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Maria Sapeba, Histórias à Brasileira recontadas por Ana Maria Machado

     Há muitos e muitos anos, num lugar que era aqui, tudo era muito diferente.      Tinha muitas árvores com pássaros, muito bicho na mata, muito peixe nos rios e no mar.      E pouca gente, morando em casas de palha e andando sem roupa - os índios. Esses índios caçavam e pescavam muito bem. Com flechas, com armadilhas, ou com um cipó que eles jogavam na água e deixava os peixes tão tontos que dava para pegar com a mão.      Um dos peixes mais gostosos era o que nós chamamos de linguado. Os índios chamavam de marassapé.      É um peixe achatado, que gosta de ficar deitado no fundo do mar, disfarçado de areia. e para disfarçar, ele foi ficando todo esquisito. Não é como os outros peixes, com um olho de cada lado e uma boca no meio da cara. O lado de baixo dele é inteiro liso e branco. No lado de cima, cor de areia, ficam a boca e os dois olhos. Bem torto e diferente.      Um dia, os índios estavam ...

História de Uma Guariba, Graciliano Ramos

I -               Um domingo destes, contou Alexandre aos amigos, vesti o guarda-peito e o gibão, cobri-me com o chapéu de couro e acendi o cachimbo, pus o ai ó a tiracolo, peguei a espingarda, resolvido a desenferrujá-la, se aparecesse caça graúda. Saí pelo terreiro, dei umas voltas nos arredores, andei, virei, mexi, afinal encontrei numa vereda, subi a ladeira dos preás e, sem encontrar bicho que merecesse uma carga de chumb o e um dedal de pólvora, cheguei à imburana, perto da cerca de ramos. Aí, como o calor apertasse, tirei o aió, o chapéu, o gibão e o guarda peito, estirei-me no chão e passei uma hora de papo pra cima, fumando e pensando nos aperreios deste mundo velho. Sentia-me bem triste,meus amigos, bem desanimado. Eu, homem de família, nascido na grandeza, criado na fartura, tendo o que precisava, do bom e do melhor,estava por baixo, muito por baixo:deitado em garranchos de folhas secas, a cabeça...