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Vamos Pensar: O Louco, Kalil Gibran (2)

Perguntais-me como me tornei louco.
Aconteceu assim:
Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas.

sim, as sete máscaras que para mim tinha fabricado e utilizado nas minhas sete vidas.

corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando:
- Ladrões, ladrões, malditos ladrões!

Homens e mulheres riram-se de mim e alguns fecharam-se em casa,
com medo de mim.

E quando cheguei à praça do mercado,
um rapaz que estava de pé
no telhado da casa,
gritou apontando-me com o dedo:
- É um louco!

Ergui os olhos para o ver,
O sol banhou o meu rosto despido
e a minha alma
encheu-se de amor ao sol,
e desde então
nunca mais quis usar máscara.

Depois gritei
como se estivesse em transe:
- Benditos, benditos os ladrões
que me roubaram máscaras!”

Foi assim que me tornei louco.

encontrei muita liberdade
e segurança
na minha loucura;
a liberdade da solidão
e a segurança de nunca ser compreendido,
pois aquele que nos compreendem
fazem de nós escravos.

mas não deixem que me orgulhe demasiado
da minha segurança;
nem sequer o ladrão encarcerado
está livre de encontrar outro ladrão.

Para pensar: a solidão dá liberdade?

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