpatias.      Morei no mesmo prédio por uns trinta e poucos anos, até casar. Olha aí, depois dos quarenta. Várias amigas, das quais fui madrinha, em vias de separação, e eu no caminho inverso. Todas com filhos.      O prédio é praticamente patrimônio do bairro. Antigo, alto, com muita gente se conhecendo desde a fase do queimado, pega ladrão e esconde-esconde . Achava eu, aos onze, estaria casada e com os primeiros dois filhos já aos vinte. Parecia uma idade distante e de gente grande. Não era. Bem pouco antes, a gente brincava de riscar o chão do pilotis com giz."( Em: Obrigada Por Vir, Nadezhda Bezerra)      O trecho acima é do livro mais impactante que

Ensinando a Tristeza, Rubem Alves

Meus amigos, com a melhor das intenções, têm se queixado, dizendo que há muita tristeza no intervalo das coisas que escrevo. Essa observação mexeu comigo. Fez-me lembrar uma crônica que escrevi faz muito tempo. Era sobre a poeta Helena Kolody, que eu acabara de descobrir. Seus poemas não são alegres. São alegres-tristes. Dentre os escritos da Helena Kolody encontrei este mínimo poema: “Buscas ouro nativo entre a ganga da vida. Que esperança infinita no ilusório trabalho… Para cada pepita, quanto cascalho”. Gosto de ler as Escrituras Sagradas. Mas leio como quem garimpa ouro. Para se encontrar uma pequena pepita, quanto cascalho há de se jogar fora! Acho até que foi arte de Deus… Foi ele mesmo que misturou cascalho e pepitas, alegria e tristeza, pra separar os maus dos bons leitores. Os maus leitores não sabem separar as pepitas do cascalho… Nas minhas garimpagens pelas Escrituras Sagradas encontrei esta pepita: “Melhor é a tristeza que o riso. Porque com a tristeza do rosto se faz mel

Encanto Feminino, Rubem Fonseca

Continuo sensível ao encanto feminino. Continuo gostando de sapos. Mas dentro de casa não tenho Nem mulher nem sapo. Tenho livros. Tenho garfos e facas. Tenho sapatos. O sapato que eu uso foi comprado Há mais de 15, quinze, repito quinze, anos. Isto é uma poesia, fiquem sabendo. Um sujeito disse que poesia é Aquilo que se perde na tradução. Eu digo que poesia é o que cada um acha que é poesia. Achar as mulheres lindas é poesia. Tenho dito

Sem Hora Marcada, Sónia Machado Araújo

- Estás à espera de quem? - Já não espero ninguém! Estou só a usufruir a brisa passar... - Não tens família? - Tenho! Deixei de esperá-los... - Estão zangados? - Não! Estamos resolvidos, de bem... Com a vida! - Como assim? - Aprendi com os anos de caminho que não devemos esperar ninguém! - Mas...Uma mãe deve esperar sempre os seus filhos... - Por muitos anos achei que sim... Depois aprendi que só esperámos na ilusão de posse... No dia em que entendemos que ninguém pertence a ninguém, que até os filhos são do Universo... Passámos a Ser livres para receber, sejam os filhos ou tudo o que a vida nos reserva! - E quando os filhos não chegam? - Quem nada, nem ninguém espera, tudo é só vida a acontecer... - É difícil de entender! - Eu sei. Fomos iludidos a sentir amor como apego, quando a verdade é que o autêntico Amor é saber desapegar, Amor é liberdade para amar sem prender, para amar permitido ao outro voar! - E não sentes solidão? - Ela não existe para quem resgatou para si o direito de t

