Há muito, arquiteturas corrompidas, Frustrados amarelos e o carmim De altas flores à noite se inclinaram Sobre o peixe cego de um jardim. Velavam o luar da madrugada Os panos do varal dependurados; Usávamos mordaças de metal Mas os lábios se abriam se beijados. Coados em noturna claridade, Na copa, os utensílios da cozinha Falavam duas vidas diferentes, Separando da vossa a vida minha. Meu pai tinha um cavalo e um chicote; No quintal dava pedra e tangerina; A noite devolvia o caçador Com a perna de pau, a carabina. Doou-me a pedra um dia o seu suplício. A carapaça dos besouros era dura Como a vida — contradição poética — Quando os assassinava por ternura. Um homem é, primeiro, o pranto, o sal, O mal, o fel, o sol, o mar — o homem. Só depois surge a sua infância-texto, Explicação das aves que o comem. Só depois antes aparece ao homem. A morte é antes, feroz lembrança Do que aconteceu, e nada mais Aconteceu; o resto é esperança. O que comigo se passou e pa...