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O Tridente, Luis Fernando Veríssimo

            Deu o que falar, na praia. Ele um homem maduro (ou"podre", como diria a mulher, quando pediu o divórcio), ela uma menininha. Mas como ele resistiria, se a primeira coisa que a menininha disse para ele foi: - Posso arruinar a sua vida? Não "quer me namorar?", ou "topas?" ou "tem horas aí, tio?", mas: - Posso arruinar a sua vida? Ele teve que pensar muito numa resposta, quase um minuto. No fim só disse: - Arruinar, como? E ela: - A escolha é sua. Paramos por aqui, ou continuamos. Você diz "não" e eu vou embora, ou você diz sim e eu arruíno a sua vida. Ele riu, tentando acertar o tom. Superior, condescendente, tipo "quié isso, garota, eu podia ser o seu pai". Mas saiu forçado. Ela tinha o quê? Dezessete anos. Talvez menos. O biquíni era daqueles amarradinhos do lado. -Arruína, como? - Ruína completa. Escândalo. Você sai de casa. Nós vamos morar juntos. Em um mês ou dois eu provavelmente deixo você. Você vai at...

Os Dois Segredos, Marcos Rodrigues

     As famílias costumam guardar segredos entre os mais velhos. Pode ser a inesperada riqueza de um primo, o sumiço de um tio ou o porquê de um pai silencioso. Às vezes, não se conta todo o segredo. Às vezes, os segredos se perdem. Outras vezes, não. Há os segredos leves. Mas há também os pesados. Graves.      Passei minha infância numa divertida rua de terra. As casas tinham muitas crianças e, porque sem saída, a rua era nossa. As meninas brincavam na calçada. Os meninos jogavam bola até o escurecer. Certo dia, um menino mudou para nossa rua. Branquelo do cabelo ruivo. Mal falava português. Assim conhecemos um judeu, ninguém sabia o que era um judeu. O menino foi se aproximando aos poucos. Era sorridente. Meio tímido, claro, mas se deu bem. Entrou para a turma em pouco tempo.      Descobrimos, com ele, os horrores de um campo de concentração. Não sabíamos o que era isso. Soubemos que a mãe dele escapara de um....