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Mostrando postagens com o rótulo Maria Valéria Rezende

Vasto Mundo, conto de Maria Valéria Rezende

     A moça chegou do Rio. Logo se vê... tão alvinha! Saiu daqui miúda, não diferenciava em nada das  outras meninas da escola minicipal. Foi o padrinho que a levou. Voltou essa moçona. Veio passar o São João. No meio das outras moças, na frente da igreja, ela agora diferencia até demais. O vestido bonito, mais altura, as unhas compridas e vermelhas, movendo os braços, dando voltas e requebros enquanto fala. E fala sem parar.  As outras mais matuts ainda unto dela, são apenas molduras para o quadro. Para os olhos de Preá, nem moldura. Não existem. Não existe mais a igreja, a praça, a vila, nada. Só a moça.      Preá outro nome não tem. Quem poderia dizer era a velha, mas morreu sem que ninguém se lembrasse de perguntar. Para a maioria do povo de Farinhada, hoje parece que ele sempre esteve ali, que sempre foi assim, uma coisa de vila como a igrea, a ponte sobre o riacho, os bancos de cimento da pracinha. Mas alguém se lembra;  chegou um dia c...

Maria Valéria Rezende: Uma Religiosa Pouco Comum Que Você Precisa Conhecer

    Da esquerda para a direita: O Voo da Arara Vermelha (2005) ,  Quarenta Dias (2014) Vasto Mundo (2001),  Outros Cantos (2016), Carta à Rainha Louca (2019) e Modos de Apanhar Pássaros à Mão (2006) Recomendo a leitura da matéria do jornal El País.  Maria Valéria diz:   As Pessoas Pensam Que Freiras São Bobinhas. Como Podem Escrever Literatura? Pergunta.  Quando as pessoas falam de você ao abordar seus livros, elas parecem mais surpresas pelo fato de você ser freira do que escritora e educadora. Por quê? Resposta.  Acho que maioria tem uma ignorância absoluta em relação às freiras. Imaginam que a pessoa vai ser freira e fica ali toda reprimida, trancada. Mas nós somos leigas, ou seja, não somos membros do clero. Apenas optamos por viver em comunidade e fizemos três votos, que para nós são votos de liberdade: o de castidade, pelo qual você não está preso à família, nem a ninguém, e está disponível para ir aonde for preciso; o de pobreza, que na ver...

Fina Ironia e Crítica Severa à Corte e Igreja Católica

Carta à Rainha Louca de Maria Valéria Rezende é um livro primoroso.   De forma muito bem escrita e corajosa a autora romanceou o que acontecia à mulheres no Brasil à época colonial.  Isabel, a protagonista, escreve à Rainha Louca lhe pedindo ajuda ao mesmo tempo em que expõe e critica com finas ironias a própria Coroa e a Igreja Católica que àquela época frequentemente se confundiam uma na outra.  O uso que autora faz  de escrever apartes maiores ou menores como borrões, tachados, foi muito inteligente e dá a esses trechos enorme importância.  Sem querer adiantar o final, deixo abaixo alguns momentos de crítica e fina ironia.  ... porque em todas as condições, aqui nestas colônias, em África, nas Índias, na China ou no Reino, no paço real ou na mais pobre aldeia do Vosso Império, estão submetidas às leis dos homens que muito mais duras são para as fêmeas e só para elas se cumprem, pois todos os seus pais e irmãos e maridos e filhos e varões quaisquer,...

Prêmio Nobel de Literatura 2021. Qual é a Sua Aposta?

O  prêmio Nobel  de Literatura , vai ser  anunciado na quinta-feira, 7, em Oslo, na Noruega.  O último Prêmio Nobel de Literatura foi dado à americana Louise Gluck .     Li  os nomes que estão nas casas de aposta. Nenhum brasileiro.  Se eu pudesse indicar alguém, o nome seria o de Maria Valeria Rezende (foto).   Mas como o vencedor pode não ser nenhum dos falados... guardo minha esperança de ver a autora de  40 dias   e   Carta à Rainha Louca , premiada com o Nobel de 2021.  Nas casas de apostas, à exceção de do moçambicano Mia Couto, todos  os demais eu desconheço. São eles Ko Un (Coréia do Sul) Ngugi wa Thiong'o (Quênia), Can Xue( China), Vikram Seth (Índia) e Liao Yiwu (China), Jamaica Kincaid (USA) e Maryse Condé (Ilha de Guadalupe, FR).  

Clube Errante: Carta à Rainha Louca

Dia 2 de Outubro (sábado) às 20 horas o Clube Errante vai conversar sobre Carta à Rainha Louca , Maria Valéria Rezende. Senhora, Perdoai, Vossa Majestade Fidelíssima, a esta mulher — enlouquecida pelas penas do amor ingrato e de grandes vilanias cometidas por aqueles que se creem mais poderosos do que Vós mesma — por vir-Vos interromper, com o relato de seus sofrimentos de mínimo relevo, em Vossas orações e em Vossos atos régios tão urgentes para Vosso Reino e para aquele de Deus. Por louca e desobediente encarceraram-me neste Recolhimento da Conceição, no alto das colinas desta cidade de Olinda, famosa por sua beleza e pelo fausto ostentado em outras eras, quando branco e doce era o ouro destas terras. Bela cidade que a mim, porém, não delicia, pois quase só a vejo retalhada pelas grades da única e estreita janela desta cela de não mais que uma braça quadrada. Há já longo tempo me trouxeram para cá, com o fim de aguardar alguma nau de carreira que me levasse a Lisboa, para ser julgada...

