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Mostrando postagens com o rótulo tristeza

Alma Penada, poema de Ladyce West

Alma penada Não cobri espelhos, não acendi velas Não recolhi fotos, não fiz orações, nem vigília ou velório. Não encaminhei sua alma Não chamei padre, rabino, pastor ou mulá. Não queimei incenso: pois você detestava; mas li para você uma poesia de adeus, de partida e voltei para casa, amortecida. Metade de mim, você levou. Impostora, a que ficou, vagou por aí. Davam-me por viva, imagine... Alma penada que sou. Em: Vozes do Luto: a dor de quem fica . Organização e Ediçao: Monique Machado, Rio de Janeiro, Do livro não me livro, 2024, pág. 132

Ensinando a Tristeza, Rubem Alves

Meus amigos, com a melhor das intenções, têm se queixado, dizendo que há muita tristeza no intervalo das coisas que escrevo. Essa observação mexeu comigo. Fez-me lembrar uma crônica que escrevi faz muito tempo. Era sobre a poeta Helena Kolody, que eu acabara de descobrir. Seus poemas não são alegres. São alegres-tristes. Dentre os escritos da Helena Kolody encontrei este mínimo poema: “Buscas ouro nativo entre a ganga da vida. Que esperança infinita no ilusório trabalho… Para cada pepita, quanto cascalho”. Gosto de ler as Escrituras Sagradas. Mas leio como quem garimpa ouro. Para se encontrar uma pequena pepita, quanto cascalho há de se jogar fora! Acho até que foi arte de Deus… Foi ele mesmo que misturou cascalho e pepitas, alegria e tristeza, pra separar os maus dos bons leitores. Os maus leitores não sabem separar as pepitas do cascalho… Nas minhas garimpagens pelas Escrituras Sagradas encontrei esta pepita: “Melhor é a tristeza que o riso. Porque com a tristeza do rosto se faz mel...

Minha Mãe, Jorge Mautner e Cesar Lacerda

Quando eu fico muito triste Eu pego a fotografia da minha mãe E aperto bem forte no meu peito Minhas mãos param de tremer Segurando a fotografia E meu coração bate mais forte Mas não é mais uma dor que eu sinto Eu me transformo Possuído de alegria que invade a mim E todo esse recinto E que não tem explicação E eu choro de alegria Rezando aos pés de Nossa Senhora Aparecida Minha mãe me deu a vida E sempre ela me dará a vida Minha mãe me deu a vida E sempre ela me dará a vida Mas não é mais uma dor que eu sinto Eu me transformo Possuído de alegria que invade a mim E todo esse recinto E que não tem explicação E eu choro de alegria Rezando aos pés de Nossa Senhora Aparecida Minha mãe me deu a vida E sempre ela me dará a vida Minha mãe me deu a vida E sempre ela me dará a vida Ouça aqui Album: A Pele do Futuro, Gal Costa (2018) Grav. Biscoito Fino. Imagem: Mauro,  www.magiadoaxe.com.br

A Mulher Esperando o Homem, Rubem Braga

           O tema de mulher esperando o homem há muito, muito tempo me fascina; sei que é velho, já serviu para sonetos, contos, páginas de romance, talvez quadro de pintura, talvez música. E eu que não sei fazer nada disso sou, entretanto, perseguido por histórias de mulher esperando homem, das mais banais às mais terríveis.       Agora mesmo, quando passou o aniversário da revolução húngara eu me lembrei que de todos os relatos, alguns são dolorosos, horríveis, de gente que fugiu da Hungria, havia o de uma mulher que contou com simplicidade sua história; e foi o que  mais me impressionou quando li ,de madrugada, no meu quarto de hotel em Nova York. O marido saíra para a revolução e lhe disse que ela não saísse de casa de maneira alguma,esperasse sua volta.  Chegou a noite e ele não veio; passou a noite inteira acordada, e ele não veio; no outro dia, entraram na rua  tanques russos atirando, e veio outra vez a noi...

Pastor Amoroso, Alberto Caeiro

O Pastor Amoroso Quando eu não te tinha  Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo...  Agora amo a Natureza  Como um monge calmo à Virgem Maria,  Religiosamente, a meu modo, como dantes,  Mas de outra maneira mais comovida e próxima.  Vejo melhor os rios quando vou contigo  Pelos campos até à beira dos rios;  Sentado a teu lado reparando nas nuvens  Reparo nelas melhor...  Tu não me tiraste a Natureza...  Tu não me mudaste a Natureza...  Trouxeste-me a Natureza para ao pé de mim.  Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,  Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,  Por tu me escolheres para te ter e te amar,  Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente  Sobre todas as cousas.  Não me arrependo do que fui outrora  Porque ainda o sou.  Só me arrependo de outrora te não ter amado.  II  Está alta no céu a lua e...