Astrid, a mulher que criou Pipimeialonga

Muito antes de o livro Histórias de Ninar para Garotas Rebeldes deixar de lado as princesas de conto de fadas e substituí-las por mulheres inspiradoras como Ada Lovelace e Amelia Earhart, uma heroína fictícia idiossincrática estava se rebelando contra o sexismo na literatura infantil, cativando jovens leitores em todo o mundo e mostrando que havia mais de uma maneira de ser uma menina. Com suas tranças e sardas vermelhas, ela desdenhava das convenções sociais e tinha personalidade de sobra. Ela era independente e forte - tão forte que conseguia erguer um cavalo com uma mão. Ela também possuía um estoque de moedas de ouro e, aos nove anos de idade, morava sozinha com seu macaco e cavalo, navegava em alto-mar e até dançava com ladrões. Não espanta saber que meninas de diversas gerações quiseram ser ela - algumas ainda querem. Seu nome é Pippi Meialonga (ou Pipi Longstocking, no título original), e como revela uma nova biografia fascinante, sua criadora, a sueca Astrid Lindgren, poderia

Lareira, Elisabete Bárbara

Um dia, vamos ter uma casa com uma lareira, dizia muitas vezes a mãe. Uma lareira grande, que nos faça companhia. E a mãe sorria quando falava na lareira, mas o olhar continuava triste. Sonhava com as palavras, mas o olhar só via os lugares vazios à mesa e as paredes brancas e nuas. Um dia, mãe, vou acender o teu olhar, pensava muitas vezes a filha. Depois ficamos toda a noite a ver dançar as chamas. Depois já podes sonhar com o olhar. Na manhã do dia de Natal, quando a mãe acordou, sentiu a casa quente. Levantou-se. Foi até à sala. A filha dormia deitada no chão, as faces afogueadas. Ao lado dela, dormiam também vários lápis de cor e vários bocadinhos de giz. Na parede em frente, que antes era branca e despida, estava agora desenhada uma lareira grande, onde dançavam maravilhosas chamas cor de laranja e verdes e azuis. A mãe sorriu com o olhar, aproximou-se da lareira e pegou na tenaz para ajeitar os pequenos troncos de madeira que aqueciam milagrosamente o seu coração. (Fon

Vamos Pensar: O Louco, Kalil Gibran

Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim: Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas. sim, as sete máscaras que para mim tinha fabricado e utilizado nas minhas sete vidas. corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando: - Ladrões, ladrões, malditos ladrões! Homens e mulheres riram-se de mim e alguns fecharam-se em casa, com medo de mim. E quando cheguei à praça do mercado, um rapaz que estava de pé no telhado da casa, gritou apontando-me com o dedo: - É um louco! Ergui os olhos para o ver, O sol banhou o meu rosto despido e a minha alma encheu-se de amor ao sol, e desde então nunca mais quis usar máscara. Depois gritei como se estivesse em transe: - Benditos, benditos os ladrões que me roubaram máscaras!” Foi assim que me tornei louco. encontrei muita liberdade e segurança na minha loucura; a liberdade da solidão e a segurança de nunca ser compreendido, pois aquele q

O Poema Que Eu te Fiz e Disse Às Ondas, Austro Costa

Para além do Farol onde a praia é mais triste, e é mais humano, ao pôr-do-Sol, o velho Mar, de ondas mais belas porque mais selvagens no seu ritmo insano, para além do Farol apraz-me hoje espraiar, na comoção dos namorados, destes Céus, deste Mar, destas paisagens. Oh! a móbil poesia, de ondas, ventos e velas, em contínuas querelas, quando o Ocaso é uma estranha aegoria, um painel de agonia! Então há um poema de extâse em meus olhos de visionário e contemplativo. Meus pensamentos líricos, desfolho-os por sobre as velas e por sobre as vagas como uma oblata e um epicédio à Beleza e à Tristeza. Sobre as areias ermas, ao por-do-Sol decorativo, tombam sombras enfermas. E anda em tudo o "motivo" de umas saudades vagas, de umas melancolias sem remédio... Oh! o misticismo dos Crepúsculos marinhos para os que vão, como eu, pelas praias, sozinho. Passa nas coisas um eflúvio, misto de romantismo e relogiosodade. É o naufrágio do Sol. Sangra? Enlanguesce... Dir-se-ia vai tremer. Desapare

