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Mostrando postagens com o rótulo cavalo

A Praia No Tapete,O Cavalo na Vassoura, O Mundo Inteiro Na Sala de Casa, Gregório Duvivier

     Não é fácil estar confinado com uma criança. Faz dois meses que minha filha pede, todo dia, pra ir à praia.      Na primeira vez, tentei explicar que não dava. “Filha, tá rolando uma pandemia, como é que eu vou explicar, um vírus que…” — daí me lembro que ela tem dois anos de idade.       Tento resumir: “Não dá, é impossível”, e ela então começa a chorar, e lembro que é mais fácil explicar uma pandemia pra uma criança de dois anos do que dizer que “não dá, é impossível”.      No desespero surge uma ideia. “Chegamos. Olha o mar ali.” E aponto o tapete azul. E ela vê o mar se erguer, e abre um sorriso. Basta.      Desde então, quase todos os dias ela me diz: "Vamo pá paia?", e vai buscar o maiô, seu chapéu UV e sua cadeirinha de praia diminuta.       Espalhamos almofadas pelo chão, nossa areia improvisada, e então ela abre a cadeirinha em frente ao tapete azul, que faz as...

Última Crônica Cantada: Atrás Poeira, Ivan Lins

                         A partir de hoje esta postagem passará a chamar-se " Mais Que Música ". Além da mudança no título mudo também a forma. Deixo o link do video no final da letra e trago apenas músicas que tenham me emocionado.  Não tivesse melodia, Atrás Poeira poderia ser uma  crônica ou um poema.  Conheci recentemente e acho uma das melhores crônicas cantadas que já coloquei aqui. A blogueira agradece sugestões.   Atrás Poeira Ivan Lins e Vitor Martins Ele pegou um baio E como um raio Sumiu no atalho Na algibeira Tinha um retrato E um baralho Na frente nada Atrás poeira Atrás porteira Atrás da Rita Que foi bonita Que anda bebendo Que anda correndo Atrás do tempo E dos rapazes Que eram capazes De ir a fundo Te dar o mundo Te dar o brilho Que as mulheres Têm quando casam E lhes dão filhos Tava perdido Mas é sabido Qu...

Infância,Paulo Mendes Campos

Há muito, arquiteturas corrompidas, Frustrados amarelos e o carmim De altas flores à noite se inclinaram Sobre o peixe cego de um jardim. Velavam o luar da madrugada Os panos do varal dependurados; Usávamos mordaças de metal Mas os lábios se abriam se beijados. Coados em noturna claridade, Na copa, os utensílios da cozinha Falavam duas vidas diferentes, Separando da vossa a vida minha. Meu pai tinha um cavalo e um chicote; No quintal dava pedra e tangerina; A noite devolvia o caçador Com a perna de pau, a carabina. Doou-me a pedra um dia o seu suplício. A carapaça dos besouros era dura Como a vida — contradição poética — Quando os assassinava por ternura. Um homem é, primeiro, o pranto, o sal, O mal, o fel, o sol, o mar — o homem. Só depois surge a sua infância-texto, Explicação das aves que o comem. Só depois antes aparece ao homem. A morte é antes, feroz lembrança Do que aconteceu, e nada mais Aconteceu; o resto é esperança. O que comigo se passou e pa...