Livro Errante: Melhores Leituras de 2020

Carta à Rainha Louca , Maria Valéria Rezende A Lebre Com Olhos de Âmbar , Edmund De Waal Homens Imprudentemente Poéticos , Valter Hugo Mãe O Pecado de Porto Negro , Norberto Morais A Sombra do Vento , Carlos Ruiz Zafón Em 2020  vários  livros circularam entre  18 leitores no grupo LivroErrante . No momento 41 exemplares estão sendo lidos e/ou em trânsito enviados de um leitor a outro pelos Correios.  Os livros acima ( em ordem alfabética) foram os que consideramos nossas melhores leituras.  À parte trago um livro excelente e recém lançado livro: À Meia Voz , de Ladyce West. Já li e recomendo. Vai circular no grupo LivroErrante no próximo ano.

Desafio do Facebook: 7 Livros em 7 Dias (5)

Rolando novamente  a brincadeira de publicar durante 7 dias seguidos a capa de um livro que eu tenha amado. É só por a capa, sem explicações, críticas nem nada.  A cada postagem convida alguém pra entrar na brincadeira.     Participei 3 vezes e como terminei hoje minha última rodada, achei por bem trazer para cá os últimos 7 livros que eu amei.   Livro 5: Carta à Rainha Louca, Maria Valéria Rezende Recolhimento da Conceição, escreve à rainha Maria I, conhecida como a Rainha Louca. Em suas cartas, ela, tida por muitos como também lunática, conta os destemperos cometidos pelos homens da Coroa – e por aqueles que galgaram tal posto – contra mulheres, escravizados e todos os que se encontravam mais vulneráveis. Por meio dos tormentos passados por ela e por sua senhora Blandina, nossa narradora expõe o pano de fundo da colonização brasileira e da situação da mulher que ousava desafiar. Com uma pesquisa histórica ímpar e usando o vocabulário ...

Para Fechar o Mês de Abril, Regina Porto

     Encerrando o mês de abril, deixo aqui minhas descobertas, sugestões e recomendações, vamos lá?          Por Que É Tão Dificil Ficar Com Você Mesmo , da jornalista Suzana Valença foi a postagem que mais gostei de fazer. Agora recolhidos em casa vamos ter de olhar melhor e mais seriamente pra nós mesmos. Isso pode ser rico ou assustador.  Pense a respeito ...      Recomendo a leitura   e sugiro o blog Como Conversar Com Seres Humanos , que eu achei bem interessante.         Também adorei conhecer uma autora nova indicada por uma amiga de grupo de leitura.  Está la na postagem do dia 3: Um Pedaço de Nós , de Natascha Duarte, vale conferir.      Assisti a 2 séries completamente diferentes que me agradaram muito: A Vida E A História de Madam.C.J. Walker com a brilhante atriz Octavia Spencer   e  Anne with E com Amybeth McNulty, ambas na Netf...

Maria Veléria Rezende, Uma Freira Escritora e Feminista.

   “Anote direitinho porque estou cega, mouca e fraca do juízo. Qualquer hora bato as botas”, brinca Maria Valéria Rezende.     Sobrinha-neta do poeta parnasiano Vicente de Carvalho, diz que uma de suas primeiras lembranças é a de escritores reunidos na casa de sua avó, em Santos, onde nasceu e foi criada. Aprendeu a ler sozinha, em francês. Estudou em um colégio de freiras e nunca pensou em se tornar escritora porque se encantou com as missões feitas pelas religiosas que eram suas professoras. Na faculdade, uniu-se a movimentos da juventude católica, conheceu a Teologia da Libertação e, em 1965, virou noviça. Faz parte da Congregação de Santo Agostinho, de religiosas educadoras de meninas e que não precisam usar hábito. “Quando éramos meninas, nos perguntavam se já tínhamos optado por ser freira ou por casar. Escolhi fazer os votos, que era muito mais divertido”, conta a irmã, entre uma baforada e outra de cigarro, hábito que mantém há 60 anos “...

2015, O Ano Feminino Na Literatura Brasileira

Prêmio Sesc de Litertura - 2015 Romance Sheyla Smanioto , 25 anos, é formada em Estudos Literários e mestra em Teoria e História Literária pela Unicamp. Publicou, em 2012, o livro de poemas "Dentro e folha", pelo coletivo Dulcineia Catadora   Desesterro é um romance feito de muitas vozes, de sonhos, de fotografias imaginadas, de uma menina sem nome e de uma avó cansada. Trata-se de uma história sobre metamorfoses feita de uma mulher com nossos destinos gravados na pele, de um homem com cães latindo dentro dele e de uma cidade faminta.  Conto:   Jornalista formada pela UFRJ e mestre em literatura pela PUC-Rio, a carioca Marta Barcellos trabalhou durante 18 anos em alguns dos principais jornais do país (O Globo, Gazeta Mercantil e Valor Econômico). Atualmente, é colunista da revista Capital Aberto e do site Digestivo Cultural. ...