Os Cães da Aclimação, Cecília Meireles

     A primeira noite que passei nestes arredores da Aclimação foi uma noite de assombros. Descobri que havia verão em São Paulo: que a cidade da garoa desaparecera; que aqui, como no Rio, se podia sentir um calor sufocante, sob um céu sem promessas de chuva. Mas o assombro maior seria mais tarde, quando depois do apito do guarda-noturno, levantou-se nos ares um enorme alarido de cães, alarido que, a princípio, parecia uma simples exibição de vozes, um ensaio de sons, como quando as orquestras experimentam seus instrumentos - e que pouco a pouco se foi acomodando em lugares determinados, separando  essa espécie de sopranos, contraltos, tenores e barítonos, quem sabe sob a reg6encia de um maestro invisível.      Eram vozes extremamente numerosas e de qualidades variadíssimas; umas para efeito profundos e solenes; outras leves e fúteis, risonhas e brincalhonas. E, entre esses dois pólos, elevam-se as de timbre sentimental  e aveludado, as metálicas e épicas, as bravias e roucas, e uma in

Escolas Públicas Brasileiras Melhores do Mundo, Agência Brasil

  Escolas públicas do CE e de MG estão entre melhores do mundo em prêmio Iniciativa é da plataforma britânica T4 Education O Prêmio Melhores Escolas do Mundo foi criado no ano passado. É uma iniciativa da plataforma britânica T4 Education, com apoio três instituições: Fundação Lemann, Accenture, American Express e Yayasan Hasanah. É a primeira vez que escolas públicas brasileiras estão entre as vencedoras. Instituições de ensino de outros quatro países foram agraciadas. São elas: Institución Educativa Municipal Montessori (Colômbia), na categoria Ação Ambiental; a Riverside School (Índia), na categoria Inovação; a Max Rayne Hand in Hand Jerusalem School (Israel), na categoria Superação de Adversidades; e a Spark Soweto (África do Sul), na categoria Colaboração Comunitária. A EEMTI Joaquim Bastos Gonçalves criou em setembro de 2021 o projeto Adote um Aluno ao perceber alunos ansiosos com a reabertura da sociedade após o fim das medidas de isolamento social implementadas em decorrência

O Pé de Flamboyant, o Mosteiro e os Fantasmas, Bernadette Lyra

Convento de São Francisco - Vitória ES      Hoje estou meio que adormecida sobre o lado esquerdo do peito.O lado do coração. Mas não temam por mim, os preocupados. E os delicados que não se apoquentem. Não é nada grave, nada "da idade" como gostam de dizer aqueles que estão na tocaia, ansiosos para detectar os sinais de mazelas humanas. Nem é nada que o tempo me tenha trazido, como ele traz as dores na batata da perna quando o frio exaspera, ou o brilho de uma estrela que só na memória persiste, ou os fiapos de perfume de rosas encrespadas pelo vento do sul. É só uma lassidão que me rouba até a vontade de escrever uma crônica.      Começou com uma batida lenta nas têmporas. Fechei os olhos embalada por esse batimento secreto e deixei que o silêncio como um fruto maduro pesasse. Então tudo rutilou como dentro de um cubo de cristal invertido.      Como podem ver voc6es, que até no escuro enxergam fios pratados da literatura, é só uma lassidão, mas que nào impede que eu roube de

Livros Disponibilizados Para o Grupo LivroErrante

 Lidos em setembro e outubro com o grupo LivroErrante, disponibilizo todos os exemplares. Opisanie Swiata , Verônica Stigger ( 160 Págs - lançado em 2013) A história central do livro é a de Opalka, um polonês de cerca de sessenta anos que, em sua terra natal, recebe uma carta por meio da qual descobre que tem um filho no Brasil – mais especificamente, na Amazônia -, internado num hospital em estado grave. O pai decide viajar ao encontro do filho; no início do percurso, conhece Bopp, um turista brasileiro que, ao tomar conhecimento das razões da viagem de Opalka, resolve abandonar seu giro pela Europa para acompanhá-lo ao Brasil.  O livro se compõe a partir de diversos registros, como o do relato em terceira pessoa, o da carta, o do diário etc., além de contar com inserções de imagens e fragmentos de textos sobre a ou da década de 1930 ― época em que transcorre a ação. (Amazon) Tua Roupa Em Outros Quartos , Antonio Pokrywiecki (111 págs. lançado em 2017) Oito mil quilômetros e meio de á